Documentos indicam que tragédia da Vale em Brumadinho foi crime, diz Ministério Público

Bruno Inácio
15/02/2019 às 19:04.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:34
 (MPMG/Divulgação)

(MPMG/Divulgação)

Pela primeira vez, a promotoria que investiga as responsabilidades criminais da tragédia da Vale, em Brumadinho, na Grande BH, afirma que o rompimento da barragem não foi um acidente, e sim um crime. A afirmação leva em conta troca de e-mails e mensagens entre executivos da mineradora e da Tüv Süd, em que conclui-se que as empresas sabiam dos problemas nas barragens.

Nesta sexta-feira (15), uma força-tarefa cumpriu 14 mandados de busca e apreensão em Minas, São Paulo e Rio de Janeiro. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte foram presos oito funcionários da Vale. Na capital paulista foram feitas buscas em casas de funcionários da Vale e, no Rio, foram vasculhados materiais na sede da mineradora.

Segundo o promotor Willian Garcia Pinto Coelho, que coordena a força-tarefa, são investigados crimes ambientais e de homicídio doloso. Além disso, são apurados crimes de falsidade ideológica, já que os elementos de prova colhidos mostram que houve fraude nos laudos de estabilidade das barragens do Complexo Minerário do Córrego do Feijão, palco da tragédia.

"Foi analisado um volume enorme de equipamentos e dentro desses equipamentos foram encontrados diversos elementos de prova que demonstram, de forma muito convincente, que não foi um acidente. Que funcionarários da empresa Vale e funcionários da empresa Tüv Süd  tiveram informações que demostravam o estado crítico da barragem B1, de forma que eles assumiram o risco do resultado morte de centenas de pessoas", afirmou Coelho.

A forma como as informações sobre o risco nas estruturas da barragem foi compartilhada e quem fez parte de algum esquema, se é que ele houve, ainda está sendo investigado pela força-tarefa. Por enquanto, é possível afirmar, apenas, que houve um conluio para maquear as informações em prol de contratos futuros e que funcionários de gerência sabiam da situação crítica das estruturas.

O delegado Bruno Tasca, da Polícia Civil, informou que duas oitivas foram realizadas nesta tarde e chegou a conclusão de que a tragédia poderia ter sido evitada. "A barragem já vinha apresentando sinais de ruptura e elas (as pessoas ouvidas) nas suas atribuições, poderiam muito bem intervir nas suas competências, atribuições internas", afirmou.

Segundo o promotor Willian Garcia Pinto Coelho, as duas pessoas ouvidas hoje foram a responsável técnica pela barragem, Cristina Malheiros, e o funcionário da Vale, Felipe Rocha. O promotor informou também que uma sequência de e-mails foi mapeada, dentre funcionários da Tüv Süd, que demonstram supostas fraudes.

"Nessa sequência de e-mails, que virão a público em breve, percebe-se uma intensa articulação. Um grande esforço pra torturar os números de forma que a situação crítica da barragem não refletisse numa situação negativa de estabilidade", afirmou.
Apesar dos indícios, a promotoria diz não ser possível afirmar que o presidente da Vale sabia do esquema, mas há uma linha de investigação no sentido de que os funcionários foram pressionados para não informar a verdade.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por