Destroços encontrados em Valadares podem ser de avião desaparecido há quatro anos

Ana Lúcia Gonçalves - Hoje em Dia
13/10/2015 às 17:21.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:02
 (Leonardo Morais)

(Leonardo Morais)

O baixo nível do rio Doce em Governador Valadares, Leste do Estado, mostrou mais que pedras e o fundo arenoso do manancial, na manhã desta terça-feira (13). Pescadores encontraram o avião que caiu dentro dele na noite de 24 fevereiro de 2011 e não foi encontrado nem mesmo pelos bombeiros durante quatro dias de buscas. O piloto estava sozinho e saiu  ileso.

“Pra mim essa história não passava de boato, uma lenda, mas ele existe”, brinca o lapidário Washington Luiz Nazaré, de 51 anos que aproveitava as últimas horas do feriadão pescando com um amigo próximo à ponte do bairro São Raimundo quando viu as duas rodas da aeronave para fora da água, no final da tarde desta segunda-feira (12). Lembrou logo do acidente mas preferiu voltar ao local hoje cedo (13) para conferir.

Só depois disso chamou os bombeiros. O “achado” atraiu curiosos. A causa do acidente foi relatada como pane seca. A aeronave (Piper Aircraft) matrícula PT - ITI e Modelo PA-28R-200 deverá continuar dentro do rio Doce, pelo menos até que os proprietários ou responsáveis requeiram a sua remoção. Ela pertencia ao empresário valadarense José Carlos Araújo que morreu dia 21 de agosto deste ano, vítima de câncer.

Os bombeiros informaram que, como não há vítimas e nem interesse público na remoção da aeronave, eles só entrarão no caso mediante pedido de algum órgão público ou pagamento de taxa pelos proprietários.

FAB

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) informou, por meio de nota, que a aeronave que caiu no rio Doce em 24 de fevereiro de 2011 e a encontrada nesta terça-feira (13), na mesma região, são acidentes/aeronaves diferentes.

Mas que investigadores do Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA 3) virão à Valadares nesta quarta-feira (14) coletar evidências para análise. Os bombeiros de Valadares, no entanto, asseguram que é a mesma aeronave.

Tragédia

Um filho do empresário, João Paulo Gomes de Araújo, de 26 anos, era passageiro da aeronave que desapareceu depois de sair de Ubaporanga, no Leste de Minas, na terça-feira (6). Ela foi encontrada no último dia 9 e os corpos resgatados no dia seguinte (10) na Serra do Caraça. A aeronave que matou o herdeiro de José Carlos Araujo era pilotada por Fausto Mesquita, que também morreu.

Acidente

De acordo com os bombeiros, relatório enviado pela Força Aérea Brasileira (FAB) em fevereiro deste ano relata que a aeronave decolou do Aeródromo de Nanuque com destino ao aeroporto de Governador Valadares com um tripulante a bordo, para um voo de translado. Próximo a Valadares o motor parou de funcionar e o piloto decidiu pousar no rio que corta a cidade.

A aeronave ficou totalmente submersa e o piloto Rafael Ventura Paiva, de 24 anos, saiu ileso. A causa mais provável teria sido a falta de combustível. De acordo com o relatório enviado pelo órgão aos bombeiros, o piloto realizou um abastecimento em Três Marias, adicionando mais vinte litros de combustível, o que acrescentaria mais uma hora de autonomia.

Considerando que a duração desse voo totalizara 5 horas e que havia sido abastecido, ao todo, o equivalente a cinco horas e trinta minutos de autonomia, sobraram, como remanescentes, apenas de 30 minutos de voo. No mesmo dia e sem reabastecer, houve a decolagem para Valadares, cujo tempo de voo previsto era de uma hora.

O piloto declarou que conferiu as quantidades de combustível pelo liquidômetro da aeronave antes da decolagem. O instrumento indicava que havia menos da metade da capacidade dos tanques de combustível (abaixo de meio tanque). Com isso, estimou haver cerca de duas horas de autonomia.

Como a etapa até o destino estava estimada em uma hora, o piloto acreditou que havia combustível suficiente para a realização do voo. Entretanto, no nivelamento, as marcações passaram a indicar abaixo de 1/4 de tanque, o que representaria menos de uma hora de voo.

O piloto declarou que tentou contato com o aeródromo de Teófilo Otoni, a fim de solicitar que as luzes de balizamento fossem ligadas, porém, não obteve sucesso. Julgou então que retornar a Nanuque não seria prudente, pois, havia decolado próximo do horário do pôr do sol e a pista não possuía balizamento.

O piloto então decidiu continuar a navegação até o destino, subindo mais e reduzindo o regime de mistura ao mínimo possível. O motor da aeronave parou de funcionar quando restavam 7 minutos para o pouso. O piloto decidiu prosseguir para um pouso de emergência numa avenida da cidade (JK) paralela à pista do aeroporto, mas, devido ao trânsito de pessoas e veículos, prosseguiu para o pouso forçado no Rio Doce.

O piloto declarou à FAB que não houve falha ou mau funcionamento de qualquer sistema da aeronave, informando que a parada do motor em voo foi, exclusivamente, pela falta de combustível nos tanques.

Ainda conforme o relatorio, o piloto estava com o Certificado de Habilitação Técnica (CHT) válido; era qualificado e possuía cerca de 650 horas de voo, sendo 70 no modelo da aeronave. A aeronave estava com o Certificado de Aeronavegabilidade (CA) válido e com as escriturações das cadernetas de célula, motor e hélice atualizadas.

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