Cuidados com saúde bucal de grávidas podem prevenir partos prematuros

Renata Galdino
03/06/2019 às 06:00.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:55
 (Pixabay)

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Consultas ao ginecologista durante a gestação fazem parte da rotina de qualquer grávida. O que muitas das futuras mamães desconhecem é que a ida ao dentista também é essencial para evitar problemas na saúde do bebê. Doenças bucais e a falta de higiene da mulher podem aumentar o risco de a criança nascer antes do tempo ideal e com baixo peso.

Artigo publicado recentemente na revista científica Community Dentistry and Oral Epidemiology, da Nova Zelândia, aponta que a periodontite (infecção dos tecidos que envolvem e sustentam o dente) dobra a chance do parto prematuro. “Não são todas pacientes que darão à luz antes das 37 semanas, mas existem duas vezes mais possibilidade de isso ocorrer entre as que têm o problema na boca”, explica o dentista Gabriel Politano, coordenador do Ateliê Oral Kids e membro do Departamento de Odontologia para Gestantes e Neonatos da Associação Brasileira de Odontopediatria (Aboped).

A periodontite é a evolução da gengivite (inflamação nas gengivas) mal tratada. Mais grave, a infecção não fica restrita à região bucal, mas é disseminada pela corrente sanguínea, contaminando todo o organismo. No útero, de acordo com Gabriel Politano, a infecção que começou na gengiva estimula o sistema imunológico a produzir prostaglandina que, ao mesmo tempo que combate a bactéria, acelera o parto. Para se ter uma ideia, medicamentos com a versão sintética da substância provocam a expulsão de feto morto da barriga da mulher.

No período

Mesmo quem não manifesta periodontite antes da gravidez pode ser surpreendida com sangramentos na boca nos nove meses após a concepção. Isso acontece porque, na gestação, há alterações hormonais que favorecem a piora do quadro infeccioso, ressalta o cirurgião dentista Adalberto Rosa Pires Junior, mestre em periodontia.

Enquanto aguardava a chegada de Leonardo, hoje com três meses, a webdesigner Janna Palma Waisman, de 35 anos, percebeu sangue na gengiva durante as escovações. Sem perder tempo, procurou um profissional. Ela foi informada que a situação era decorrente da quantidade de hormônios liberada na gestação. Orientada sobre os procedimentos a serem adotados, continuou com a higiene bucal e o uso do fio dental. “Meu filho nasceu com nove meses, não foi afetado, até mesmo por causa da busca por atendimento”, diz Janna.

Prevenção

O recomendável é que a futura mamãe se antecipe a problemas. “O ideal é fazer a avaliação bucal antes de engravidar, pois o tratamento é bem restrito. Há certas anestesias, por exemplo, que não podem ser aplicadas na gestante”, explica Adalberto Junior, que também é professor da pós-graduação em odontologia da Faculdades Unidas do Norte de Minas (Funorte).

Geralmente, é feita a remoção da placa bacteriana, no procedimento chamado raspagem. Por conta do avanço tecnológico, cirurgias dentárias ocorrem cada vez menos. “É muito mais fácil prevenir. A ida regular ao dentista é o mais acertado para diagnosticar a infecção, que é silenciosa e sem dor. Essa condição é a que mais causa perda de dentes e, dependendo do caso, é irreversível”, frisa o especialista.

Após o nascimento

O acompanhamento bucal do prematuro deve ser realizado o quanto antes, diz Gabriel Politano, pois a criança pode apresentar má formação do dente de leite. “Ela deveria ter ficado mais tempo no útero”. Com a falta de calcificação, o dente tende a ser mais sensível por estar desprotegido. Dependendo da situação, é feita uma restauração para proteger a estrutura. “Preferimos evitar. Por isso a necessidade da prevenção”, reforça.

Nascimento precoce pode levar à morte da criança

Bebês prematuros precisam de tratamento especializado, já logo após o nascimento, para sobreviver. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) indicam que, no Brasil, a prevalência de partos antes das 37 semanas chega a 11%, o que coloca o país na décima posição entre as nações com mais registros do tipo. Essas crianças correm mais risco de morte, principalmente no primeiro mês de vida. Coordenador médico da Maternidade Hilda Brandão, da Santa Casa de BH, Francisco Lírio Ramos Filho ressalta que quanto mais cedo nascer, mais grave é o quadro. Por isso, o pré-natal é fundamental.

“O Ministério da Saúde recomenda pelo menos seis consultas. Porém, no Brasil, esse comportamento deixa a desejar. Existe grávida que acredita que se está tudo bem, não é preciso ir ao médico, mas o acompanhamento é importante até mesmo para saber se há algum problema que ela ainda não saiba”, alerta Francisco, que é diretor de Ações Sociais da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig).

Antes da gravidez

Qualquer infecção pode predispor a gestante à prematuridade. Dentre as mais comuns, a urinária e o corrimento vaginal.O ideal é que a assistência comece antes da gravidez, diz o médico, para saber se a saúde dela está preparada. A partir da concepção, exames de rotina serão pedidos pelo ginecologista a cada três meses.

Com os testes é possível, por exemplo, rastrear doenças como sífilis e avaliar a possibilidade de toxoplasmose. O objetivo é reduzir tanto as complicações para a mãe quanto para o feto. “Os bebês também podem ter problemas respiratórios, oftalmológicos e neurológicos, dentre outros, ao longo da vida”, acrescenta Francisco Lírio.

Segundo ele, os prematuros ficam internados ao menos 48 horas. Os que nasceram com menos de 28 semanas de gestação chegam a permanecer na unidade de saúde até por semanas. Geralmente, com 1,2 quilo, essas crianças só recebem alta quando ganham, no mínimo, 600 gramas no peso.
 

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