Dramas vividos por mineiros servem de inspiração para quem quer se reinventar

Malú Damázio
04/01/2019 às 21:37.
Atualizado em 05/09/2021 às 15:53
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Ano novo, vida nova. A máxima tão comum nesta época nem sempre é seguida à risca por quem planeja se reinventar. Porém, para os que passam por situações extremas, nas quais a própria vida está em jogo, as mudanças são inevitáveis. É o que contam mineiros envolvidos em tragédias e situações dramáticas em 2018. Após superar as adversidades, eles seguiram em frente, deixando mensagens de autocontrole, persistência, superação e fé.

Para alguns, os traumas provocam marcas profundas, mas também eternos aprendizados. É o caso do estudante Eduardo Gomes Moraes, de 35 anos. Único sobrevivente da tromba d’água que atingiu uma cachoeira no Sul de Minas, deixando cinco mortos em dezembro, o jovem ainda se recupera do susto. 

Durante a chuva, ele se escondeu em uma gruta, escalou um penhasco de 20 metros e depois caminhou em matas por quatro dias em busca de socorro e abrigo. “Fiquei com medo de morrer, mas criei forças porque pensava em Deus e na minha família. Não desisti”, conta. 

Eduardo diz se sentir renovado para recomeçar a vida. “É um momento de renascimento e muito aprendizado. Além de tudo, ganhei uma segunda família ao ser acolhido pelo senhor Odair, dono da fazenda onde fui encontrado. Espero que 2019 traga uma experiência de fé para todos”. 

Além da crença, o que impulsiona as pessoas a lutar é o instinto de sobrevivência, como explica a médica e psicanalista Soraya Hissa de Carvalho. “Ele nos acompanha em momentos que nos sentimos em perigo ou com chance de perder a vida. Isso que nos motiva também a pedir socorro”.

A superação do trauma, acrescenta a especialista, demanda ajuda profissional e familiar. “Nós temos essa pulsão pela vida e é importante que as pessoas próximas possam nos estender as mãos em um momento fragilizado”, reforça.Andreza Moraes/DivulgaçãoApós tromba d’água, Eduardo se apegou à fé para sobreviver no meio de uma mata

Relações próximas

Estar mais próximo dos parentes é uma das metas nesta virada de ano do motociclista e gerente administrativo Ivan Rodrigues Oliveira, de 25 anos. Em junho, ele quase morreu ao ter o pescoço atingido por uma linha de pipa com cerol enquanto seguia para trabalho de moto, sem as antenas de proteção levantadas. O corte foi profundo e o deixou internado em estado gravíssimo.

Ao perceber que o material cortante havia atingido o pescoço, Ivan conseguiu arrancá-lo com as próprias mãos, enquanto ainda pilotava, na avenida dos Andradas, na capital. O susto maior veio quando desceu do veículo e tirou o capacete: “começou a esguichar sangue e eu tossia muito. Fiquei engasgado, mas tentei manter a calma, tirar minha camisa e amarrá-la no pescoço”, diz.

O socorro veio rápido com a ajuda de agentes da Guarda Municipal, que o levaram para o Hospital João XXIII. Menos de uma semana depois, o gerente já havia recebido alta. Para ele, a ajuda dos guardas e a presença da família e dos amigos foram essenciais para a boa e rápida recuperação.
Agora, Ivan só anda com antena levantada e, para 2019, deixa um conselho: valorizar cada momento com as pessoas amadas. “Os mais próximos de mim pararam tudo para me ajudar, se mobilizaram”, lembra.Arquivo PessoalNorma e a filha Ana Letícia; ela seguiu firme na busca por realizar o sonho da maternidade

A procuradora de Itabira, na região Central, Norma Maria de Oliveira, não esteve entre a vida e a morte, mas tomou uma decisão que contrariou as expectativas de muitos que a conheciam. Em 2018, ela se tornou mãe aos 64 anos. Não faltaram críticas à escolha da maternidade devido à idade, mas Norma quis seguir adiante com a gravidez – possível por meio da fertilização in vitro.

“Quando consegui engravidar, muitas pessoas fizeram comentários machistas dizendo que eu era velha, que estava arrumando um filho quase na hora de morrer e que a criança iria crescer sozinha e abandonada”, conta.

Hoje, Norma cria Ana Letícia, de 9 meses, com todo carinho e cuidado. Neste novo ano, ela insiste para que outras mulheres que também tenham o desejo de engravidar não se preocupem com julgamentos. “É importante não desistir. Merecemos realizar nossos sonhos e eles, muitas vezes, são possíveis”, frisa.
 

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