Equipes do Samu são vítimas de traficantes em favelas de BH

Renata Galdino - Hoje em Dia
29/01/2014 às 07:31.
Atualizado em 20/11/2021 às 15:39
 (Samuel Costa)

(Samuel Costa)

Uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) da capital viveu momentos de terror nas mãos de bandidos na madrugada do último domingo. Os servidores foram atacados após atenderem a um paciente hipoglicêmico na Vila São João Batista, em Venda Nova, por volta das 5h. Durante 30 minutos, dentro da ambulância, eles foram ameaçados de morte e tiveram armas apontadas para a cabeça.

É o segundo caso de ameaça ao Samu de BH nos últimos 30 dias, cujos boletins policiais o Hoje em Dia teve acesso. A Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) afirma que apenas três casos foram registrados desde 2009.

Porém, o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Belo Horizonte (Sindibel) acredita que o número seja maior. “Não só do Samu, mas de trabalhadores da saúde, em geral. Expostas, as vítimas têm medo de denunciar”, afirma a vice-presidente do sindicato, Ilda Alexandrino. O assunto será debatido em reunião no Sindibel, em fevereiro.

“Em aglomerados, a ambulância é abordada por suspeitos que perguntam quem vamos atender. Se é vítima de violência, a polícia tem que ir junto, mas os bandidos não gostam de policiais”, afirma um trabalhador do Samu, que pediu anonimato. No caso de domingo, por se tratar de caso clínico, a equipe não imaginava que se tornaria refém de criminosos.

Os paramédicos foram rendidos por dois homens drogados no momento em que repassavam informações sobre o paciente à central, por telefone. “Colocaram as armas no nosso ouvido, na boca. Diziam que tínhamos ido socorrer alguém que eles tentaram matar horas antes. Agressivos, gritavam que nossos filhos ficariam órfãos naquele dia”, relembra uma das vítimas.

Ouvindo o que acontecia do outro lado da linha, a Central 192 ligou para a solicitante do atendimento e pediu a ela que explicasse aos suspeitos o motivo da presença da equipe. Chorando, ela teve a arma apontada para o peito e levou os homens até a casa, onde viram o idoso acamado. A ambulância foi liberada.

Tiros

“A população em geral nos recebe muito bem, e ela não pode ser prejudicada. Mas temos muito medo”, afirma uma técnica de enfermagem que trabalha há três anos no Samu. No entanto, no fim do ano passado, uma equipe registrou um boletim de ocorrência para justificar a recusa no atendimento a um chamado no Conjunto Felicidade (zona Norte).

Segundo um trabalhador, os profissionais já tinham ido à casa, onde foram ameaçados e dois tiros disparados no chão. Uma hora depois, foram novamente solicitados no endereço. Com medo, eles não quiseram ir e uma outra ambulância foi ao local. “É um drama que eles (os agentes) vivem, pois podem ser acusados de negligência”, explica Cleide Oliveira, diretora de Políticas Sociais do Sindibel.

Segurança em xeque

A cúpula da Polícia Militar (PM) deve pedir hoje que os comandantes dos batalhões referentes aos locais onde houve as duas últimas ocorrências envolvendo o Samu na capital tomem providências.

- “É inaceitável que criminosos impeçam o trabalho desses profissionais que estão arriscando a vida para salvar a de outros”, disse o assessor de comunicação da corporação, tenente-coronel Alberto Luiz Alves.

- Ele afirma que a PM pode dar suporte nos atendimentos em aglomerados. “Se a equipe avaliar que é um local de risco, deve ligar para a polícia e pedir cobertura. É preciso que esses profissionais tenham cautela”, observa.

- Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Saúde da capital informou que, em casos de ameaça, os profissionais do Samu são orientados a manter a calma e, percebendo ocasiões de risco de vida, devem pedir apoio à polícia para realizar o atendimento.

- O Sindibel reconhece que nem sempre a polícia poderá dar suporte por causa do elevado número de chamados atendidos. “Vários ofícios foram enviados à PBH sobre a segurança dos servidores da saúde, e vamos tratar o assunto com prioridade”, afirma a sindicalista Cleide Oliveira.  

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