Em um ano, 20 mil brasileiras se submeteram à plástica na região genital

Ana Paula Lima - Hoje em Dia
17/11/2014 às 07:52.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:02
 (Flávio Tavares/ Hoje em Dia )

(Flávio Tavares/ Hoje em Dia )

Geisy Arruda fez. Andressa Urach também. Como elas, mas discretíssimas, cada vez mais mulheres encaram o bisturi para fazer as pazes com a própria intimidade. Só no ano passado, 20 mil brasileiras passaram por uma cirurgia íntima, procedimento que responde por 1,5% das plásticas realizadas no país.    Das intervenções mais comuns, a campeã absoluta é a redução dos pequenos lábios vaginais. Oitenta por cento das pacientes que entram no consultório do médico Antônio Carlos Vieira, em Belo Horizonte, veem na operação a saída para um problema estético, mas também o alívio para o desconforto nas relações sexuais.    “Há mulheres que ficam com vergonha de usar biquíni e se mostrar para o parceiro, e muitas relatam que a pele ‘dobra’ durante o sexo, causando dor”, explica o presidente da regional Minas Gerais da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Dependendo do caso, a anatomia dos pequenos lábios pode levar à retenção de urina na região, provocando infecções, dermatites e até candidíase.   SEGREDO   Dar um “jeitinho” na aparência dos grandes lábios (parte externa da vulva) e diminuir o Monte de Vênus (a região pubiana, acima dos órgãos genitais) com lipoaspiração também é possível. Na maioria dos casos, porém, a ajudinha do médico à natureza, por mais bem-sucedida que seja, se transforma em um segredo mantido a sete chaves.   “Quando quer colocar uma prótese (de silicone) nos seios, a mulher traz até o marido ou o namorado à consulta, pede opinião”, conta o médico. Se a cirurgia é íntima, a paciente toma a decisão sozinha e guarda isso pra ela. “Não comenta nem com amigas”.    Formação   Consideradas simples, as plásticas na região genital são realizadas também por ginecologistas. “Qualquer médico pode fazer um procedimento cirúrgico. A lei permite”, diz Luís Henrique Ishida, diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).   Ele esclarece, porém, que o profissional mais apto para conduzir a intervenção é o que tem residência na área. Após se formar, o médico estuda cirurgia geral por dois anos e passa mais três se especializando em cirurgia plástica. E só recebe o título da SBCP se passar em uma prova.   “O cirurgião plástico tem a formação voltada para isso, o que dá segurança ao paciente”, afirma Luís Henrique. No país, 5.500 médicos são certificados pela entidade.   Para quem quer ter certeza de que o profissional “eleito” é de fato especialista, basta consultar o site da SBCP. O cuidado ajuda a evitar dores de cabeça depois.    “Se a redução dos pequenos lábios for exagerada, por exemplo, o clitóris ficará exposto, a vulva perderá uma proteção natural e a lubrificação da mulher será comprometida”, diz o cirurgião Antônio Carlos Vieira. “São complicações irreversíveis”.   Bisturi segue rastro da liberdade sexual   Se mantiver o ritmo atual, a participação das cirurgias íntimas no total de procedimentos estéticos continuará aumentando. No dia a dia dos consultórios, intervenções que chegavam a no máximo três por ano, em 2008, acontecem hoje, em média, uma vez por mês.   Para o cirurgião Antônio Carlos Vieira, a independência sexual e financeira está por trás das estatísticas. “É a própria paciente quem paga a cirurgia. Quando chega aqui, ela já tomou a decisão”.    Mulheres com mais de 30 anos, solteiras ou divorciadas – na prática, sem companheiro no momento – formam o perfil mais comum.    AMOR PRÓPRIO   Para a sexóloga e neuropsicóloga Sônia Eustáquia Fonseca, a maior liberdade da mulher contemporânea também pesa a favor do bisturi. “Ela se permite viver a sexualidade, o que inclui expor o corpo ao outro”.   Acontece que a escolha da cara-metade passa, em primeiro lugar, pela aparência, e sentir-se bem diante do espelho torna-se algo muitas vezes fundamental.    “Se achar mais bonita melhora a autoestima da mulher e a vida sexual dela como um todo”, diz.    O raciocínio vale especialmente para quem busca um novo companheiro. Para quem já o encontrou há tempos, Sônia, que há 35 anos atende casais, ressalta que a estética interfere bem menos.   “A intimidade e o amor se sobrepõem à imagem, e o que muitos homens veem é a beleza da mulher que conheceram tempos atrás”.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por