Espelho do corpo: unhas refletem dieta e hábitos inadequados e denunciam até doença autoimune

Patrícia Santos Dumont
02/08/2019 às 20:29.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:50
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Estrutura formada por queratina e que serve para proteger os dedos dos impactos do dia a dia, as unhas costumam ser tratadas apenas como aparato estético, principalmente pelas mulheres. Mas, mais do que isso, funcionam como uma espécie de espelho do corpo, podendo revelar desde carências nutricionais e hábitos inadequados a doenças crônicas e até autoimunes. 

“Não significa que toda pessoa com alteração ungueal esteja com algum problema de saúde, mas, de fato, as unhas podem, sim, dar pistas sobre a gente. Por isso, é fundamental não só manter a higiene correta, como ter atenção constante e passar por avaliações periódicas”, reforça a dermatologista Ana Rosa Magaldi, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). 

Segundo a especialista de Belo Horizonte, um dos problemas mais frequentes é a micose, que se manifesta sobretudo nos dedos dos pés, destruindo a camada de queratina e levando à perda parcial ou completa da lâmina. Ocasionada por fungos, que encontram no ambiente úmido e escuro local perfeito para se proliferar, exige diagnóstico precoce para ser tratada adequadamente. 

Menos comum – impactando cerca de 2% dos brasileiros – a psoríase é outro problema que pode dar sinais a partir do aspecto das unhas. Doença crônica e sem cura, a do tipo ungueal pode afetar tantos as mãos quantos os pés levando a descamações, engrossamento, depressões, manchas e até alterações de cor. O tratamento é essencial e individualizado.

Doença pulmonar

Determinante para algumas avaliações médicas, o aspecto das unhas das mãos ajuda a fechar o diagnóstico, por exemplo, de doenças pulmonares, como a fibrose – quando há substituição do tecido pulmonar normal por um cicatricial. Nesses casos, as pontas dos dedos adquirem aspecto semelhante a uma baqueta de tambor e as unhas, ao de vidros de relógio, tornando-se arredondadas. “Diagnostica-se pelas unhas”, enfatiza a dermatologista de Belo Horizonte, reforçando a importância do cuidado e diagnóstico corretos. 

Menos graves, mas comuns, principalmente entre mulheres, sintomas como ressecamento e descamação também devem servir de alerta tanto para dietas desequilibradas quanto para hábitos estéticos e de higiene inadequados. A consultora de imagem e estilo Geralda Francisca de Oliveira Sá, de 41 anos, levou um susto quando soube disso. 

Acostumada a manter as unhas impecáveis, sempre esmaltadas, exigência da profissão, percebeu uma descamação incomum e correu para o médico. A recomendação foi suspender, ainda que provisoriamente, as visitas à manicure e deixar as unhas “respirarem” por mais tempo. 

“Eu fazia num dia e pouco tempo depois já estava sem o esmalte das pontas. Notei, então, que estavam descamando e muito fracas. É difícil ficar sem esmalte, mas preciso tentar”, comenta Geralda, que espera o resultado de exames de sangue para descobrir a razão do problema.

Alerta

Quando o assunto é a saúde das unhas, um dos alertas mais importantes diz respeito ao hábito de remover as cutículas e pintá-las com frequência. Sem a devida proteção e abafadas, as estruturas tornam-se frágeis e suscetíveis a problemas, explica o dermatologista Lucas Miranda, membro da SBD.

“O problema começa pela extração da cutícula, não só porque funciona como proteção, mas porque, quando retirada, sujeita a infecções e traumas. O uso de alicates e de instrumentos compartilhados também aumenta a chance de contato com sangue contaminado”, alerta o médico. As unhas devem ser avaliadas quanto a consistência, formato e presença ou não de manchas e sulcos.

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Formato e higiene adequados ajudam a manter boa saúde

Excesso de esmalte, remoção completa das cutículas e polimento são só algumas das práticas inadequadas que prejudicam a saúde das unhas. O ideal, alertam especialistas, é evitar o uso ininterrupto dos cosméticos, muitas vezes tóxicos, preservando a integridade das estruturas, e livrá-las do contato frequente com produtos químicos e muita água, por exemplo.

A dica do dermatologista Lucas Miranda, de BH, é deixá-las pelo menos uma semana por mês sem cobertura de base ou esmalte, ou seja, pelo menos dois dias por semana limpas e livres dos cosméticos. Ao retirá-los, a recomendação é priorizar removedores com agentes hidratantes, como o óleo de banana, evitando a acetona, que é abrasiva. 

Outra dica do especialista é evitar o contato com produtos químicos usados na limpeza de casa e até com resíduos do lixo doméstico. O ideal, segundo ele, é utilizar luvas de algodão e de borracha para evitar que a cutícula se degenere, caprichando também na hidratação das mãos. 

“Deixar as unhas sempre bem aparadas e limpas ou, quando maiores, devidamente lixadas, e hidratar toda a região das mãos após o banho é uma forma de manter a boa aparência mesmo nos períodos sem esmalte. Unhas postiças, sejam elas de farmácia ou mais duradouras, como as de gel e acrílico, também não têm indicação médica”, acrescenta o dermatologista, membro da SBD.

Rente à pele

O formato ideal, ensina a colega Ana Rosa Magaldi é o quadrado, rente à borda da pele, que ajuda a evitar traumas por contato, como os ocasionados pela digitação frequente. A especialista lembra que é contraindicado lixá-las por cima, mesmo que com instrumentos específicos para poli-las, e limpá-las por baixo com frequência.

Os hábitos, explica a dermatologista, levam ao afinamento da lâmina e ao descolamento da pele. “Também ajuda a inocular fungos e bactérias”, acrescenta, referindo-se ao costume de higienizá-las por baixo com instrumentos usados em salões.

Para reforçar a saúde das estruturas, os especialistas recomendam dietas ricas em frutas, verduras e oleaginosas, que fornecem vitaminas e minerais, como zinco e selênio. Editoria de Arte

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