Entenda o que é a sepse, doença que causou a morte do neto do ex-presidente Lula

José Vítor Camilo
03/04/2019 às 18:20.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:04

A divulgação do diagnóstico errado da doença que vitimou o pequeno Arthur Araújo Lula da Silva, de 7 anos, neto do ex-presidente Lula, no início de março desse ano, acabou causando uma verdadeira corrida de pais aos laboratórios de todo o país por vacinas contra a meningite. Agora, com a confirmação de que o óbito da criança foi causado por uma sepse (infecção generalizada), causada pela bactérica Staphylococcus aureus, o Hoje em Dia levantou todas as informações sobre a doença para que você saiba do que se trata e como se prevenir. 

Conforme informações do Ministério da Saúde, a sepse é um conjunto de manifestações produzidas por uma infecção, provocada por qualquer bactéria que chegou à corrente sanguínea. "Por vezes, a infecção pode estar localizada em apenas um órgão, como por exemplo, o pulmão, mas provoca em todo o organismo uma resposta com inflamação numa tentativa de combater o agente da infecção. Essa inflamação pode vir a comprometer o funcionamento de vários orgãos do paciente", explica a pasta.  

A farmacêutica, mestre em biologia celular e doutora em ciência da saúde, Nayara Medeiros, que é professora da Faculdade Kennedy, conta que a Staphylococcus aureus é uma bactéria muito comum que forma colônias em nosso corpo, sendo inclusive responsável pelo mal cheiro do chulé. "Existem potenciais diferentes de uma mesma bactéria, depende da cepa de cada uma. Essa criança (neto do Lula) pode ter tido contato com uma bactéria diferenciada, mais resistente, que pode ter entrado pela pele, por um machucado, e acabou chegando na corrente sanguínea. E a sepse é muito rápida, causando o que chamamos de choque séptico, que pode ter sido o motivo dele ter falecido em tão pouco tempo", argumenta. 

Nayara explica ainda que não há como fazer uma prevenção contra uma sepse, sendo que a melhor forma de garantir a saúde de uma criança ou adulto é não negligenciar os sintomas. "Começa com uma dor de cabeça e febre. As pessoas precisam observar se a criança está prostrada, se está mais cansada que o normal. A febre é o primeiro sinal, então, se esse sintoma aparecer e a pessoa já levar ao médico, é a melhor forma de prevenir que se chegue em algo mais grave. Pode ser decisivo no tratamento, já que é uma doença que evolui muito rápido", completou a especialista. 

Apesar de poder acontecer em qualquer pessoa e idade, o risco de se adquirir uma infecção generalizada é ainda maior em prematuras, crianças com menos de um ano, idosos com mais de 65 anos, pacientes com câncer ou Aids, pessoas que fizeram uso de quimioterapia ou outros medicamentos que afetam os mecanismos de defesa do organismo, pacientes com doenças crônicas, como insuficiência cardíaca e renal ou diabetes; usuários de álcool e outras drogas, pacientes hospitalizados que utilizam antibióticos, cateteres ou sondas. 

"Embora não existam sintomas específicos, todas as pessoas que estão passando por uma infecção e apresentem febre, aceleração dos batimentos do coração (taquicardia), respiração mais rápida (taquipneia), fraqueza intensa e tonteiras e pelo menos um dos sinais de gravidade, como pressão baixa, diminuição da quantidade de urina, falta de ar, sonolência excessiva ou confusão (principalmente os idosos) devem procurar imediatamente um serviço de emergência ou o seu médico", alerta o Ministério da Saúde. 

A sepse é uma doença que pode evoluir de qualquer tipo de infecção, leve ou grave, sendo que a maioria dos casos surge de uma pneumonia, infecções abdominais ou infecções urinárias. "Por isso, quanto menor o tempo com a infecção, menor a chance de surgimento da sepse", diz a pasta. 

Tratamento

Quando se trata de uma infecção generalizada, as primeiras horas do tratamento são as mais importantes, sendo necessária uma antibioticoterapia o mais rápido possível. "Culturas de sangue, bem como outras culturas de locais sob suspeita de infecção, devem ser colhidos em uma tentativa de detectar o agente causador da doença. A sepse é uma emergência médica e seu tratamento deve ser priorizado", completa o Ministério da Saúde. 

A professora Nayara Medeiros, das Faculdades Kennedy, aproveita para alertar para a importância do uso correto de medicamentos, o que também pode contribuir para a aparição de uma sepse. "As pessoas tem o hábito de não concluir terapias com antibiótico corretamente, e isso é perigoso, pois você pode criar bactérias que são resistentes aos medicamentos e o tratamento fica mais complicado. Se a pessoa toma por dois dias o aintibiótico, ela pode estar se sentindo melhor, mas, se matar somente metade das bactérias, as que sobrevivem criam mecanismos de defesa e não morrerão tão fácil no próximo tratamento, o que eleva o risco de uma infecção generalizada", conclui a especialista. 

Doença mata 670 mil pessoas por ano no Brasil

As infecções generalizadas, são atualmente a principal responsável por mortes dentro dos hospitais brasileiros. O órgão estima que cerca de 670 mil pessoas morram por ano no país por conta da sepse. 

Por conta disso, muitas pessoas acreditam que o problema só atinja quem já está internado em alguma unidade de saúde, o que não é verdade, ainda de acordo com o Ministério da Saúde. Uma grande parte dos pacientes atendidos pela doença chegam nos serviços de urgência e emergência, como foi o caso do pequeno Arthur. 

Relembre

A criança deu entrada no Hospital Bartira às 7h14 do dia 1º de março deste ano com dor de cabeça, febre, mialgia, exantema, cianose, náuseas e dores abdominais, de acordo com a nota divulgada pelo município. O quadro teria evoluido para confusão mental em pouco tempo e, por volta das 12h, o óbito foi confirmado. A Prefeitura foi notificada pelo hospital de que a causa da morte seria meningite. "Apesar da notificação, o resultado do exame de líquor, realizado no mesmo dia pelo próprio Hospital Bartira, acusou bacterioscopia negativa", diz a nota.

Diante do laudo, a Secretaria de Saúde de Santo André encaminhou as amostras de sangue e líquor do garoto para confirmação no Instituto Adolfo Lutz, que normalmente pede um prazo de 15 a 30 dias para apresentar o resultado. "Além de encaminhamento das amostras, realizamos esquema profilático dos comunicantes (pessoas com contato íntimo por mais de quatro horas diárias com o paciente nos últimos sete dias). Devido ao fato de o paciente estudar em São Bernardo do Campo, a Vigilância Epidemiológica do referido município foi comunicada para que as medidas de profilaxia cabíveis fossem tomadas na escola, o que devidamente ocorreu", completa a Prefeitura. 

Por fim, o órgão garantiu que as investigações foram finalizadas e que o resultado dos exames descartaram as seguintes doenças: meningite, meningite meningocócica e meningococcemia. "Todos os procedimentos de proteção e profilaxia dos comunicantes foram realizados seguindo os protocolos do Ministério da Saúde. Informações adicionais relacionadas ao caso dependem de autorização expressa da família da criança”, concluiu o município. 

Nas redes sociais, o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) compartilhou a notícia sobre a confirmação de que a morte não teve relação com a meningite e criticou o que chamou de "vazamento antiético e irresponsável para a Saúde Pública" por parte do Hospital Bartira. 

"Apenas dois objetivos nos movem em relação a tais cobranças. O primeiro nós conseguimos: que a autoridade sanitária viesse a público esclarecer à população que não se tratava de um caso de doença meningóccica, para qual havia corrida por vacina. O segundo é que o Hospital Bartira/Rede D'or esclareça quais procedimentos de apuração já realizou, para o vazamento de diagnóstico que se revelou antiético para com a família e irresponsável com a Saúde Pública da região", completou o parlamentar. 

A reportagem tentou contato por telefone com o hospital, porém, o número da assessoria de imprensa informado por funcionários da unidade não atende. 

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