Estudo aponta que 21,9% dos acidentes se devem à desatenção de motoristas

Letícia Alves e Sara Lira - Hoje em Dia
13/05/2015 às 06:17.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:00
 (Eugênio Moraes)

(Eugênio Moraes)

Em 1950, um desenho animado de Walt Disney, estrelado pelo personagem Pateta, mostra um pacato cidadão que se transforma em monstro quando assume a direção de um carro. O pedestre ganha feições diabólicas e incorpora uma postura de guerra, sendo capaz de passar por cima de tudo.

Confira o vídeo do Sr. Volante:


Buzina, freia, desvia, xinga, corre. Sessenta e cinco anos depois da criação do cartoon, essas atitudes são cenas comuns, principalmente em grandes cidades como Belo Horizonte. Intolerantes, motoristas estressados contribuem para o aumento dos acidentes de trânsito, de acordo com estudo da UFMG.

O levantamento, apresentado pelo pesquisador Ronaro Ferreira, que também trabalha na Gerência de Educação da BHTrans, coloca a desatenção dos condutores como responsável por 21,9% dos 668 acidentes ocorridos na capital mineira entre julho de 2012 e junho de 2014.

“O condutor está no trânsito, mas a cabeça dele, muitas vezes, está em outro lugar. Ele precisa se convencer de que o trânsito deve ser seu foco principal naquele momento”, destaca Ronaro.

“Quando pego no volante, fico impaciente”, diz o publicitário Samuel Sucasas, de 29 anos, que afirma não criar confusão com outros motoristas, mas dentro do carro xinga e grita quando vê atitudes de falta de educação no trânsito. A advogada Ana Luiza Duarte, de 41 anos, se enquadra no perfil do personagem de Walt Disney. “Me transformo. Fecho os vidros e buzino, xingo as pessoas. Sempre acho todo mundo muito lerdo na direção”.
 

Muitos pedestres são atropelados devido à falta de atenção ao atravessar as ruas (Foto: Luiz Costa/Hoje em Dia)


 

Dia a dia

O pesquisador aponta que o estresse e a tensão do dia a dia resultam na falta de atenção não só de motoristas, como também de pedestres. Na correria, muita gente acaba acreditando no “vai que dá”, quando, na verdade, não é seguro. “Atravessam a rua falando ao celular, distraídos, fora da faixa. Às vezes, não dá certo e é o que causa acidentes”, observa o estudioso.


A analista de informação Aldrey Alexandrino, de 26 anos, assume que o motivo é a pressa. Por causa disso, ela quase foi atropelada uma vez. “Estava com pressa e, de repente, o carro apareceu. Tive que correr”. Já o advogado Lucas Bicalho, de 32 anos, diz que sempre atravessa na faixa. “Acho que isso garante a segurança de todos, pedestres e motoristas”, resume.

Análise

Para o professor de Engenharia de Transporte e Trânsito da Universidade Fumec, Márcio Aguiar, o problema é consequência de um sistema de transporte coletivo ineficiente. “As pessoas não usam o transporte público porque ele não atende, mas quando colocam o veículo nas ruas, aumentam o congestionamento. Com isso, vem o estresse, que faz crescer os acidentes”.

Especialistas recomendam controle da respiração, boa música e planejamento

Se não tem jeito de escapar do trânsito em Belo Horizonte, principalmente nos horários de pico, há como evitar situações estressantes, de acordo com especialistas. Dicas valiosas, como controlar a respiração ou ouvir uma boa música podem salvar motoristas de situações complicadas.

Neuropsicóloga e professora de psicologia do Centro Universitário Newton Paiva, Arlete Santana Pereira, explica que algumas pessoas processam mais intensamente eventos estressantes, mas fatores como a intensidade e o tempo de exposição influenciam na forma como cada um encara determinado fato.

Para os estressados, a especialista recomenda exercícios respiratórios, como inspirar e expirar lentamente, e direcionar o pensamento para coisas mais agradáveis. “Essas dicas não irão tirar a atenção do trânsito, mas diminuir o impacto do agente estressante”, destaca Arlete.

Saia mais cedo

Música mais tranquila e em volume adequado também ajudam a amenizar o estresse no trânsito, recomenda o presidente da Associação Mineira de Medicina de Tráfego, Fábio Nascimento.

A extenuação e o esgotamento podem gerar danos físicos e psicológicos, como taquicardia e fobias, observa Nascimento.

Conforme o especialista, sair de casa com mais antecedência para compromissos é outra dica valiosa. “Cada vez mais, as pessoas devem sair cedo para cumprir o horário e tentar minimizar os efeitos do estresse, ter uma boa música no carro e dirigir mais relaxadas, para não piorar a tensão, que já é algo inerente ao trânsito hoje”, conclui.
 

 

Uso de celular eleva riscos na direção em até 400%

Dirigir falando ao celular é tão perigoso quanto conduzir um veículo embriagado, afirma estudo do Departamento de Trânsito dos Estados Unidos (NHTSA). A condução ao celular aumenta em até 400% o risco de acidentes. Se equipara à direção após uma pessoa ingerir quatro copos de cerveja. A atenção dos condutores cai pela metade com o uso dos smartphones.

Apesar da gravidade, os riscos não são levados à sério, alerta o consultor em transporte e trânsito Silvestre de Andrade Filho. “A combinação celular e trânsito é quase fatal. Ela é extremamente perigosa porque você desvia completamente a atenção ao dirigir e cria outro foco”.

De acordo com Silvestre, em questão de segundos é possível causar acidentes. O risco é maior ao responder mensagens pelo WhatsApp, por exemplo. “A cada segundo, você anda 11 metros, se estiver a 40 km/ hora, o que não é velocidade alta. Uma distração de 2 a 3 segundos já significa que você andou 30 metros ou mais”, destaca.

Atualmente, a multa para quem utiliza o celular ao dirigir é de R$85,13 e o condutor perde quatro pontos na carteira. Para quem dirige embriagado, pode chegar a R$ 1.915,54, além da suspensão da carteira de habilitação e apreensão do veículo.

Falar ou teclar ao celular enquanto dirige é uma infração média, segundo o Código de Trânsito Brasileiro, equivalente a jogar lixo na rua
 

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