Cresce o número de ciclistas vítimas de acidentes de trânsito em BH

Letícia Alves - Hoje em Dia
01/12/2015 às 07:16.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:09
 (Wesley Rodrigues)

(Wesley Rodrigues)

Na contramão da redução dos atendimentos médicos a motoristas e pedestres, o número de ciclistas vítimas de acidentes de trânsito em Belo Horizonte aumentou 28,3% de janeiro a 7 de outubro deste ano, na comparação com o mesmo período de 2014. As estatísticas são da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), registradas no setor de traumas do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HSP).

A quantidade de motociclistas acidentados caiu 8,5% nos dez primeiros meses deste ano, em relação a 2014. A redução foi de 11% entre os condutores de carros de passeio e de 10,3% entre os de outros tipos de veículos, como ônibus e caminhões. O número de pedestres vítimas de acidentes reduziu 19,7%.

Consultor em transporte e trânsito, Silvestre de Andrade Filho considera o aumento uma consequência do estímulo ao uso das bicicletas. Ele avalia que não houve investimentos que acompanhassem o crescimento da frota na cidade. “Estamos longe de dizer que a cidade é amigável aos ciclistas”, disse.

Para Silvestre, além da falta de infraestrutura adequada, com ciclovias, ciclofaixas e sinalização, há uma falta de harmonia entre ciclistas e motoristas. “Precisamos de ciclistas mais bem educados e treinados. Também é necessário que os motoristas tenham essa visão e respeitem esse usuário da via”.

Sem equipamentos

A maior parte das vítimas de acidentes com bicicletas não é usuária frequente do meio de transporte, segundo o coordenador de plantão do HPS, Marcelo Lopes Ribeiro. “É quem pega a bicicleta de aluguel ou sai eventualmente para dar uma volta e não usa equipamentos de proteção, como luvas, cotoveleiras, sinalizador e capacete”.

Geralmente, os ciclistas são atropelados por carros e motos. “Está acontecendo de o motoqueiro invadir a ciclovia para furar o trânsito, quando acaba ocorrendo o acidente”, diz Ribeiro.

De acordo com Ribeiro, as lesões mais graves são de ciclistas que estavam em alta velocidade quando se acidentaram. Incluem traumas na mandíbula e nariz e fraturas expostas em membros inferiores.

Os acidentes com outros tipos de veículos, apesar da redução, são cada vez mais graves, ressaltou o coordenador do HPS. Ele atribui a queda nas estatísticas às campanhas educativas.

Conscientização

Em nota, a BHTrans informou que desenvolve ações educativas de conscientização junto aos motoristas para o respeito aos ciclistas, quando uma nova ciclovia é implantada.

Segundo a empresa que gerencia o trânsito da capital, são feitas vistorias e manutenção recorrente nas ciclovias, além de revisão nos projetos de algumas vias para aumentar a segurança de quem anda de bicicleta.

Atualmente, Belo Horizonte tem 70,4 quilômetros de ciclovias. A meta da BHTrans é expandir para 380quilômetros até 2020. Com isso, a previsão é a de que 6% dos deslocamentos na cidade sejam feitos de bicicleta.
 
Quem pedala reclama de estrutura precária e desrespeito
 
uem usa a bicicleta para deslocamentos diários na capital reclama da falta de infraestrutura e do desrespeito dos motoristas. Pesquisa da Associação dos Ciclistas Urbanos de BH (BH em Ciclo), feita neste ano, aponta que a maior parte dos ciclistas classifica como péssimas a extensão, manutenção e sinalização das ciclovias.

Em uma escala de um a dez, 43% dos entrevistados avaliaram com nota um a conexão entre as ciclovias. Quanto à manutenção, 74% deram nota de um a quatro. A segurança foi avaliada com no máximo quatro pontos por 66% dos entrevistados.

“A quantidade de ciclovias é pequena e não atende os fluxos de ligação com o sistema de transporte público”, afirmou o voluntário do BH em Ciclo Vinicius Mundim.

Segundo ele, a estrutura para andar de bicicleta melhorou a partir de 2009, mas ainda há muitas demandas, como a criação de bicicletários em repartições públicas, shoppings e outras edificações. “O horário em que é permitida a integração da bicicleta com os ônibus, metrô e o sistema Move também pode evoluir”, diz Mundim.

Alerta

O boddy piercer Rafael Ferreira, de 29 anos, há sete anos trocou o transporte coletivo pelo de duas rodas e sem motor. Para evitar acidentes, ele equipou a bicicleta com luz pisca-pisca e usa um apito para alertar os motoristas.

“Eles não respeitam a distância de segurança de 1,5 metro, sem falar na educação zero. Não dão seta antes de fazer conversões e ficam buzinando”, lamenta Ferreira.

Para o estudante de cinema Zenner Henriques de Almeida, de 19, o pior é a estrutura precária das ciclovias e ciclofaixas. “A maioria é curta e não liga nada. Não tem uma grande avenida com ciclovia adequada”, afirma. Ele usa a bicicleta diariamente nos deslocamentos para de casa para a faculdade e o trabalho.

 

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