Do metrô à BMW, da beira do Arrudas ao Alto Santa Lúcia: impressões de um repórter no Carnaval de BH

Alexandre Simões
@oalexsimoes
22/02/2020 às 19:39.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:43
 (Riva Moreira)

(Riva Moreira)

O primeiro dia do Carnaval de Belo Horizonte foi a prova de que a maior festa de rua da história da cidade, pois são previstos cinco milhões de foliões em todos os desfiles, começou com a marca da democracia. Esta foi a certeza após passar a tarde cobrindo dois blocos marcados pelos extremos.

O alto tempo de espera, de táxi ou carro de aplicativo, somado ao trânsito caótico em direção à Zona Leste da capital, faziam do metrô a maneira mais racional para se chegar ao Volta Belchior, que se concentrava às 12h no cruzamento entre as avenidas Andradas e Silviano Brandão.Riva MoreiraO Volta Belchior, bloco ligado aos movimentos de esquerda da capital, fez seu desfile na avenida dos Andradas, na Zona Leste de Belo Horizonte

Na estação Carlos Prates já se vivia o Carnaval com muita gente fantasiada. Quando a composição chegou, veio a certeza de que o metrô, embora ainda com uma cobertura ineficiente em Belo Horizonte, é o meio de transporte da folia.

Na avenida dos Andradas, numa das margens do Ribeirão Arrudas, a faixa “com o fascismo não se brinca”, esticada na lateral do caminhão, abaixo de uma grande bandeira com o rosto do cantor Belchior e a frase: “amar para mudar as coisas”, e a corda que cercava o veículo sendo conduzida só por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), ilustrava bem o perfil do bloco.

E assim saiu o Volta Belchior, arrastando uma multidão que a todo momento gritava palavras de ordem contra políticos da extrema direita. A bandeira contra o preconceito marcava o ritmo da Alucinação que tinha como ordem maior parar de tocar caso fosse desrespeitada a regra de que: “NÃO É NÃO”.

Extremo

Às 14h, quando o Volta Belchior começava seu desfile pela Andradas, com certeza provocando inveja ou arrependimento nos internos e presas que estavam na margem oposta do Arrudas, num centro de reeducação para menores e num presídio feminino, no outro lado da cidade, na Zona Sul, começava a se concentrar o De Seu Bento a Dona Lúcia, bloco basicamente de moradores do São Bento e Santa Lúcia.Alexandre SimõesO De Seu Bento a Dona Lúcia fez um desfile descontraído pelas ruas da Zona Sul de Belo Horizonte com muitas marchinhas e com um público formado basicamente por famílias da região

O discurso político não estava presente. A camisa cheia de patrocinadores nas costas contrastava com o pedido para que as pessoas participassem de uma vaquinha virtual ou comprassem a camiseta do Volta Belchior para ajudar no desfile. O máximo de menção ao poder público no Alto Santa Lúcia era quando os puxadores do bloco se posicionavam sobre algum buraco da rua Halley para impedir que alguém pudesse se machucar.

E avisavam no microfone de que estavam ali pois a rua ainda não tinha sido recuperada após os estragos provocados pelas fortes chuvas das últimas semanas.

Sim, a chuva que transbordou o Arrudas e alagou as periferias também castigou o São Bento e o Santa Lúcia. Mas este não era o único ponto comum entre os dois extremos da cidade neste primeiro dia de folia.

A alegria mostrava que o Carnaval de rua de Belo Horizonte está consolidado. E que a festa é a maior manifestação democrática que a cidade tem. Independentemente da posição política, do padrão de vida, a partir deste sábado, a capital tem foliões.

E como nunca tudo é perfeito, tem também alguns motoristas imprudentes. Como o da BMW que quase me atropelou saindo de uma farmácia enquanto eu descia a rua Halley para ficar num ponto mais fácil para chamar um carro de aplicativo.

O dia que começou com viagem num metrô lotado quase termina com um atropelamento por BMW. Nada ilustra melhor os contrastes de um Carnaval que tomou a capital de Minas Gerais.

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