Cresce a presença de moradores de rua no Parque Municipal de BH

Simon Nascimento
10/01/2019 às 20:09.
Atualizado em 05/09/2021 às 15:58
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Patrimônio ambiental mais antigo de BH, o Parque Municipal, no Centro da cidade, tem se tornado palco de um drama social. Frequentadores do cartão-postal garantem que a presença de moradores de rua é crescente no local, considerado ponto estratégico. 

Na manhã de ontem, o Hoje em Dia contou 35 desabrigados em uma das principais áreas verdes da capital. No entanto, o número pode ser maior. Relatório feito pela prefeitura em maio de 2018 identificou que 242 sem-teto permanecem ou transitam pelo espaço.

Eles ficam deitados sobre os bancos ou na grama. Além do refúgio junto à natureza, se aproveitam de equipamentos disponíveis, como banheiro e bebedouro. A facilidade de deslocamento para abrigos noturnos ou restaurantes populares também contribui.

Alguns dizem ter moradia própria, mas problemas no relacionamento com os familiares impedem o convívio. “Minha esposa mora em Santa Luzia. Ano passado, quitamos nossa casa, mas fiquei desempregado. A gente brigou demais e decidi sair de lá”, contou o ex-metalúrgico Fernando Carlos da Silva, de 55 anos.

Ele vai ao parque diariamente, após deixar o abrigo municipal no bairro Floresta, Leste de BH. “Só volto para casa quando conseguir um emprego”.

Em um dos bancos da área verde, Daniel Borges, de 49 anos, contou que também vai ao local todos os dias, enquanto aguarda os horários das refeições no restaurante popular. No cartão-postal, ele relembra a infância em Patrocínio, no Alto Paranaíba. O homem chegou à metrópole em 2000.

As principais companhias, diz Daniel, são os jardineiros, o crack e a cachaça. “Esse é meu remédio. Com ele curo tudo”, garante o sem-teto, que vende produtos recicláveis recolhidos em lixeiras para sobreviver.

Até mesmo pessoas de outras nacionalidades podem ser vistas. O chileno Cláudio Menezes, de 48, está no Brasil há três anos, mas chegou a BH em 2018. Fabricante de colares e pulseiras, afirma aproveitar a sombra das árvores para ler jornais, enquanto aguarda que as poucas peças de roupa que possui sequem na grama. “Sou do mundo. Mês que vou para o Espírito Santo e depois para a Bahia”.Flávio TavaresChileno Cláudio Menezes coloca as poucas roupas que tem para secar no gramado do parque

Distintas

Entre os frequentadores do parque, opiniões divididas. “Faço caminhada todos os dias e percebo que desde o ano passado a presença deles está maior. Evito o contato porque tenho medo, sempre estão bebendo muito e já vi eles sendo agressivos com outras pessoas”, relata a aposentada Solena Amado Ladeira, de 62 anos.

Já Mauro Gusmão, de 69, garante que a situação não o incomoda. “Vejo eles descansando e percebo que são pessoas precisando de cuidado, atenção. Só emprego não adianta. É necessário acompanhamento médico, psicológico”, afirma.

A vendedora de pipoca Antônia Soares, de 68, trabalha no parque há duas décadas. Ela garante que, apesar da grande movimentação, os moradores de rua não interferem na rotina. “Eles ficam no canto deles, não mexem com ninguém. Torço muito para que consigam sair dessa condição. São pessoas boas”. 

Relatório

Na edição desta quinta-feira (10), o Hoje em Dia publicou um levantamento do Ministério do Desenvolvimento Social. O relatório aponta que Minas tem 14 mil moradores de rua atualmente – metade do grupo está nas ruas de BH. A prefeitura contesta o número e diz que são 4.553.

Desde abril de 2018, a Subsecretaria de Assistência Social, juntamente com a Fundação de Parques, atua no programa Conviver no Parque. A proposta visa a garantir o direito à proteção social dos que estão em situação de rua. A abordagem é feita semanalmente no entorno e dentro do cartão-postal, na tentativa de construir novos projetos de vida, preservar a integridade e a autonomia e promover ações para a reinserção familiar, dentre outras iniciativas. Em fevereiro estão previstas ações de qualificação para a ocupação no mercado de trabalho.

Já a Secretaria Municipal de Segurança e Prevenção diz que, nas abordagens da Guarda Municipal, não há distinção de pessoas. As ações ocorrem com “fundada suspeita de cometimento de algum delito”. A corporação também atua em apoio às equipes sociais durante as abordagens.

Leia mais:

  

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por