Estupro, tortura, bicheira e mortes: polícia detalha terror em asilo de Santa Luzia

Renata Evangelista
02/10/2019 às 12:47.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:02
 (Polícia Civil/]Divulgação)

(Polícia Civil/]Divulgação)

"Esse é um capítulo negro na história de Santa Luzia. Nunca vi nada igual. A gente só pode comparar com o que vimos nos livros de história". A declaração é da delegada Bianca Prado, que nesta quarta-feira (2) detalhou o que acontecia no asilo particular Acolhendo Vidas, que funcionava na cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Por causa dos maus-tratos que aconteciam na casa de repouso, pelo menos 18 idosos teriam morrido. A investigadora contou que, além de ficar até três dias sem poder comer e beber água, alguns internos também eram agredidos com socos, pontapés e outros tipos de agressões. "Quebraram uma cadeira em cima de um idoso", detalhou a delegada. 

Durante a investigação, que durou 60 dias e terminou no indiciamento de seis pessoas, a Polícia Civil descobriu, inclusive, casos de estupros. Uma das vítimas, segundo Prado, foi um idoso de 70 anos, que era obrigado a fazer sexo oral na dona do asilo. Aos investigadores, ele contou que a mulher também introduzia o dedo no ânus dele.

Uma cadeirante de 23 anos, que tem os membros atrofiados, teria sido abusada sexualmente por duas pessoas - pela dona e pelo marido da proprietária do imóvel. Testemunhas contaram à polícia que viram os dois beijando a boca da jovem à força, e que ela constantemente ia dormir de roupa e acordava despida. "Outra interna contou que a menina gritava por conta dos abusos", relatou a delegada.

TorturaPolícia Civil/Divulgação Marcas das agressões 

No inquérito, que tem mais de mil páginas, os investigadores também relataram afogamentos na piscina e banhos de água gelada, que era retirada da piscina. "Um senhor chegou no hospital com bicheira (infecção parasitária causada por larvas de moscas que invadem a pele)", falou a investigadora.

Prado recordou do cenário chocante que encontrou na clínica de repouso, mas explicou que as famílias dos internos não sabiam o que acontecia por lá. "Estamos lidando com uma população muito humilde. Uma população que não tem o conhecimento do que é tortura e do que é maus-tratos".

Com relação as 18 mortes, a delegada Bianca Prado explicou que nem todas ocorreram por conta das agressões, mas sim por negligência. "As pessoas tiveram a situação física agravada por causa da falta de medicamento, por falta de higiene e pela questão dos maus-tratos. Tudo o que aconteceu ali ou foi gerado por essa negligência ou foi acelerado por ela".

Indiciamento

No total, o relatório da Polícia Civil apresenta o indiciamento de seis pessoas, entre os donos do asilo, um funcionário e o dono do imóvel onde funcionava o estabelecimento - sendo que este último não está preso e responderá por lesão corporal leve. 

Os quatro integrantes da família que comandava o asilo foram indiciadas por torturas, com o agravante de mortes. Além disso, dois vão responder por estupro de vulnerável. Contra a dona do estabelecimento também há o crime de desacato.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por