Elaborar lanches saudáveis para as crianças é possível

Sara Lira - Hoje em Dia
06/06/2015 às 10:26.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:22
 (Eugênio Moraes)

(Eugênio Moraes)

Quantas vezes você já ouviu “criança gordinha é criança saudável”? Para os mais antigos, essa era uma verdade absoluta, mas, hoje, o excesso de peso dos pequenos é motivo de preocupação para pais, médicos e educadores.
Salgadinhos, biscoitos recheados, sucos e achocolatados de caixinha são itens fáceis para preencher as merendeiras das crianças, na correria do dia a dia. Para a professora do curso de Nutrição da PUC Minas e mestre em Ciências da Saúde da Criança e do Adolescente pela UFMG, Joice Andrade Batista, esses são vilões para a saúde de qualquer pessoa.
A especialista destaca que, atualmente, é frequente encontrar crianças com glicose elevada, colesterol ou pressão arterial altos, sobrepeso e obesidade. Para se ter uma ideia, no Brasil, o percentual de crianças entre 5 e 9 anos com excesso de peso chega a 33,5%, de acordo com o Ministério da Saúde.
O pediatra e vice-presidente do Comitê de Nutrição da Sociedade Mineira de Pediatria (SMP), Joel Alves Lamounier, acrescenta que muitos pais só se preocupam quando os filhos estão com falta de apetite e apenas eventualmente quando estão com sobrepeso. Mas para ele, essa cultura deve mudar.
“É necessário alterar os hábitos alimentares e de vida. As crianças estão comendo mais e não fazem atividade física. Tudo isso contribui para a obesidade”.
Críticas
A mudança levantada por Lamounier já é amplamente discutida entre os pais. No entanto, ainda há aqueles que pensam na criança gordinha ser sinônimo de saudável.
Exemplos disso foram as inúmeras críticas recebidas pela nutricionista e apresentadora Bela Gil, recentemente. Ela postou nas redes sociais a merenda balanceada da filha: banana da terra, batata doce, granola caseira e água.
Houve quem dissesse que deve ser permitido a toda criança delícias como chocolates e salgadinhos tipo chips.
Opções
“Cereais, iogurte com menor teor de gordura, alimentos com fibras, polpas de suco, pão integral e produtos light. São alguns produtos industrializados, mas com qualidade”, salienta Joice Batista sobre as opções existentes. Ela enfatiza, ainda, a necessidade de colocar uma porção de fruta no lanche.
De acordo com a especialista, todos os nutrientes são importantes, mas alguns são essenciais para o desenvolvimento infantil, como carboidratos, ferro, cálcio, proteínas e vitamina A. Eles devem ser incluídos tanto na alimentação em casa, quanto fora dela.
Atitude positiva: mães e filhos juntos na cozinha
Uma alternativa para incentivar os pequenos a comerem lanches saudáveis na escola é prepará-los junto com as crianças. “Isso desperta o interesse das crianças e, com certeza, faz toda a diferença”, afirma a nutricionista Joice Batista.
É assim que a bióloga Ana Carolina Neves, de 34 anos, estimula o pequeno Ivan, de 2 anos e 9 meses, a comer toda a merenda que leva. Eles vão para a cozinha em dupla e o garotinho a ajuda a preparar bolos de cenoura, de frutas secas e até de chocolate, com o uso de cacau em pó e menos açúcar.
“Ele fica mais motivado para comer. Quando chega na escola mostra para todo mundo e diz que ajudou a fazer”, conta a mãe.
Além da preocupação com a saúde, ela também se preocupa com o meio ambiente. “Quero reduzir a quantidade de descartáveis e de embalagens individuais dispensadas na natureza”.
Valores
Ana Carolina não se considera radical e destaca que, de acordo com as condições, estipulou uma forma de alimentação dentro do que o filho gosta e da cultura da família.
“Todos deveriam estar atentos à questão da alimentação, da saúde e de transmitir valores culturais por meio da comida e não valores industriais”, acredita.
Escolas também investem em educação alimentar
Já passou o tempo em que as crianças aprendiam apenas a ler, escrever ou fazer contas no início da idade escolar. Atualmente, muitas instituições começam a inserir a educação alimentar já nos primeiros períodos. É o caso do Colégio Padre Eustáquio de Belo Horizonte, que conta com um projeto iniciado no maternal e que vai até as turmas de 5 anos.
De acordo com a coordenadora pedagógica da Educação Infantil da instituição, Juliana Rodrigues, os professores começam a explicar na sala de aula sobre a importância dos alimentos e a pirâmide alimentar. Depois, em conjunto com as crianças, um cardápio é montado para cada dia da semana com opções de lanches apetitosos e saudáveis.
“Percebemos que as crianças que não tinham hábito de consumir fruta ou suco natural passaram a consumir e tomaram consciência de que aquilo é importante para elas”.
Para os alunos do maternal, como são muito pequenas, a orientação é que os pais enviem uma fruta inteira. Na escola, a professora faz uma salada para a “Roda de Frutas”. E a meninada aprova, mostrando o resultado do projeto.
“Eles não são obrigados a comer. Alguns não querem, mas às vezes os que não têm o hábito aceitam provar ao ver as outras crianças experimentando”, relata.
ENTREVISTA GABRIELA KAPIM   Mudanças na merendeira dos pequenos dependem dos pais
Como mudar para melhor a merenda dos filhos?   Os pais devem começar a colocar coisas saudáveis, conversar com as crianças a respeito da merenda e estimulá-las a experimentar novas opções. Chamar a criança para preparar junto também é um hábito bacana.
Se as crianças não aceitarem, quais as alternativas?

A ideia é que os pais não desistam e continuem insistindo para que ocorra a mudança. A insistência dos pais vai gerar resultados. Ir com a criança a uma loja de produtos naturais ou na feira para estimular que ela faça as próprias escolhas com opções saudáveis é uma boa estratégia.
Na sua opinião, as escolas contribuem para uma rotina alimentar saudável fora de casa?
A maioria das escolas, hoje em dia, tem uma cantina terceirizada. Na verdade, a escola acaba se eximindo dessa responsabilidade jogando para a empresa que administra a lanchonete. Aí a gente entra em um problema comercial. Já outras escolas têm projetos de educação alimentar e isso produz opções de lanche saudáveis. Mas as opções têm que ser boas porque a criança tem que ter escolha.
Tem alguma dica para os pais?   Eles devem dar opções para as crianças. Quando oferecem não é tão difícil que elas aceitem. Mas é um trabalho que tem que ser feito todos os dias. Não dá para insistir em um dia e no outro colocar um lanche ruim porque não tinha nada pronto ou estava com pressa.
Gabriela Kapim é nutricionista e apresentadora do programa ‘Socorro, Meu Filho Come Mal’, do canal GNT, onde orienta pais que querem inserir uma alimentação saudável nos filhos. Ela também é autora do livro de mesmo nome.

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