Cresce procura por vacina contra Covid em clínicas particulares de BH mesmo sem disponibilidade

Luiz Augusto Barros (*)
luiz.junior@hojeemdia.com.br
14/01/2021 às 08:16.
Atualizado em 05/12/2021 às 03:55
 (HM Treasury/Fotos Publicas)

(HM Treasury/Fotos Publicas)

Clínicas particulares têm sofrido uma pressão em torno da vacina contra a Covid-19. Após a associação que representa o setor anunciar que negocia com um laboratório indiano, em meio à divulgação da eficácia das doses, a procura por uma proteção que sequer existe na rede privada explodiu. São dezenas de ligações por dia e até pedidos para entrar em lista de espera nos laboratórios da capital.

A ansiedade e o desespero para se ver blindado contra a doença altamente contagiosa e que já tirou a vida de 1,9 mil belo-horizontinos – em Minas são 12.894 óbitos – ajudam a explicar a situação, assim como a falta de informação e a desconfiança no plano nacional de imunização. Porém, muitos especialistas da área da saúde criticam a disponibilidade de uma vacina paga, pois poderia criar uma disputa paralela e desigual.

Em meio à polêmica, os telefones não param de tocar nas clínicas e laboratórios de BH. O Hoje em Dia fez contato com dez empresas. Em algumas, são mais de 30 ligações diárias buscando informações sobre a vacina. “Chegou ao ponto de quase todas serem de pessoas procurando saber sobre ela”, relatou uma atendente.

Não há previsão de quando as doses serão disponibilizadas na rede particular. Porém, a Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas acredita que a autorização do registro definitivo, pedido junto à Anvisa, deve ocorrer em fevereiro

Alguns funcionários contam que tem gente insistindo em lista de espera para garantir a dose. Mas apenas um local se disponibilizou a criar um banco de dados dos clientes. Em outro, o atendente disse: “ligue daqui um mês. Talvez teremos novidades”. A maioria não cria a falsa esperança, garantindo inexistir previsão.

Para o infectologista e membro do Comitê de Enfrentamento à Pandemia em BH, Estevão Urbano, a procura é um misto de desinformação e ansiedade. O médico não vê chances da vacinação na rede particular ocorrer ainda no primeiro semestre, pois as doses serão destinadas ao SUS.

“Toda vacina que chegar vai ser encaminhada ao poder público, que irá mandar para os estados e municípios. A partir do momento que houver uma sobra, chegará à rede privada”. 

Acordo

No Brasil, qualquer imunizante aplicado na rede privada também precisa de autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A liberação, no entanto, ainda não ocorreu nem para o SUS. 

Ontem, a Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (ABCVAC) confirmou acordo para adquirir 5 milhões de doses da Biotech, da Índia. “Deve ser a primeira disponível para o mercado privado brasileiro”, disse o presidente da ABCVAC Geraldo Barbosa, em entrevista à rádio CBN. As 200 clínicas associadas, que representam 70% do mercado nacional, terão prioridade.

Questionado sobre a possibilidade de algumas pessoas se beneficiarem com a vacina paga, ele disse que a intenção é complementar o sistema.
“Temos um mercado pagador, principalmente da indústria e das empresas prestadoras de serviço, que estão paradas e com a capacidade de produção reduzida. Poderíamos usar esse capital e recurso do mercado privado para colaborar com o governo, visto que esse público não está na lista de prioridade”, afirmou.

Palavra do especialista:

“Acho lamentável que exista uma corrida às clínicas particulares em busca de vacina contra a Covid-19, uma vez que a saída para esta crise é a saúde coletiva. O Plano Nacional de Imunização (PNI), que tem 47 anos de história e é um dos programas do SUS de maior impacto na saúde da população, sendo copiado no mundo todo, deve comprar pelo menos as duas vacinas a serem aprovadas e liberadas pela Anvisa: a de Oxford e a Coronavac (Butantan). Toda a produção ou importação dessas vacinas deve ser feita pelo governo brasileiro, para distribuição pelo PNI. Temos que centralizar nossa campanha no PNI. Devemos preservar os princípios do SUS de equidade e universalidade”, disse Unaí Tupinambás - Infectologista e membro do Comitê de Enfrentamento à Pandemia em BH.

(*) Com Luisana Gontijo

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