Expansão do metrô de BH é planejada desde a inauguração, há três décadas

Igor Patrick
ipsilva@hojeemdia.com.br
31/07/2016 às 19:05.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:05
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Tão cobrada hoje pela população, a expansão do metrô de Belo Horizonte já era planejada desde a época da estreia do serviço na cidade, em meados de 1986. Trinta anos depois de iniciado o serviço, completados hoje, o cumprimento das promessas ainda é esperado. 

Um dos dez primeiros maquinistas do sistema na capital, Raymundo Anastácio relembra que, naquela época, uma placa na Estação Central detalhava as fases de expansão da linha. “Já se falava que chegaria até o Barreiro e em Betim. Estou na empresa há mais de 30 anos e acho que vou aposentar sem ver esse projeto concluído”, lamenta.

A última obra da linha atual foi a criação da estação na avenida Vilarinho, região de Venda Nova, em outubro de 2002. Quatorze anos depois, pouco se avançou além de projetos e estudos de viabilidade. Com a demanda pelo sistema reprimida e com o trânsito na capital cada vez mais caótico, a obra faz falta.

Novos ramais poderiam aumentar a capacidade do serviço em até 50%

“A linha do Barreiro já tem até trecho separado para intervenções, mas sempre esbarramos na questão orçamentária. Aumentar o metrô é algo complexo, que depende de muito dinheiro”, conta o superintendente de Trens Urbanos da CBTU, Miguel Marques.

Não há previsão para ampliação e modernização da linha 1 (orçada em R$ 800 milhões) nem mesmo para a construção dos novos ramais, que ligariam a estação Calafate ao futuro terminal Barreiro, a Lagoinha à Savassi e a do Eldorado a uma em Betim. Só a primeira obra poderia aumentar a capacidade do serviço em 50%.

Três projetos para expansão estão sendo realizados desde 2013, frutos de um termo de compromisso assinado entre o Estado e o governo federal. Segundo a Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop), o desenho das novas linhas está quase no fim.

Em nota, a Setop informou que “o governo do Estado espera análise em Brasília para transferir a responsabilidade do serviço a Minas Gerais”. 

Atraso de 200 anos

Membro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Minas Gerais (CAU/MG), o arquiteto Renato Melo trabalhou como responsável pelos projetos da Prefeitura Municipal de Barcelona, na Espanha, durante três anos e meio. Quando voltou a Belo Horizonte, constatou o atraso da capital mineira quando o assunto é metrô. “Para se ter uma ideia, lá o sistema tem 113 quilômetros e 148 estações. Nós temos 28 quilômetros e 19 estações”.

Na tentativa de estimular o debate em torno do tema, o arquiteto criou um projeto que mostra como seria o mapa do modal em Belo Horizonte e região metropolitana para atender a demanda atual. Usando um programa de desenho arquitetônico, Renato sobrepôs a topografia da cidade, com manchas de densidade populacional (áreas com maior concentração de pessoas) e os traçados de origem e destino das principais linhas de ônibus da cidade.

O profissional chegou a um desenho com 125 estações, planejadas com 1,5 quilômetro de distância uma da outra. Mas ainda não seria o suficiente.

“Estamos lidando com a demanda atual, que já é reprimida. Se começasse a ser construído hoje, esse projeto levaria pelo menos 50 anos para ficar pronto, mas é um quarto de projetos de Barcelona e Paris. Estamos pelo menos 200 atrasados em relação a outras capitais”, avalia o arquiteto.

Sindicato dos Metroviários denuncia falta de manutenção

Se a discussão das obras de modernização e expansão do metrô atual parecem emperradas, outros problemas bem mais urgentes se acumulam no colo da CBTU. 

Segundo o vice-presidente do Sindicato dos Metroviários, Romeu Neto, a falta de dinheiro tem atingido desde a compra de combustível para veículos que dão manutenção nas linhas durante a noite, a falta de óleo lubrificante, peças e até estopa para limpeza dos equipamentos. “Até as manutenções corretivas (quando há um problema e o trem é recolhido) têm sido mais esporádicas”, denuncia Neto. No início de junho, por exemplo, cerca de 18 trens ficaram parados no pátio por falta de peças e pessoal para corrigir os defeitos. 

Ainda de acordo com o sindicalista, a situação é tão complicada que o prédio da própria sede da CBTU ficou sem limpeza durante três meses no início deste ano, porque o contrato com a empresa que fazia o serviço não foi renovado.

Corte na verba

O superintendente de Trens Urbanos da CBTU, Miguel Marques, nega que os trens estejam ficando sem funcionamento por falta de manutenção. “O que aconteceu é que fomos proibidos pela Justiça de terceirizar funcionários. A situação vai ser resolvida com o concurso público aberto para essas áreas de prestação de serviço”. 

Miguel cita ainda que, embora já normalizados, os problemas apontados por Romeu foram causados pela queda nas verbas da empresa.

Preocupação

Resultado de um investimento de R$ 171,9 milhões, os dez novos trens que operam em Belo Horizonte já são alvo de preocupação dos funcionários. Os 40 carros adicionais expandiram a capacidade do sistema de 230 mil para 350 mil, mas estão na garantia apenas até maio do ano que vem. Depois desse período, a manutenção dos equipamentos passa a ser de responsabilidade da CBTU, que já se encontra com problemas orçamentários para cuidar dos trens antigos. De acordo com Romeu Neto, o Sindmetro-MG teme que acabe faltando pessoal e dinheiro para gerir os equipamentos novos.
 Editoria de Arte

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por