Enem vira vitrine, e colégios saem à caça de alunos "top"

Raquel Ramos - Hoje em Dia
22/12/2013 às 08:07.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:57
 (Luiz Costa/Hoje em Dia)

(Luiz Costa/Hoje em Dia)

Idealizado pelo Ministério da Educação (MEC) como instrumento que seleciona alunos para a faculdade, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tem servido também para outro propósito: propaganda gratuita para as escolas que conquistam boas pontuações no teste.   Bastou a divulgação da lista com as instituições mais bem colocadas na prova de 2012 para que começasse uma verdadeira corrida entre colégios que ficaram de fora do ranking.   Na disputa por melhores posições, quase 200 unidades de ensino conseguiram na Justiça a revisão dos cálculos. Como o Objetivo Integrado de São Paulo que, tradicionalmente no topo, chegou a perder o primeiro lugar para o Bernoulli, de Belo Horizonte. Na segunda lista, o equívoco foi desfeito, e a instituição voltou a liderar a classificação.   Mas o título de “melhores” é questionável, opina Emiro Barbini, presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep).    “Não tiro o mérito dos colégios que se destacam pela qualidade do ensino. Mas o ranking deve ser analisado criticamente. Uma só prova não é suficiente para avaliar uma escola”.   Ele também considera que os dados são manipuláveis. Para melhorar a classificação, há instituições que usam, por exemplo, dois Cadastros Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ): um para a inscrição dos alunos “feras”, outro para os que tiram notas mais baixas.   “Sei também de escolas que chegam a pagar para que o estudante (fraco) opte pelo vestibular de uma faculdade privada e deixe de fazer o Enem”. A estratégia faz o desempenho médio do colégio subir.   Peneira   Em alguns casos, a pressão por bons resultados começa na seleção dos novos alunos. De olho nas notas que eles poderão alcançar em provas como o Enem, as instituições aplicam testes rigorosos para escolher apenas os melhores estudantes. Foi essa a experiência de Andréa Ribeiro Paes, mãe de Gabriel, de 10 anos. “Quando fui procurar escola para meu filho, me deparei com vestibulinhos muito exigentes, parecendo mesmo um vestibular para crianças”.   Receosa, a mãe colocou o garoto para fazer aulas particulares. Não necessariamente porque ele precisava de reforço. Mas porque percebeu que, se não entrasse no “jogo”, não conseguiria a vaga.   O problema é semelhante ao enfrentado por uma psicóloga que, na fila por vagas para os filhos em outras escolas, preferiu não se identificar. Ela chegou a ouvir de um colégio da zona Sul de Belo Horizonte que, embora houvesse espaço para mais alunos, os garotos, de 8 e 12 anos, não estavam aptos a estudar lá.   “Meus filhos são crianças normais, não demandam cuidado especial. A escola segrega e rotula. Está tão preocupada com números que perdeu o foco da formação humana dos estudantes”.    Inep nega erro na classificação   O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) negou ter cometido erro ao divulgar a lista das escolas com maiores médias, deixando de fora algumas que receberam pontuação maior no Enem. Em nota, explicou que as médias das instituições não foram publicadas devido à discrepância entre o número de alunos matriculados segundo o Censo Escolar 2012 e o de inscritos no Enem daquele ano.   Leia mais na Edição Digital

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