Especialistas da UFMG avaliam compartilhamento de ventiladores em casos graves de Covid-19

Lucas Borges
@lucaslborges91
06/04/2020 às 14:48.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:12
 (Pixabay/Divulgação)

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Um dos maiores temores das autoridades em relação à pandemia de coronavírus é a possibilidade de haver a escassez e equipamentos básicos de atendimento aos pacientes, caso haja um colapso no sistema de saúde em função do alto número de casos da doença.

Pensando em uma alternativa para atenuar a alta demanda por esses insumos, especialistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) analisam a possibilidade de se fazer o uso compartilhado de ventiladores, podendo o mesmo equipamento ser usado por quatro pessoas.

Apesar do fato de que tal medida ajudaria a minimizar possíveis faltas de respiradores em grandes centros afetados, médicos alertam para a necessidade de se avaliar caso a caso, com todas as variáveis antes de iniciar esse prática, para que não haja o risco de que as situações sejam agravadas.

O ventilador mecânico é usado para tratar os casos mais graves da Covid-19, quando o paciente apresenta síndrome respiratória grave, quadro que compromete o funcionamento do pulmão.

“Ele fica encharcado de líquido, o que dificulta a respiração e a troca gasosa (processo que leva oxigênio e elimina o gás carbônico). Como o esforço para manter essa troca é muito grande, o paciente precisa de respiradores artificiais”, como explica a professora Maria Aparecida Camargos Bicalho, do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG.

Os especialistas temem que esse aparelhos, normalmente disponíveis em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), podem faltar caso a procura aumente em larga escala, citando o que aconteceu na Itália, que sofreu muito com a ausência desses equipamentos.

Estudo experimental

Apesar de haver relatos de uso compartilhado de ventiladores em situações extremas na Itália, a professora Maria Aparecida faz questão de frisar que essa prática ainda não é aprovada, devendo ser adotada apenas quando todos os recursos foram exauridos e não houver mais possibilidade de respiradores.

“Não há estudo aprovando a eficácia. O que temos são experimentos com pulmões artificiais”, destacou .

De acordo com a UFMG, um estudo experimental foi publicado em 2006 e baseia-se em situações de desastres, como terremotos que ocorrem na costa americana e o próprio atentado de 11 de setembro de 2001, em Nova York.

A pesquisa ainda aponta que seria possível ventilar até quatro pessoas com o uso de tubos e conexões, durante quase seis horas, até que outro respirador chegue. “Não sabemos dimensionar o risco de contaminação, e não seria possível realizar o processo em pulmões de tamanhos muito diferentes (de uma criança e de um adulto, por exemplo), nem individualizar parâmetros para ventilação”, afirma Maria Aparecida.

São considerados parâmetros, por exemplo, o volume de ar ofertado ao paciente, pressão, frequência respiratória e quantidade de oxigênio, que variam de acordo com a necessidade de cada paciente.

“Por isso, seria um uso em situação extrema e, mesmo assim, uma decisão difícil de tomar, que deve se embasar em parecer das sociedades médicas e autorização das famílias. Espero que nunca precisemos disso”, afirma a professora.

Cautela

Para o professor Rudolf Huebner, da Escola de Engenharia da UFMG, do ponto de vista mecânico, o compartilhamento dos respiradores seria viável e de baixo custo.

“É uma peça muito simples, que chamamos de divisor de fluxo. Mas, nem de longe, é uma solução ideal. Os pacientes teriam de ter quadros muito parecidos, além de contar com acompanhamento de um médico e um engenheiro mecânico”, completou o professor.

Huebner também prega cautela em relação a todos os procedimentos relacionados esse compartilhamento, a fim de resguardar sempre a saúde do paciente.

“A universidade tem o papel de nortear decisões e somar esforços para enfrentar o problema. É possível, por exemplo, desenvolver protótipos para a construção de ventiladores, mas é preciso verificar uma série de variáveis e submetê-las à aprovação para garantir a segurança, o que pode levar bastante tempo".

Rudolf Huebner também coordena grupo da UFMG encarregado de estruturar uma proposta para reparo de ventiladores desativados em Minas Gerais.

“O que estamos tentando fazer, em parceria com o Senai e outras indústrias, é avaliar a oferta de ventiladores e identificar quais estão funcionando, quais estão parados e o que precisa ser feito para deixá-los disponíveis para os hospitais", explica o professor.

Conforme dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, dos 6.289 ventiladores mecânicos existentes em Minas Gerais, 5.950 estão em uso em hospitais públicos, particulares e ambulâncias. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES), a manutenção dos equipamentos é de responsabilidade dos hospitais.

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