Especialista explica as diferenças entre dietilenoglicol e monoetilenoglicol

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
13/01/2020 às 16:36.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:16
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

A Polícia Civil de Minas Gerais confirmou nesta segunda-feira (13) que exames em amostras de sangue de quatro pessoas com a síndrome nefroneural indicaram a presença de dietilenoglicol. A substância tóxica também foi encontrada em garrafas da cerveja Belorizontina e no tanque de resfriamento da cervejaria Backer. Até o momento, são investigados casos de 11 pacientes. Porém, a empresa afirma que não utiliza esse produto na sua linha de produção, mas, sim, o monoetilenoglicol.

Mas, afinal, qual é a diferença entre essas duas substâncias, usadas na indústria como anticongelantes? De acordo com Bruno Botelho, professor do Departamento de Química da UFMG e pesquisador sobre fabricação de cervejas, na prática, as duas substâncias são similares na eficiência do uso como anticongelante. A diferença está no nível de efeitos no corpo humano em caso de ingestão.

“O que vai diferenciar os dois é a quantidade consumida para que haja uma intoxicação. O monoetilenoglicol precisa ser ingerido em uma dose muito maior para que haja um efeito de intoxicação. Mas, os sintomas são os mesmos: falência renal, náuseas, dores abdominais, entre outros”, explica o professor. Segundo ele, o monoetilenoglicol é mais usado nas indústrias por ser menos tóxico e mais barato.

A Backer garante que não utiliza dietilenoglicol na fábrica e a explicação para a presença da substância no tanque de resfriamento está sendo apurada pela polícia. A fábrica da empresa foi fechada pelo Ministério da Agricultura na última sexta-feira (10). Botelho explica que é praticamente impossível ter acontecido uma reação química que transformasse o mono para o dietilenoglicol. 

“Na indústria, o dietileno é feito a partir do monoetileglicol. Mas, isso depende de condições muito específicas de temperatura, pressão e presença de catalisador. Essa não é uma reação trivial e é muito pouco provável que acontecesse dentro do chiller (tanque de resfriamento) ou da própria cerveja”, diz o professor.

Segundo ele, uma possibilidade lógica para que a substância presente na serpentina que passa pelos tonéis de bebida tenha tido contato com a cerveja é um vazamento. Mas, é difícil que o vazamento tivesse acontecido ao longo de um tempo extenso. “Se fosse uma situação de longo prazo, haveria uma redução do volume da substância no chiller e a equipe perceberia”.

Há solução para não usar essas substâncias no resfriamento?

De acordo com Botelho, a melhor opção para substituir ambas susbtâncias no processo de fabricação é o trietilenoglicol, que não é tóxico, porém tem um custo cinco vezes maior. Também pode-se usar etanol ou uma salmoura muito concentrada, mas essas são opções menos eficientes.

A Backer informou que segue colaborando e aguardando os resultados das investigações. "E reafirma que, conforme anunciado, vai realizar uma vistoria completa em seus processos de produção, visando o esclarecimento a toda a sociedade", indica nota da cervejaria. O advogado da empresa informou que solicitou nesta segunda-feira acesso às informações do inquérito. 

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