Crise da água em Minas: o preço do descaso

Alessandra Mendes - Hoje em Dia
24/01/2015 às 07:04.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:46
 (Carlos Rhienck)

(Carlos Rhienck)

A crise de abastecimento de água em Minas já estava anunciada desde 2011. O cenário de hoje poderia ter sido atenuado, caso as medidas necessárias tivessem sido tomadas.
Dados do Atlas Brasil, relatório feito pela Agência Nacional de Águas (ANA), mostraram que apenas 50% das sedes urbanas mineiras apresentaram abastecimento satisfatório até 2015. Para a outra metade, já eram previstos problemas na oferta de água. Seriam necessários investimentos de cerca de R$ 890 milhões em obras para evitar a crise. Ao que tudo indica, o alarde não foi tratado com a devida importância.
As intervenções apontadas pelo levantamento estavam relacionadas à adoção de novos mananciais para suprir a demanda de 30 municípios e a adequação de sistemas de produção já existentes para alimentar outras 394 cidades mineiras. Obras que já estavam previstas pelas companhias de abastecimento de água nas projeções de médio e longo prazos.
Com base no cruzamento de dados entre oferta e demanda, a ANA concluiu que algo deveria ser feito para evitar um cenário crítico. “Mesmo que não tivesse havido a seca tão intensa, que pegou a todos de surpresa, já havia a projeção de problema no abastecimento. Daria para se preparar melhor. E a situação poderia ser ainda pior se o crescimento populacional projetado no Atlas tivesse se confirmado”, explica a especialista em recursos hídricos da ANA, Elizabeth Juliatto.
Para ela, as empresas podem ter usado o aumento populacional abaixo do previsto para postergar obras de ampliação. “O setor percebe que o crescimento populacional não está se verificando como o Atlas mostrou, então resolve adiar as intervenções, achando que ia dar tempo. Mas o setor foi pego de surpresa com a menor oferta de água e não com a maior demanda”, afirma Elizabeth. Conforme a especialista, independentemente de qualquer coisa, a preparação para uma situação como a vivida hoje poderia ter sido mais eficaz.
Recursos
O alerta, amplamente divulgado há 4 anos, parece não ter surtido efeito nas prefeituras e autarquias que prestam serviços de saneamento em 21% dos municípios mineiros, onde os sistemas de abastecimento de água não são administrados pela Copasa. “Essas cidades investem apenas em manutenção do sistema. Elas não têm recursos para obras de grande porte em mananciais. Para isso, dependem de recursos estaduais e federais”, alega a vice-presidente da Associação Nacional de Serviços Municipais de Saneamento (Assemae), Tânia Duarte.
Mas os recursos também não chegam. Muitas vezes, por falha dos próprios municípios. “Para obter o recurso, as cidades precisam, conforme a lei, ter o plano municipal de saneamento. A maioria não tem. Não são feitos planejamentos e só quando o problema ocorre é que procuram resolver. A verdade é que se o Atlas tivesse sido levado mais a sério, a situação hoje seria menos crítica”, avalia Tânia.
A Copasa, companhia que administra o sistema de abastecimento de água de 71% dos municípios de Minas, foi procurada para falar sobre o assunto, mas até o fechamento dessa edição a empresa ainda não havia informado o quanto foi gasto em obras de abastecimento desde 2011 e quais foram as intervenções realizadas.
Na avaliação do especialista em mudanças climáticas, Milton Nogueira, houve descaso. “Tanto as empresas quanto a população poderiam ter feito algo diante do cenário já previsto. Não só com relação a obras em mananciais, mas também no que se refere à preservação de florestas e conservação de mata ciliar e solo. Não adianta fazer obra, se a água não estiver mais lá”, destaca.

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