Cresce tensão em cidades que vivem à sombra de barragens

Ricardo Rodrigues, Iêva Tatiana e Janaína Oliveira - Hoje em Dia
11/11/2015 às 06:59.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:25
 (Arte HD)

(Arte HD)

O trágico acidente na mina do Germano, em Mariana, reacendeu o medo de muitos moradores de cidades mineradoras que vivem à sombra de barragens de rejeitos, semelhantes a que rompeu na última quinta-feira (5), causando mortes, danos ambientais e perdas ainda não mensuradas.

Os riscos com os quais têm de conviver no dia a dia fazem aumentar a preocupação de muitos habitantes. Em Congonhas, por exemplo, um bairro está a menos de 500 metros da barragem do complexo Casa de Pedra. Até o centro da cidade, são menos de 3 quilômetros de distância.

“Aqui não se fala em outra coisa, na rádio, na rua e no comércio. A tragédia em Mariana reacendeu a discussão, mas a verdade é que nunca deixamos de nos preocupar”, afirmou Sandoval Souza Pinto Filho, membro da União das Associações Comunitárias de Congonhas.

Até o ano passado, a CSN tinha planos de fazer um alteamento de 20 metros na barragem. Porém, o prefeito José de Freitas Cordeiro, o Zelinho (PSDB), se mostrou contrário. “Estudos mostram que, em caso de falha de barragem, haveria a morte imediata de 1.500 habitantes. É uma situação alarmante”, disse.

O prefeito preside a Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais (Amig). Na avaliação dele, é necessário revisar a legislação que regulamenta a implantação de barragens, de forma a proibir a construção de estruturas em áreas próximas a cidades.

Análise

Para o consultor de mineração e meio ambiente Vitor Feitosa, as empresas precisam encontrar locais mais apropriados para as barragens – normalmente, feitas ao lado das minas, como forma de redução de custos. “Isso certamente deveria ser considerado na análise do projeto e, depois, na análise econômica, verificando onde o risco de acidentes é menor. O que não é possível quando se tem uma vila residencial ou uma comunidade a poucos quilômetros, no caminho das barragens”, afirma Feitosa.

Em Itabirito, região Central, onde uma barragem de rejeitos se rompeu no ano passado e outra está localizada a poucos quilômetros de condomínios residenciais, o secretário municipal de Meio Ambiente, Antônio Marco Generoso, marcou uma reunião para hoje com vários órgãos, como Bombeiros, Defesa Civil e PM.

“Vamos passar as condições de todas as barragens e fazer um plano de ação para ser usado em caso de acidente. Depois, apresentaremos todos esses dados à população. Essa situação em Mariana preocupa muito”, alertou Generoso.

Imensidão

Em Itabira, na região Central, um conjunto de barragens ocupa uma área equivalente a um terço da malha urbana. E a principal delas está a poucos metros da cidade.

Segundo a prefeitura, a administração municipal está “plenamente preparada” para adotar medidas imediatas no caso de acidentes. “Mesmo antes da questão de Mariana, isso sempre foi levado muito a sério”, informou a assessoria de imprensa.

Além disso

Na terça-feira (10), o promotor de Justiça da Comarca de Congonhas, Vinicius Alcântara Galvão, disse que vai acionar as empresas mineradoras para que apresentem, em curto prazo, laudos que comprovem a segurança das barragens no entorno da cidade histórica. “Vamos enviar ofício às mineradoras”, disse. Galvão lembrou que, em 2013, foi celebrado um Termo de Ajustamento de Conduta com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), após perícia constatar irregularidades no conjunto de barragens do complexo Casa de Pedra. “Hoje Congonhas tem uma barragem mais segura do que antes. O MP fez o trabalho de fiscalizar e autuar, que teria de ser feito pelo órgão ambiental do Estado”, frisou. 

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