Efeito colateral no trânsito: automedicação pode se tornar um problema

Letícia Alves e Danilo Emerich - Hoje em Dia
03/09/2014 às 07:25.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:03
 (Samuel Costa)

(Samuel Costa)

A origem do acidente que parou o trânsito no Centro de BH na manhã dessa terça-feira (2) pode estar em um hábito muito disseminado entre os brasileiros: a automedicação.

O condutor do ônibus articulado do Move, envolvido em uma colisão com outros 13 veículos na avenida Alfredo Balena, na região hospitalar, sofreu um “apagão” momentâneo, conforme ele mesmo descreveu. O motorista havia tomado, sem recomendação médica, um relaxante muscular para amenizar dores nas costas.

A automedicação é um risco e, quando associada à direção, pode ser um problema ainda mais grave, apontam especialistas. Ramon Apolinário de Lima, de 29 anos, tinha ingerido um comprimido com citrato de orfenadrina, substância que age no sistema nervoso central e causa sonolência.

“Esses medicamentos devem ser consumidos em horários de repouso, mas quem compra não tem essa orientação”, explica a doutora em ciências farmacêuticas Maria Betânia Marques.

Lima afirmou ter ido trabalhar com dores no corpo e de cabeça e, por isso, tomou um Dorflex. “A última lembrança que tenho é na avenida Francisco Sales. Quando acordei, a batida já tinha acontecido”.

O cobrador do Move Napoleão Jorge ficou surpreso com o estado do motorista, que parecia em transe durante o acidente. “Ele ficou o tempo todo de olho aberto, mas paralisado. Eu chamava e ele não atendia. Ficou grudado ao volante sem saber o que estava acontecendo”. O ônibus arrastou carros, bateu em postes e parou em frente ao Hospital das Clínicas. Dezoito pessoas ficaram feridas, mas sem gravidade. O trânsito na área central praticamente parou durante a manhã.

Intoxicação

De janeiro a agosto deste ano, 299 pessoas foram encaminhadas ao Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS) por intoxicação por medicamentos. “Vários remédios podem alterar a capacidade de dirigir e de operar máquinas. Isso é negligenciado por muitos motoristas profissionais”, afirma o presidente da Associação Mineira de Medicina de Tráfego, Fábio Nascimento.

Empresas serão notificadas

A saúde do trabalhador do transporte público está diretamente relacionada à infraestrutura oferecida pelas empresas. Por isso, até 7 de dezembro, empregadores de BH e região metropolitana terão de criar mínimas condições sanitárias e de higiene para os empregados, conforme notificação feita pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Em caso de descumprimento, a situação será resolvida na Justiça.


O MPT irá notificar as empresas em 7 de outubro, e elas terão 60 dias para se adequar. O acordo é resultado do estudo Condições de Saúde e Trabalho dos Motoristas e Cobradores do Transporte Coletivo, elaborado pela professora da UFMG Ada Ávila Assunção. Com base no levantamento, o MPT também realizou vistorias, entre abril e maio deste ano, em 35 pontos finais de ônibus e quatro estações de integração ônibus-metrô.

A fiscalização resultou em 228 autos de infração. Segundo o procurador Antônio Carlos Oliveira Pereira, os pontos finais não oferecem condições mínimas de conforto, sanitárias e de higiene. Entre os problemas encontrados estão a falta de bebedouros e de banheiros. “Não há espaço para sentar, comer ou descansar entre as jornadas. A falta de estrutura mínima contribui para a ocorrência de acidentes”, afirma Pereira.

Pesquisa

O estudo avaliou as condições de saúde e trabalho de 1.607 profissionais. Mais de 30% relataram sofrer com doenças decorrentes da atividade, como pressão alta, diabetes e perda auditiva.

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