Exposição retrata Bento Rodrigues antes e depois do desastre

Renato Fonseca
rfonseca@hojeemdia.com.br
16/05/2016 às 19:21.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:28
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Pendurado na parede, o antigo relógio marca a hora do desastre: 16h36. Sobre a mesa, xícaras, café e um crucifixo. Na mesma sala, um tear, cadeiras e uma TV. Poucos passos à frente, em outro cômodo, a devastação. Lama por todos os cantos e vários utensílios domésticos destruídos. 

O “antes e depois” da tragédia, em um casa cenográfica de Bento Rodrigues, pode ser visto em mostra do Corpo de Bombeiros, iniciada ontem em Belo Horizonte. A exposição “Paisagens que transformam” ainda apresenta fotos do trabalho de resgate e equipamentos utilizados pelos militares durante as buscas e salvamentos.

Coordenador da mostra, o sargento Wagner Augusto explica que a proposta tenta recriar nas pessoas parte do sentimento vivido pelos moradores atingidos que perderam tudo. “O visitante sai de um ambiente extremamente acolhedor, na primeira sala, e logo de cara se depara com a destruição. Para as pessoas que viveram essa tragédia, infelizmente, foi assim, de uma hora para outra”. 

“Fomos acionados por meio do 193 sobre o rompimento de barragem, mas não sabíamos a proporção do desastre. Meia hora depois estávamos na cidade. Minha equipe foi em uma aeronave. Logo no primeiro contato vivemos aquele mar de lama, um cenário de guerra, de devastação total em Bento Rodrigues. Demos todo o suporte e partimos em direção a Taquaraçu de Baixo. Conseguimos ultrapassar a lama, passamos na crista dela. O barro estava arrancando árvores e destruindo tudo que via pela frente. No distrito, algumas pessoas estava acenando para a aeronave, como se nada estivesse acontecendo, sem saber de nada. Pousamos e foi aquele pânico. Tentamos organizar as as pessoas e fomos, a pé, a cavalo e nos carros para o alto de um morro, onde tinha um cemitério. Depois voltamos para Bento e só no outro dia fomos ter a proporção do estrago. Em 17 anos de Bombeiro, nunca tinha imaginado viver aquilo” Sargento Wesley FariaResposta a Desastres

Aluna do sétimo período de jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Luana Barros, de 22 anos, também participou da iniciativa. É dela uma das fotos no mural colocado na parede. Para a jovem, essa é uma oportunidade das pessoas “estarem em primeira pessoa diante do desastre”.

Escolas públicas e particulares também podem organizar visitas. Segundo os Bombeiros, oficinas de primeiros-socorros serão oferecidas aos alunos. A exposição pode ser vista até 17 de junho, no Museu dos Militares Mineiros (rua Aimorés, 698, bairro Funcionários). A entrada é gratuita.

Além da mostra, a corporação organiza hoje e amanhã um seminário sobre o tema em uma universidade da capital. Mais informações no site bombeiros.mg.gov.br.

“Nem o tsunami de lama nem o rastro de destruição. Minha lembrança mais marcante da tragédia são os olhares distantes e incrédulos das pessoas atingidas no dia seguinte. Antes mesmo de o sol nascer naquela manhã de 6 de novembro de 2015, crianças, adultos e idosos se espremiam no amontoado de colchões, roupas, alimentos e outras doações levadas para o ginásio poliesportivo, no centro de Mariana. Os corpos cansados ainda exibiam as marcas do desastre. Meninos e meninas choravam sem entender o que estava acontecendo e as mães tentavam buscar forças para acolher os pequenos. Era de partir o coração. Porém, em meio a tanta dor e sofrimento, uma corrente do bem começava a se formar. Acredito que a solidariedade dos ilustres desconhecidos também ficará marcada para sempre na memória daqueles que perderam tudo”. Renato FonsecaRepórter do Hoje em Dia que acompanhou a cobertura da tragédia de Mariana
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