Doação de órgãos cresce, mas fila de espera é longa

Malú Damázio
26/09/2019 às 20:18.
Atualizado em 05/09/2021 às 21:57
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Perto de bater o recorde histórico de transplantes ao ano, Minas tem 1.535 pessoas que já receberam doações de órgãos ou tecidos em 2019. No entanto, a fila de espera está longe de ser zerada. Quatro mil pacientes aguardam pelo procedimento. A maioria foi obrigada a trocar trabalho, lazer, relações sociais e afetivas por leitos hospitalares.

“Há 35 mil pessoas no Brasil com uma vida muito incapacitante, internados o tempo todo porque os órgãos não funcionam mais como deveriam. Só a doação pode reverter esse quadro”, afirma o coordenador do MG Transplantes, Omar Lopes Cançado Júnior. Atualmente, as principais cirurgias são as de rins, córnea e medula óssea.

Conforme Omar, as operações no Estado cresceram 30% no primeiro semestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2018. No entanto, a resistência das famílias em autorizar a cessão é o principal desafio a ser vencido. A recusa dos parentes de quem teve morte encefálica é de aproximadamente 40%. 

É celebrado nesta sexta-feira (27) o Dia Nacional da Doação de Órgãos e Tecidos. Até o momento, Minas tem 13 doações para cada milhão de habitantes. Em 2013 e 2014, a média foi de 12 procedimentos para cada milhão de pessoas

Desconhecimento

Professor da Faculdade de Medicina da UFMG e coordenador do Transplante Cardíaco do Hospital das Clínicas (HC), Renato Bráulio ressalta ser preciso desmistificar os efeitos da doação no corpo de quem morre.

“Muita gente acha que vai ficar desfigurado, cheio de buracos. De forma alguma isso acontece, são colocadas próteses e o cadáver pode ser velado e enterrado normalmente”, diz. Ele lembra que, com os órgãos de uma única pessoa, é possível salvar pelo menos oito pacientes. MAURÍCIO VIEIRA

Tiago, que recebeu recentemente um novo coração, e o médico Renato Bráulio

O gesto transforma vidas como a de Tiago Bispo dos Santos, de 41 anos, que passou quase três meses internado no Centro de Terapia Intensiva (CTI) esperando por um coração. Sem mal conseguir andar e conversar, vivia à base de remédios e monitoramento constante. “Os enfermeiros ficam o tempo todo brincando conosco e nos colocando para cima, mas é uma situação angustiante quando você está aguardando”, conta.

Quem também passou pelo procedimento, há seis meses, foi o fiscal Edson Luiz Valadares, de 53 anos. O coração dele estava bastante prejudicado devido a uma isquemia múltipla. Ele não conhece a família que o deu a nova chance, mas se diz muito grato. Antes, não conseguia fazer qualquer esforço físico e a doença acabou reduzindo o contato com a filha, de 6 anos.

“Eu me sentia incapaz e muito fraco, não conseguia nem brincar com ela, me escondia no banheiro e chorava por isso. Hoje tenho mais fôlego, não canso tanto e podemos estar juntos. Meu coração está indo muito bem”, afirma.

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