Explosão de DST: casos de gonorreia e clamídia em 2017 superam a soma nos quatro anos anteriores

Malú Damázio
mdamazio@hojeemdia.com.br
02/11/2017 às 13:50.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:31
 (Fernanda Mafra / Prefeitura de Olinda)

(Fernanda Mafra / Prefeitura de Olinda)

Ao urinar, ardor e corrimento esbranquiçado. Os sinais que denunciam duas das principais doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) no mundo, a gonorreia e a clamídia, são subestimados pela maioria dos homens, enquanto a quantidade de infectados cresce silenciosamente. Dados da rede de saúde municipal mostram que Belo Horizonte vive uma explosão dessas DSTs. Só neste ano, foram registrados 296 casos.

O número é 25% maior do que a soma dos quatro anos anteriores. A Prefeitura de BH (PBH) atribui o crescimento expressivo ao aumento de notificações feito por agentes de saúde. Urologistas, no entanto, são categóricos: há, sim, mais jovens, adultos ou idosos doentes.

Diferença é de 480%

Consultórios cheios

“Vivemos um momento de liberdade sexual, as pessoas têm iniciado a vida sexual cada vez mais cedo e têm mais parceiros”, diz o presidente da Sociedade Brasileira de Urologia em Minas Gerais (SBU-MG), Pedro Romanelli. 

Segundo o coordenador do Programa de Residência em Urologia do Hospital das Clínicas da capital, Augusto Barbosa Reis, o fenômeno não é exclusividade do Brasil. “Nas décadas de 1980 e 1990 as pessoas se preocupavam bastante com a proteção porque a Aids era uma doença que podia levá-las à morte rapidamente. Só que o cenário mudou. Hoje, o tratamento garante aos soropositivos viverem com qualidade. Por isso, jovens não sentem mais medo de fazer sexo sem camisinha”, acrescenta o urologista, também professor da Faculdade de Medicina da UFMG.

A camisinha é a principal forma de se evitar a contaminação. Por terem sintomas semelhantes, clamídia e gonorreia são classificadas nos formulários de notificação como síndrome do corrimento uretral masculino. 

Apesar de o termo nos protocolos trazer a palavra “masculino”, gonorreia e clamídia também acometem mulheres. Nelas, as infecções podem, muitas vezes, nem apresentar sintomas, dificultando o diagnóstico. Os prejuízos ao organismo feminino, porém, são ainda maiores. Além da infertilidade, dor durante a relação sexual. 

As mulheres também podem desenvolver gravidez nas trompas e ter parto prematuro. Caso o bebê tenha contato com a vagina da mãe, corre o risco de nascer com conjuntivite e, posteriormente, perder a visão.

Notificação

Desde 2011, as ocorrências de síndrome do corrimento uretral masculino devem ser identificadas nas redes de saúde. No entanto, a SBU-MG estima que a quantidade de infectados possa ser até cem vezes maior. A subnotificação acontece porque só são registrados os casos comprovados. 

O urologista Pedro Romanelli afirma que a maior parte dos doentes que procuram ajuda vai aos prontos-socorros, locais em que a estrutura de saúde é emergencial. “O paciente vem com sintomas inespecíficos e conta aos profissionais de plantão. O médico, que não é urologista, tem suspeita do que pode ser, receita um antibiótico que irá tratar a pessoa, mas não comprova, com exames, que aquilo era uma DST. Aí o caso não é registrado”, diz.

Só nota

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) afirma que, desde 2011, “a sensibilização dos profissionais de saúde para este diagnóstico foi fator fundamental para o aumento de registro da doença”.

Em BH, cerca de 1.500 agentes de saúde que entregam material informativo e camisinhas são formados todos os anos. A pasta ainda diz que ações contínuas de prevenção são realizadas e distribui, gratuitamente, um milhão de preservativos masculinos e femininos por mês em diversas unidades de saúde da cidade.Editoria de Arte

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