Estudo que levou a novas evacuações em Itatiaiuçu reduziu tempo de rompimento de 34 para 6 minutos

José Vítor Camilo
04/07/2019 às 17:20.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:24
 (ArcelorMittal Brasil/Reprodução)

(ArcelorMittal Brasil/Reprodução)

Se em fevereiro deste ano, quando aconteceu a evacuação de 48 famílias que viviam nas proximidades da barragem Mina Serra Azul, em Itatiaiuçu, na região Central do Estado, o tempo previsto para o rompimento da estrutura da ArcelorMittal era de 34 minutos, agora, com um novo estudo de dam break apresentado nessa semana pela empresa, essa previsão caiu para apenas seis minutos. A informação foi divulgada na tarde desta quinta-feira (4) pela Defesa Civil de Minas Gerais, após o anúncio de que seria necessária a remoção dos moradores de outras 23 casas da região, que também poderiam ser atingidas pela lama conforme o novo relatório. 

"No dia 8 de fevereiro tivemos uma evacuação que foi feita com base em um estudo de 2015. A partir dessa data ficou acordado que a empresa faria um novo estudo de dam break (danos do rompimento), que foi entregue ontem (quarta-feira, 3). Ele leva em conta a ocorrência de uma chuva milenar - uma precipitação catastrófica que poderia acontecer a cada mil anos -, para trabalharmos com o pior cenário possível. Com isso, a mancha de inundação aumentou, passando a afetar essas 23 novas residências. Agora, trabalhamos para que possamos retirar essas pessoas de forma segura e mais tranquila do que foi na primeira evacuação", explicou o tenente-coronel Flávio Godinho, coordenador do órgão.

Ainda segundo ele, no estudo anterior a previsão era de que, com uma chuva forte, a água passaria por cima da estrutura e levaria ao rompimento dentro de 34 minutos. Entretanto, os novos levantamentos indicaram que a barragem poderia ter características de liquefação, o que levaria ao rompimento em apenas seis minutos. "Haveria um carreamento dos rejeitos de forma mais rápida e o impacto calculado sobrepõe a mancha antiga, tendo aumento em algumas partes e redução em outras", pontuou. 

Agora, a mineradora terá cinco dias para fazer a remoção destas famílias, que totalizam 159 pessoas, fora os animais de estimação e criações. Eles serão levados para hotéis e casas alugadas. O porta-voz da Defesa Civil do Estado deixou claro ainda que, apesar do novo estudo, a barragem continua com o nível 2 de risco. "Não houve aumento no risco de rompimento, o que alterou foi somente a mancha de inundação. Não estamos falando que ela vai se romper", garantiu Godinho. 

Apesar da portaria da Agência Nacional de Mineração (ANM) prever a evacuação somente quando a barragem atinge o nível 3 de risco, em Minas, a remoção das famílias da área de risco vêm ocorrendo já em nível 2. "É uma preocupação do nosso governador, em dar toda assistência às pessoas. Isso é feito em respeito às famílias e, também, para termos o tempo necessário de trabalho e apoio", completou o tenente-coronel. 

Em caso de rompimento, os rejeitos de minério levariam cerca de 18 minutos para atingir a primeira casa existente na zona de autossalvamento de Itatiaiuçu. Por isso, no dia 8 de fevereiro, foram retiradas de suas casas as 48 famílias. Agora, com as novas evacuações, o número de pessoas removidas de suas casas no município chega a 278. 

Por meio de nota, a ArcelorMittal lamentou a situação dos moradores. "A ArcelorMittal Brasil pede desculpas pelos transtornos que esta última decisão irá causar à comunidade e às famílias afetadas. A empresa reforça que a segurança deve sempre vir em primeiro lugar", declarou. "Faremos tudo que estiver ao nosso alcance para apoiar as famílias impactadas por esta última decisão, considerando que a nossa prioridade é a segurança, sempre", reforçou Sebastião Costa, CEO da mineradora.

A estrutura 

A Mina de Serra Azul produz 1.2 milhões de toneladas de concentrado e minério granulado por ano. De acordo com a ArcelorMittal, a barragem em risco está desativada desde outubro de 2012. Desde então, Serra Azul está operando sem nenhum rejeito úmido, o qual foi substituído pelas metodologias de empilhamento a seco e em cava.

Ainda conforme a Defesa Civil de Minas, a barragem em questão já está em processo de descomissionamento. "É um trabalho demorado, que necessita de muitos estudos, já que qualquer interferência no local pode ser o gatilho para ela se romper", afirmou Godinho. 

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