Especialistas recomendam medidas de combate e controle da leishmaniose

Patrícia Santos Dumont - Hoje em Dia
10/08/2015 às 06:38.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:17
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Endêmica em 47 países, a leishsmaniose, doença infecciosa transmitida pela picada de um mosquito, é preocupação também no Brasil, onde mais de 3 mil casos são registrados por ano, de acordo com o Ministério da Saúde. Quase 10% deles são de moradores de Minas, terceiro Estado com maior número de registros, perdendo apenas para Maranhão e Ceará, em primeiro e segundo lugar, respectivamente.

Na Semana Nacional de Controle e Combate à doença, que começa hoje, especialistas alertam para a importância de ações preventivas de eliminação do vetor, o mosquito palha, e proteção dos cães, principal hospedeiro do parasita na área urbana. A recomendação, além de manter quintais limpos e livres de matéria orgânica, é utilizar coleiras repelentes e vacina, que protegem os bichos da contaminação.

“O principal vilão da leishmaniose é o mosquito, que encontra no nosso ambiente condições favoráveis para se multiplicar. Por causa disso, é sempre melhor prevenir do que tratar, daí a importância da vacina em conjunto com a coleira”, explica o veterinário Bruno Divino, vice-presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas Gerais (CRMV/MG).

TRATAMENTO GRATUITO

Sistema Único de Saúde (SUS) oferece diagnóstico e tratamento gratuitos para casos da doença em humanos. Para o Ministério da Saúde, porém, manter animais infectados é um risco para a população, já que os cães medicados deixam de apresentar os sinais clínicos da doença, mas continuam sendo fonte de infecção para o vetor.

Dono do bulldog francês Bartô, de 2 anos e meio, o empresário Gustavo Magalhães Zarife, de 25 anos, não pensou duas vezes ao optar pela vacina para “blindar” o pet contra a doença. Alérgico à coleira repelente, o cão recebeu a primeira dose aos seis meses.

“Antes da vacina, procurava passear com ele fora dos horários de ação do mosquito, no fim da tarde e início da noite. Agora fico mais tranquilo, posso sair despreocupado”, diz.

VACINA MINEIRA

A vacina escolhida por Gustavo é a única utilizada no Brasil, aprovada nos ministérios da Saúde e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A recomendação é de que o animal recebe três doses, sendo a primeira após completar quatro meses de vida, e reforce a aplicação anualmente. Única vacina regulamentada no Brasil e utilizada para proteger os cães do contágio pela leishmaniose, a Leish-Tec, fabricada em Juatuba, na Grande BH, tem quase 100% de eficácia comprovada na prevenção da doença. O tratamento, por enquanto, só é fornecido por clínicas particulares, ao custo médio de R$ 150, por dose, e é indicado para cães com mais de quatro meses.    Vencedora do Prêmio Péter Murányi, como melhor trabalho científico do ano passado, a vacina é fabricada pelo laboratório Hertape Calier e pode ser administrada em qualquer animal saudável. Segundo o veterinário Leonardo Alves, gerente nacional de vendas do Setor Pet da Hertape, a dose, capaz de proteger o cão por toda a vida, vem sendo estudada para ser implementada no calendário público de vacinação, a exemplo do que já ocorre com a prevenção da raiva. "A Leish-Tec é uma vacina diferente das normais, pois é recombinante, uma tecnologia nova e moderna. Nenhum órgão público se interessou em fazer campanha massiva com a vacina, mas já existem sondagens e possibilidades a esse respeito”, diz.   Antes de ser submetido à vacinação, é preciso que o cão passe por exames de sangue que atestem ausência do protozoário causador da leishmaniose. As doses iniciais devem ser aplicadas três vezes, a cada 21 dias.  A possibilidade de tratar animais infectados vem sendo amplamente debatida no Brasil. O país é um dos únicos que proíbem o tratamento de cães com remédios de uso humano e onde não há nenhum medicamento veterinário aprovado. “Ou as pessoas fazem ilegalmente ou entram na Justiça e conseguem o direito”, critica o presidente da Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal (Arca Brasil), Marco Ciampi. 

QUASE 40 DOENTES POR MÊS

Mais de 200 pessoas, que vivem em municípios mineiros, tiveram diagnóstico positivo para leishmaniose no primeiro semestre deste ano. Os casos representam média de 38,5 pacientes infectados a cada mês e já superam os registros do mesmo período do ano passado, quando foram contabilizadas 198 ocorrências positivas de leishmaniose em humanos.

Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), os focos do mosquito vetor estão concentrados em Belo Horizonte e região metropolitana, no Norte de Minas e Vale do Aço. Até o ano passado, a doença esteve presente em 23% das cidades mineiras. “O surgimento em Minas é histórico. Registramos casos há mais tempo do que outros estados. De 2010 a 2014, a doença esteve em 194 dos 853 municípios”, esclarece a coordenadora de Zoonoses e Vigilância de Fatores de Risco Biológico da SES, Mariana Gontijo.

DOIS MIL VETORES

Na capital, o número de doentes chegou a 17, até maio, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA). No mesmo período, 2.416 cães foram diagnosticados com leishmaniose, média de 483 por mês. Como medida de controle, cerca de 300 animais são sacrificados por mês em BH.

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