Detran de Minas ignora baixo índice de aprovação e não fiscaliza autoescolas

Raquel Ramos - Hoje em Dia
26/01/2015 às 09:42.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:47
 (Eugênio Moraes/Arquivo)

(Eugênio Moraes/Arquivo)

Nunca foi tão difícil conquistar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) em BH. A prova está nos números do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG) que mostram que, em 2014, a média de aprovação nos exames de rua realizados na capital foi de 27,6%. Em 2007, último ano em que o órgão disponibiliza dados da prova, o percentual era de 38%.

Índices tão baixos trazem à tona uma antiga discussão sobre o processo para se tirar uma carteira – da legislação ao serviço oferecido pelas autoescolas, bem como o modelo de teste adotado. Pela resolução 358 do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), os centros de formação de condutores (CFCs) devem apresentar taxas de aprovação iguais ou superiores a 60% na hora de renovar o credenciamento.

Caso não alcancem a meta, cabe ao Detran solicitar ao diretor de ensino da instituição uma proposta de planejamento para sanar possíveis deficiências no processo pedagógico. Persistindo o problema, os profissionais devem passar por uma reciclagem.

Ouça a entrevista com o professor de engenharia de transportes e trânsito da Universidade Fumec, Márcio Aguiar, para a rádio 102,9 FM: </center>

Embora a regra vigore desde 2011, nunca foi cumprida na capital. Das 288 escolas que existem na cidade, apenas seis conseguiram atingir a média de aprovação no ano passado. O desempenho delas, porém, sequer pode ser comemorado: são instituições novas que capacitaram apenas um ou dois candidatos para o teste de direção.

As 282 restantes não passaram por nenhum tipo de supervisão para melhorar a performance dos alunos nos exames de rua. Responsável pela ação, o Detran não se manifestou sobre o assunto.

 

 


Falhas

“Se não conseguimos chegar próximo da taxa estipulada pelo Denatran, é sinal de que existe uma deficiência muito grave que precisa ser corrigida”, afirma Márcio Aguiar, professor de engenharia de transportes e trânsito da Universidade Fumec.

Para ele, é necessário fiscalizar as autoescolas que apresentam altos índices de reprovação, até mesmo para evitar que haja interesses financeiros por trás de tantas reprovações.

Além disso, acrescenta o especialista, os centros devem renovar os métodos de ensino. “A fórmula para ensinar uma pessoa a dirigir é praticamente a mesma de décadas atrás. E o aluno não sai das aulas pronto para encarar a rua. Ele é treinado para realizar o exame”, aponta.

Presidente do Sindicato dos Proprietários dos Centros de Formação de Condutores de Minas, Rodrigo Fabiano da Silva, até reconhece a necessidade de investir mais em capacitação dos instrutores. No entanto, ressalta, esse está longe de ser o principal problema.

De acordo com Rodrigo, a implementação do cone para a manobra de baliza, em 2009, só piorou o desempenho dos alunos. E embora a carga horária obrigatória de aulas tenha aumentado recentemente de 20 para 25 horas, ele diz que o tempo é curso para preparar uma pessoa para o teste.

“O legislador não nos dá condições de desenvolver um trabalho correto e coerente, que garanta uma formação atualizada para os futuros condutores”.

 

Reciclagem resulta em bom desempenho na legislação

Embora o maior índice de bombas seja nos exames de rua, há muitos candidatos que também não conseguem se sair bem na prova teórica do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran). A média de reprovação entre os que tentam tirar a primeira habilitação em Minas Gerais é de 36%, informou Maria Cecília Lopes de Abreu, coordenadora de educação de trânsito do órgão.

“A média está abaixo do que é estipulado pelo Denatran (Departamento Nacional de Trânsito). Ainda temos um caminho longo a percorrer”, admite.

Mas se nada é feito para pressionar as autoescolas a melhorar o desempenho nos testes práticas, o mesmo não pode ser dito sobre a prova de legislação. Desde o ano passado, profissionais dos Centros de Formação de Condutores (CFCs) que apresentaram os piores resultados passam por uma espécie de reciclagem.

“As aulas são semipresenciais e têm duração de dois meses. Nesse tempo, 1,2 mil pessoas, de 300 escolas, aprendem novas técnicas de ensino”. Ao fim do curso, instrutores e diretores de ensino são submetidos a uma prova. São aprovados os que tiram notas superiores a 70%.

A ação surtiu resultados, garante Maria Cecília. No último levantamento realizado pelo Detran, apenas duas autoescolas que já tinham passado pela capacitação tiveram que ser chamadas, mais uma vez, para repetir o treinamento. “A repercussão foi tão boa que alguns CFCs estão pedindo para fazer o curso, mesmo que já tenham altas médias de aprovação”, destaca.

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