Estelionato virtual cresce 29% e já é o crime cibernético mais cometido em BH; veja como se proteger

José Vítor Camilo
02/07/2019 às 18:06.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:22
 (ARQUIVO PESSOAL / DIVULGAÇÃO)

(ARQUIVO PESSOAL / DIVULGAÇÃO)

O uso crescente das redes sociais para a aplicação de golpes levou o estelionato virtual ao topo do ranking de crimes cibernéticos em Belo Horizonte. A primeira posição, que era historicamente ocupada pelas ameaças, cedeu lugar a fraudes como clonagens de contas do WhatsApp, roubos de dados por meio de links para promoções fictícias, o chamado "golpe do amor" (veja abaixo como funciona), e até a oferta de dinheiro falso. Foram 402 ocorrências no primeiro trimestre de 2019, alta de 29% sobre as 311 registradas no mesmo período do ano passado, segundo último balanço da Delegacia Especializada em Investigação de Crimes Cibernéticos (DEICC) da Polícia Civil (PC). 

Já as ameaças, que lideravam os crimes cibernéticos mais cometidos nos últimos anos, apresentaram redução de 7% neste início de 2019, caindo de 413 para 383 em comparação com o primeiro trimestre de 2018.

Os golpes pela internet também cresceram de forma significativa em Minas Gerais, subindo 43% em janeiro, fevereiro e março deste ano, passando de 965, no mesmo período de 2018, para 1.378 casos. 

O delegado Guilherme da Costa Oliveira Santos, chefe da Divisão Especializada em Investigação dos Crimes Cibernéticos e Defesa do Consumidor da PC, explica que o estelionato é praticado de diversas formas e os meios virtuais não são exceção. "Hoje é muito comum, neste tipo de crime, serem usados sites de venda de mercadoria. Eles criam anúncios falsos ou duplicam - copiam fotos e dados de um produto verdadeiro, mas com um preço bem abaixo", pontua. 

Ele detalha, ainda, como funciona o "golpe do amor". "A pessoa cria um perfil para se envolver emocionalmente com pessoas e, a partir daí, extorquir valores da vítima. Geralmente, o golpista fala que é estrangeiro, diz que mandou um presente que ficou preso na Receita e, com isso, pede que a vítima pague um valor. Também fala que quer vir para o Brasil e precisa do dinheiro da passagem", explica Santos. 

Golpe do WhatsApp

Dentre os vários tipos de golpes virtuais citados pelo delegado, o da "clonagem" do WhatsApp, que começou a ser aplicado em Minas Gerais em meados de 2017, segue fazendo vítimas.

O publicitário Thiago Souki, de 39 anos, teve sua conta no aplicativo clonada em 27 de junho. Ele conta que o suspeito chegou até o número dele depois que anunciou uma motocicleta em um aplicativo de compra e venda on-line. "Pouco depois, recebi uma mensagem pedindo o código de verificação como se fosse do aplicativo de vendas, mas, na correria, não percebi que o código que chegou era, na verdade, do WhatsApp. Eu copiei e enviei esse número sem nem pensar", relata. 

Instantes depois, percebeu que o aplicativo de conversas instantâneas não estava mais funcionando e, ao tentar reativá-lo, foi avisado que só poderia voltar a acessá-lo dentro de 7h.  "Imediatamente, liguei para a minha família, minha esposa, e fui informado que estavam pedindo dinheiro, inclusive para alguns amigos de São Paulo. Pediram R$ 3 mil, R$ 2 mil. Felizmente, nunca pedi dinheiro para ninguém e, por isso, nenhum dos meus contatos chegou a transferir", diz Souki. 

O Hoje em Dia teve acesso a algumas mensagens enviadas pelos golpistas, sendo que, em uma delas, o suspeito chegou a xingar o amigo do publicitário e ainda faz piadas. Confira: ARQUIVO PESSOAL / DIVULGAÇÃO

Golpista chegou a fazer piada ao ser descoberto

O produtor de eventos Vinícius Freitas, de 32 anos, também teve o número "clonado", mas em julho de 2018. "Pensei que fosse um problema de sinal. Quando cheguei em casa, minha irmã me perguntou se eu tinha conseguido o dinheiro de que estava precisando, e foi então que descobri o golpe. Depois fui ver que pediram não só para parentes, mas até para alguns fornecedores do meu trabalho", completou.

Mais uma vez, ninguém chegou a transferir dinheiro para o criminoso. Após acionar o aplicativo, Freitas ficou com o número bloqueado por uma semana e, após esse período, conseguiu retomar o controle da conta.

Conforme o delegado Guilherme da Costa Oliveira Santos, quem aplica este golpe acaba cometendo dois crimes em um. "A invasão do dispositivo pessoal é um e o estelionato, praticado quando pedem dinheiro para amigos e parentes se passando pela vítima, é outro. Se for presa, essa pessoa responderá a processos por estes dois crimes", afirma. 

Procurado pela reportagem, o WhatsApp confirmou que, infelizmente, o aplicativo vem sendo alvo de golpes. "Por conta disso, o WhatsApp implementou um alerta nas mensagens de verificação de conta, avisando seus usuários a não compartilharem o código recebido via SMS, uma vez que essa senha é pessoal e dá ao usuário a segurança de acesso. O alerta já está disponível para instalações no sistema Android e, em breve, chegará ao iOS", pontuou. 

A empresa ainda orientou os usuários em casos de tentativa de roubo de conta. "O WhatsApp também ressalta que a criptografia de ponta a ponta do aplicativo não é comprometida. Ou seja, o golpista não tem acesso a mensagens anteriores que estão armazenadas no seu telefone. Se o problema persistir, entre em contato com a equipe de atendimento do WhatsApp em support@whatsapp.com", finalizou. 

Notas falsas

Em fevereiro deste ano, a Polícia Civil iniciou uma investigação após o Hoje em Dia fazer uma denúncia sobre o comércio de notas e cartões de crédito falsos pelo WhatsApp na capital mineira. O material ilegal, com promessa de entrega para todo o país pelos Correios, era vendido por valores que variam de R$ 350 a R$ 800.  

A reportagem entrou em contato com um homem que se identificava como "Mineiro", pelo aplicativo. Durante alguns dias de conversa, o homem  afirmou vender o produto há 4 anos, "com total garantia de procedência, excelente qualidade, marca d'água e selo holográfico em alto relevo". 

De acordo com a assessoria de imprensa da DEICC, a investigação segue em andamento e, por isso, não poderia repassar mais detalhes para não prejudicar os levantamentos.

Promoções para roubar dados

No Dia dos Namorados desse ano, golpistas se utilizaram de promoções falsas para roubar dados pessoais de milhares de pessoas usando as redes sociais. Desta vez, as iscas foram kits de perfume da marca O Boticário e óculos Ray-Ban.

Nestas mensagens, compartilhadas em massa às vésperas da data comemorativa, o usuário era incentivado a responder uma pesquisa e a compartilhar o link malicioso com outros contatos ou grupos. As vítimas também eram direcionadas para páginas com downloads de aplicativos infectados. 

Dicas para não cair

Especialista em direito digital há 32 anos, o advogado Alexandre Atheniense alerta que as pessoas devem sempre desconfiar de qualquer tipo de oferta com preços muito abaixo do normal ou gratuitas e, também, quando não se pode identificar claramente quem é o interlocutor. "Se não tiver como chegar até essa pessoa de forma presencial ou como confirmar se o site da empresa é verdadeiro, deve-se ficar com um pé atrás", alerta.  

Ele garante que o principal problema desse tipo de estelionato é que, após os valores serem depositados, costuma ser muito difícil reverter, devolver as quantias para as vítimas. "São lacunas sistêmicas que permitem ou dificultam rastrear quem foi o agente que praticou o crime, pois, normalmente, depositam em contas de laranjas. O ideal é justamente a gente gerar uma cultura preventiva para que as pessoas não caiam mais nesses golpes", comenta. 

O delegado Guilherme Santos argumenta que "podemos fazer um paralelo entre o mundo virtual e o real. A gente não sai de casa sem verificar se a porta está trancada, tomamos uma série de cuidados que, talvez, a gente não tome no mundo virtual". Por isso, em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, o chefe da divisão que investiga os crimes cibernéticos dá uma série de dicas importantes para quem não quer ser vítima de estelionatários da web. Confira: 

- Conexão Wi-Fi: sempre verificar se trata-se de uma conexão segura. Se não for, não acesse, pois ela pode dar acesso a dados pessoais e até ao próprio telefone ou computador. 

- Sites em geral: ao acessar um endereço on-line, verifique o domínio (endereço do site), confira se existe ali na barra de endereços um desenho de um cadeado, que é a garantia de que trata-se de um site seguro.

- Aplicativos e sites de comércio on-line e bancos: para aplicar golpes usando sites mais conhecidos, os criminosos copiam todo o layout (design) da página real. Por isso, não basta olhar só para o visual. O ideal é conferir o e-mail daquele site. Se for Gmail, Hotmail ou qualquer outro @ que não seja o do domínio do site, desconfie. 

- Redes sociais: no Facebook, Instagram e WhatsApp, a principal recomendação para se evitar clonagem ou invasão da conta é a ativação da verificação em duas etapas, que é quando a pessoa cria uma senha que é solicitada para acessar a rede. No caso do WhatsApp, devemos sempre ficar atentos à forma de falar, pois os golpistas sempre falam de forma diferente da pessoa do seu convívio. Se houver dúvida, ligue, confirme, para ver se a voz é da pessoa mesmo. Também é recomendado tomar cuidado com fotos que são publicadas. O ideal é manter o perfil o mais privado possível para compartilhar somente com pessoas amigas. Para isso, também é importante só aceitar pessoas que de fato conheça. "São precauções que minimizam os riscos de você ser vítima de um golpe", completa o delegado. 

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