Imagine a cena de um robô que, semelhante a um homem, é capaz de fazer o plantio de mudas, a colheita e o transporte de toda uma safra. Manusear uma máquina com atribuições tão diversas e precisas é tarefa difícil até para os mais experientes programadores. Mas foi tirada de letra por dois jovens mineiros que acabam de voltar ao Brasil como campeões da WorldSkills Américas, uma competição realizada em Bogotá, na Colômbia, reunindo 186 alunos de 17 países do continente.
Carlos Adriano Vieira, de 18 anos, e Victor Gabriel Veríssimo Brandão, de 19, foram responsáveis por essa proeza. Com o conhecimento adquirido em treinamento oferecido pelo Senai, em Betim, na Grande BH, calcularam com exatidão cada um dos movimentos executados por um robô. O feito rendeu a eles o primeiro lugar na modalidade Robótica Móvel.
De volta à rotina de estudantes, tiveram na última quarta-feira (9) uma recepção de gala, desfilando pela cidade em carro aberto do Corpo de Bombeiros.   DEDICAÇÃO
A premiação não veio opor acaso. Foi fruto de horas dedicadas à educação. Conciliar as aulas do Ensino Médio em uma escola pública com o curso técnico da instituição foi o primeiro passo. Saíram-se tão bem nos estudos que foram selecionados para treinar para as Olimpíadas do Conhecimento.
“Vencemos a etapa estadual e, com isso, conseguimos uma vaga para a competição na Colômbia”, disse Victor Brandão. A confirmação, no entanto, só veio em dezembro de 2013. Desde então, passaram três meses – inclusive as férias de janeiro – se preparando para a disputa.
Para se destacarem entre tanta gente, elevaram o nível dos exercícios. “Tínhamos uma ideia de qual desafio enfrentaríamos lá. Então, nos propusemos a fazer provas ainda mais difíceis aqui e colocamos como meta reduzir o tempo de execução”, explicou Carlos Vieira.
A estratégia deu certo. Nos quatro dias de competição, em que tiveram de programar o robô para simular tarefas numa lavoura de café, conquistaram 96 dos 100 pontos distribuídos.
Além do reconhecimento pelo esforço, ganharam como prêmio uma viagem à Alemanha, que ainda não tem data marcada. Lá, terão uma semana para conhecer a empresa Festo, fabricante do robô.
Será a segunda vez que Carlos e Victor, moradores de Betim e Igarapé, respectivamente, viajarão para fora do país. “As duas experiências foram proporcionadas pelo estudo”, lembrou Victor. Para Carlos, a viagem abrirá novas portas. “Não é garantia de emprego, mas um importante diferencial”, disse o garoto que, agora, torce para conseguir a vaga na WorldSkills International, marcada para 2015. l
Dupla de estudantes é exemplo de superação
Se o título de campeão em uma competição internacional já é motivo de comemoração para qualquer jovem, muito mais para dois alunos que, mesmo vindo de famílias que não tiveram oportunidades de muito estudo, encaram a educação como forma de crescer na vida.
Os pais de Carlos só puderam estudar até a 4ª série. A mãe de Victor tem pós-graduação, mas o pai só pôde chegar até o fim do ensino fundamental antes de entrar no mercado de trabalho.
“Meu pai fala como é difícil conseguir emprego. Hoje, ele já consegue enxergar um futuro melhor para mim”, disse Victor. Já Carlos elogia a iniciativa da família, que não mediu esforços para lhe oferecer o melhor estudo, dentro do que era possível a eles.
Para Alessandra Latalisa, coordenadora do curso de pedagogia na Universidade Fumec, garotos como eles tornam-se referência para outros estudantes. “Todas as pessoas têm condição de aprendizagem, independentemente da classe social. Mas, muitas vezes, faltam estímulos ou o meio onde vivem interferem negativamente no processo. Carlos e Victor podem ser referência para outras pessoas que, mesmo com competência, precisam de uma inspiração para seguir investindo no conhecimento”, afirmou. 

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