Estudantes da UFMG criam purificador de água para ajudar vítimas do rompimento da barragem de Fundão

Paula Bicalho*
pbicalho@hojeemdia.com.br
24/10/2017 às 18:28.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:22
 (Arquivo do Projeto)

(Arquivo do Projeto)

Com o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, há quase dois anos, cerca de 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração tornaram as águas da bacia impróprias para consumo, dificultando a vida da população.

Pensando nisso, um grupo de estudantes da UFMG, liderado pelo professor do Departamento de Química - Rochel Montero Lago, desenvolveu um protótipo de purificador capaz de limpar mil litros de água em apenas uma hora. 

O aparelho é capaz de transformar a água do Rio Doce, que ficou lamacenta após o desastre, em água potável e própria para o consumo. O protótipo foi batizado de Iara, em alusão à lenda da sereia que habita as águas limpas do Rio Amazonas. 

“A água purificada pelo aparelho pode ser usada para beber, cozinhar, tomar banho e para a agricultura das famílias atingidas pelo desastre de Mariana. É um processo de tratamento para situações críticas, como catástrofes e acidentes ambientais”, afirma a estudante Maria Paula Duarte de Oliveira, do 6º período do curso de Química Tecnológica, uma das autoras do projeto.

Como funciona

O purificador conta com dois contêineres de mil litros que realizam o tratamento da água de forma semelhante a feita pelas empresas de saneamento. A diferença está na velocidade do processo. 

“Enquanto a companhia de água realiza a purificação em três etapas, nosso aparelho é capaz de executar o processo completo em apenas uma etapa. Além disso, desenvolvemos um protótipo facilmente manipulado pelos ribeirinhos, que só precisam adicionar o produto no equipamento e aguardar enquanto a água é tratada”, diz a aluna.

O insumo usado para purificar a água é o policloreto de alumínio. Em contato com o material poluído, ele desencadeia os processos de coagulação e floculação. 

O primeiro agrega as impurezas presentes na água, e o segundo faz a sujeira decantar no fundo do purificador. Uma equipe de profissionais responsável pela manutenção realiza, depois, o descarte da sujeira. 

“O aparelho foi desenvolvido para durar oito anos. Além de visitarmos as comunidades ribeirinhas para ensinar as pessoas a operá-lo, também faremos manutenções periódicas nos locais”, afirma Maria Paula.

Parcerias

A patente do Iara já foi depositada pela equipe da UFMG, que também formalizou parceria com a H2O Especialidades, empresa que será responsável pela fabricação dos insumos e pela produção dos purificadores. Também está sendo firmada parceria com a Samarco, que pretende adquirir 200 aparelhos para distribuição entre os ribeirinhos.

“Os moradores mais afetados pelo desastre dependem de caminhões-pipa que, infelizmente, não são enviados todos os dias para as suas comunidades. A Samarco vai financiar a produção e o transporte de 200 aparelhos, enquanto nós ficaremos responsáveis pela manutenção e por ensinar os ribeirinhos a utilizá-los. A parte mais trabalhosa é a logística, já que cada aparelho precisa de uma caminhonete para ser transportado”, conta a estudante.

Versatilidade

Maria Paula destaca, ainda, que o protótipo pode ser adaptado para rios com características diferentes. “Mudando a concentração do insumo, chegamos a um produto que pode purificar rios poluídos por dejetos diferentes. Cada região ribeirinha tem uma necessidade, então visitamos as comunidades para entender o que elas precisavam. Já fizemos testes de campo, e as populações locais gostaram do aparelho. Ele é capaz de mudar a vida daquelas pessoas”, conclui a aluna.Arquivo do Projeto / N/A

Equipe do projeto às margens do Rio Doce: Rafael Capruni, Sergio Tondato, Rochel Lago, Maria Paula Duarte e Thais Norte

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