Exemplos de quem ultrapassa barreiras e se dedica a ajudar quem precisa, criança, idoso ou animal

Renata Galdino - Hoje em Dia
12/06/2015 às 06:25.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:26
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Quando a psicóloga Vera Cardoso de Almeida Santana, de 56 anos, entrou em um abrigo para crianças com deficiência, na Zona Norte de BH, em 2007, não imaginou que a vida da família dela iria mudar completamente.

Para quem estava apenas visitando um dos assistidos por uma amiga, ela acabou saindo de lá com o desejo enorme de levar para casa o pequeno Abílio, na época com quase 2 anos. O amor à primeira vista fez com que a psicóloga abrisse o coração para acolher o garotinho com paralisia cerebral severa. A família dela é um exemplo de que o sentimento pode superar qualquer dificuldade.

Crianças com algum tipo de problema físico geralmente não estão na preferência dos candidatos à adoção. “Nunca pensei adotar uma criança, mas o que aconteceu quando cheguei ao berçário e vi o Bibi é um mistério. Foi algo inexplicável”, diz Vera.

O próximo passo foi levar o marido, Adenilson Tiago Santana, de 42 anos, e o filho biológico, João, de 21, para conhecerem Abílio, hoje com 9 anos. Com eles não foi diferente. “Todos se apaixonaram. Não teve como escapar desse sentimento”, relembra a psicóloga. Porém, o processo para ter em casa o menino estava apenas começando.

Demora

Enquanto a afeição pela criança só crescia, a demora na adoção também aumentava a ansiedade. Por causa das debilidades de Abílio, a família temia pelo pior. “Nossa vontade era levá-lo para casa imediatamente e cuidar dele”, conta Vera.

Quatro anos depois, a vitória. Desde que a adoção foi oficializada, a família se desdobra em cuidados e carinho. Nem o filho de Vera admite a ausência de Abílio nas reuniões familiares e nas festas.

Recompensa

“O amor compensou toda a espera. Há pessoas que veem diferenças nos cuidados diários de uma criança ‘normal’ e de uma com limitações. Não é assim. Eles são os mesmos”, enfatiza a mãe de Abílio.

Dedicar-se ao pequeno, garante Vera, é recompensador. “É uma troca intensa entre quem é acolhido e quem acolhe. Não consigo associar quem adotou quem. Olho para o Bibi e vejo o que é alegria, meu sentimento se traduz em felicidade. Se o meu amor por ele é grande, o do pai é estupidamente maior. O sentimento do irmão, nem se fala”, revela a psicóloga.


Empresária aluga casa para acolher idosos moradores de rua



AFETO – Evani não esconde a emoção por cuidar dos mais velhos em Contagem. FOTO: Wesley Rodrigues/Hoje em Dia)



Em te mpos onde muitos valorizam mais o “ter”, quem abre mão de uma vida polpuda por amor a desconhecidos facilmente é criticado. Foi assim com a empresária Evani Salvador Silva, de 43 anos. Há cinco, quando o irmão era tratado do alcoolismo em uma casa de recuperação, ela foi tomada por um sentimento “inexplicável” pelos internos. Após a estadia do parente, Evani não pensou duas vezes: alugou um imóvel em Contagem, na Grande BH, para acolher idosos moradores de rua com o mesmo problema. Desde então, já cuidou de mais de 100 pessoas. Atualmente, dois idosos vivem no local.

Até mesmo ela se surpreendeu com a decisão. “Nunca me imaginei pegando pessoas da rua para cuidar. Quem faz isso? Elas são vistas com desprezo, mas eu as amo”.

Dedicação

Os cuidados aos idosos são diários. Uma vez por mês, a empresária leva um deles para tratamento radioterápico na capital. A jornada é cansativa: oito ônibus para ir e voltar do hospital. “Saímos às 9h da manhã para a consulta às 15h. Se for preciso, faço todo dia”.

É Evani que também faz a barba dos idosos, cozinha e até troca fraldas. “Pago um preço alto pela escolha que fiz, mas não vou parar. E não adianta tentarem tirá-los de mim: não deixo!”


Ativista pulou na Lagoa da Pampulha para salvar gata que estava se afogando
 

DEFESA – Betto Fernandes é um dos ativistas que não deixaram a história do imóvel morrer (Foto: Luiz Costa/Hoje em Dia)


Se você acha que loucuras de amor valem somente entre humanos, prepare-se para mudar seu conceito. Que o diga a autônoma Bruna Bueno, de 27 anos. Há cerca de dez anos, a jovem deu o que considera uma das maiores demonstrações de afeto a um bichinho: sem titubear, pulou nas águas imundas da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, para resgatar uma gatinha que tinha sido jogada ali, com as patinhas amarradas.

Até mesmo os problemas de saúde que teve após o salvamento – o primeiro de outros que vieram nos anos seguintes – valeram a pena, garante Bruna. “As pessoas viram a gata lutando para sobreviver, mas nada fizeram. Pulei na lagoa, passei por debaixo da vazão de água e a retirei. A Clara (nome que o bichano recebeu) é a minha filhinha até hoje”, relembra, não escondendo a emoção.

Gratificante

A paixão de Bruna pelos animais começou na infância. “Eu dizia que seria médica de bichinho, nem sabia que a profissão era veterinária. Não consegui, mas hoje cuido deles da mesma forma, com muito amor, carinho e dedicação”.

Para isso, a autônoma abriu mão de ter filhos e uma vida financeira mais tranquila. O dinheiro que ganha com transporte de animais ajuda nas despesas do sítio onde mora com o marido em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de BH, e no sustento dos nove cachorros e dos 30 gatos que vivem atualmente na residência – a maioria para adoção. Inclusive, a mudança para o sítio ampliou o espaço para os bichos.

A ativista afirma que há anos não compra roupas para ela, mas na casa não falta ração para os animais. O resultado, de acordo com Bruna, é gratificante. “Valeu a pena abrir mão de tudo por eles. Acordo todos os dias, às 6h da manhã, coloco comida para eles, e é assim, com muito cuidado, que sigo o meu dia. O marido me apoia em tudo”.

Como filhos

O mesmo amor incondicional pelos animais é compartilhado pelo advogado Felipe Calabró Queiroga, de 37 anos, que afirma: o afeto é “desde sempre”. Há três anos, ele levou para casa uma cachorrinha – a Pururuca –, depois de ela ser abandonada na porta de uma ONG na capital.

Prevista para durar uma semana, a estadia da cadelinha perdura. “Não tive coragem de dá-la para adoção. O amor que nasceu tornou-se muito grande”, diz. Em casa, o advogado tem dois cachorros e 40 pássaros – e não descarta levar mais animais para lá. Apoio ele tem dos pais, com quem mora.

E os cuidados vão além: hoje, Felipe atua na causa animal e, há dois anos, é voluntário na mesma ONG onde a Pururuca foi deixada. “Tem gente que pensa que os bichos não precisam de cuidados específicos, carinho. Eles precisam, sim, serem tratados como nós. Os tenho como meus filhos”. (R.G.)


MUDANÇA - Bruna decidiu viver em um sítio para ter mais espaço para os animais resgatados (Foto: Wesley Rodrigues (Hoje em Dia)


Grupo transforma casarão antigo no Santa Efigênia em espaço para promoção cultural

Patrimônio histórico degradado no país não é algo difícil de encontrar. Várias são as edificações erguidas no passado que hoje estão esquecidas e com a estrutura ameaçada. Sem a intervenção das autoridades, os que defendem exaustivamente a manutenção desses espaços encontram na mobilização a saída para salvar o que mantém viva a história de uma cidade.

Embalados pela esperança de preservação da memória, ativistas mineiros decidiram, em outubro de 2013, ocupar um casarão antigo na rua Manaus, no bairro Santa Efigênia, Leste da capital. O imóvel centenário, abandonado há cerca de 20 anos e com a estrutura comprometida, abrigou um hospital militar e uma unidade psiquiátrica infantil.

Para o estudante de história Betto Fernandes, de 28 anos, a memória em si do imóvel é triste. “Porém, ele é tombado pelo município e precisava ser conservado. O governo deve manter o patrimônio conservado. Se ele não faz, a população tem o direito de exercer esse cuidado. Foi o que fizemos”.

Luta

O apreço pela história e pelas artes motivou Betto a integrar o grupo que articulou a “invasão” na rua Manaus. Após embate com o governo estadual, os ativistas assumiram a gestão da casa e abriram as portas do Espaço Comum Luiz Estrela, dedicado às manifestações culturais. Como resultado do amor ao patrimônio histórico e às artes, o grupo conseguiu mudar o destino da edificação. Uma nova mobilização levantou parte dos recursos para o restauro do prédio. “Tem muito a ser feito, mas não vamos desistir. O zelo não é apenas pelo patrimônio, mas pela experiência que estamos vivenciando”, comenta Betto.

A experiência, inclusive, é ponto de partida para a ocupação de outros imóveis públicos abandonados. O objetivo: cuidar da estrutura e disseminar a cultura. Um dos espaços, segundo ele, é um prédio abandonado há cerca de 15 anos no Barreiro. “A luta não para”. (R.G.)

“O Abílio revolucionou todos os nossos conceitos. É um amor inexplicável, e faz com que nossa família se mobilize em torno dele sem isso parecer se tratar de um problema” Vera Cardoso de Almeida Santana
 

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