Descoberta de zika em macacos lança alerta para possíveis epidemias

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
30/10/2018 às 20:44.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:31
 (Rafael Neddermeyer / Fotos Públicas)

(Rafael Neddermeyer / Fotos Públicas)

A descoberta do vírus da zika em carcaças de macacos mortos em Belo Horizonte e São Paulo pode indicar o início do ciclo silvestre da doença nas Américas. A hipótese levantada por um estudo recente é de que um movimento de migração para hospedeiros que vivem em matas possa ter acontecido de forma definitiva, o que coloca em alerta a comunidade científica. 

O principal impacto, caso a pesquisa seja comprovada, é que o vírus passa a ter espaço garantido na natureza, ou seja, não há mais como erradicá-lo. Assim, como acontece com a febre amarela, a possibilidade de epidemias urbanas se torna maior. 

Até então, o ciclo silvestre da zika existia apenas no continente africano e, fora de lá, só circulava entre humanos. De acordo com o autor do estudo e presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), Maurício Lacerda Nogueira, a presença do vírus em macacos não era conclusiva no Brasil.

“A frequência de novas epidemias é algo que ainda não podemos prever, mas é importante que as vacinas em desenvolvimento estejam prontas o mais rápido possível”, alerta o pesquisador.

“A frequência de novas epidemias é algo que ainda não podemos prever, mas é importante que as vacinas estejam prontas o mais rápido possível” (Maurício Lacerda Nogueira, pesquisador)

Dificuldades

A ausência de imunização torna ainda mais difícil o combate já que, por enquanto, a única maneira de lutar contra a enfermidade é eliminando o vetor. 

Virologista e professor da UFMG, Flávio Guimarães da Fonseca explica que só com o tempo será possível mensurar o tamanho do problema. “A dengue também fez o mesmo movimento, mas não conseguiu uma adaptação completa na natureza. Esse estudo indica que a zika pode circular no ambiente silvestre, mas só no futuro saberemos se ela vai se manter”, pondera. 

O docente ressalta que a criação da vacina contra a zika pode estar próxima, devido à baixa complexidade na comparação com outras doenças semelhantes. “Talvez, fique pronta no horizonte de cinco anos”, estima.

Casos

Minas registrou, de janeiro a outubro, 164 casos prováveis de zika, segundo levantamento da Secretaria de Estado de Saúde (SES). Em 2017, foram 718 registros e, em 2016, 13.257. Por nota, a pasta informou que, “como se trata de uma pesquisa preliminar, ainda não é possível delimitar ações específicas relacionadas a seus possíveis resultados”.

Em Belo Horizonte, apenas três pessoas tiveram a doença em 2018, contra 23 no ano passado. O subsecretário de Saúde do município, Fabiano Pimenta, disse ser precipitado adotar qualquer medida já que o estudo sobre a zika ainda carece de outras comprovações.

“A incidência de casos é baixíssima e uma mudança nas ações de saúde pública demandariam mais evidências. O que procuramos é tentar manter reduzido os índices dos mosquitos transmissores”, frisou.

  

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