
Preso nessa quarta-feira (3) em Balneário de Camboriú, em Santa Catarina, um dos homens mais procurados do Estado de Minas Gerais foi ouvido pela Polícia Civil nesta quinta (4). Segundo a PC, Luiz Henrique Nascimento do Vale, o Totó, ostentava uma vida de luxo no sul do país. Ele é suspeito de liderar uma quadrilha de tráfico de drogas sediada no bairro Santa Cruz, região Nordeste de Belo Horizonte, responsável por homicídios, roubos a bancos e veículos.
Com seis passagens pela prisão entre 2004 e 2017, tendo conseguido alvarás de soltura em todas elas, é a última saída de Totó da Penitenciária Nelson Hungria em dezembro de 2017 que chama a atenção. Suspeito de cometer mais de 20 assassinatos e condenado a 53 anos de prisão, na ocasião, ele saiu pela porta da frente da penitenciária de segurança máxima e, desde então, era considerado foragido.
A informação de que ele teria pago R$ 600 mil pelo alvará motivou a abertura de sindicâncias pela Polícia Civil e pela Seap, que informou que "o procedimento administrativo aberto está em andamento e as informações são de caráter sigiloso".
Já a Polícia Civil respondeu que "a análise de suposta falta disciplinar está sendo realizada pela Corregedoria-Geral da PCMG, observando os critérios do contraditório e ampla defesa". Na coletiva convocada pela corporação nesta quinta, o delegado chefe do Departamento de Crimes contra o Patrimônio, delegado Márcio Nabak, reiterou a informação.
"É um fato obscuro que tem que ser apurado. A Polícia Civil não coaduna com desvio de conduta do que quer que seja. A nossa corregedoria está a par da situação. Com a prisão do Totó, as apurações serão aprofundadas e certamente vamos chegar ao envolvido na liberação dele e de outros. Mas, ele saiu de maneira ilegal, eu posso afirmar".
Totó nega que pagou propina para ser liberado da prisão. "Eu não paguei nada porque eu não tenho condições de pagar por isso. Saí com alvará legítimo. Eu não estava foragido, eu estava omisso", respondeu. O advogado dele, Fernando Magalhães, havia dito que um acordo de delação premiada seria uma possibilidade e que iria tratar sobre o assunto com Totó.
Os crimes
O delegado João Marcos Prata, da Delegacia Especializada em Repressão de Roubo a Bancos, aponta Totó como líder da quadrilha sediada no bairro Santa Cruz, em BH.
"Constatamos que a organização criminosa, que tem Totó como líder, possui um farto armamento bélico, incluindo fuzis, pistolas e submetralhadoras, e acreditamos que este armamento seja terceirizado para o cometimento de crimes contra o patrimônio. Os integrantes da quadrilha fomentam o tráfico de drogas e diversos homicídios em Minas. Temos diversas ocorrências aqui no Estado com o uso destas armas de alta energia, então, as investigações foram iniciadas neste sentido".
O delegado ainda revela que a quadrilha liderada por Totó é extremamamente violenta. "Muitos dos crimes realizados pela quadrilha não têm a participação dele propriamente dita, mas têm ele como autor intelectual, como mandante. É um criminoso extremamente violento e temido no meio. Ele, inclusive, em conversas informais com policiais, se gaba de não ter inimigos, porque todos os que tinha, ele já matou".
Ainda de acordo com a Polícia Civil, as investigações dão conta de que ele está envolvido em diversos homicídios, sendo que dois deles foram cometidos com uso de fuzil. Os crimes que tiveram bastante repercussão foram a morte do advogado Jayme de Oliveira, no bairro Castelo, em 2013; e do empresário Adriano Costa Vale, em fevereiro do ano passado, no bairro Santa Cruz. Totó nega que tenha participação em qualquer homicídio.
"Não tenho nenhum envolvimento com homicídio algum. Eu conhecia o Jayme, era meu amigo, além de ser meu advogado. Imagina a covardia que foi feita comigo [sobre associar seu nome ao crime]", disse. Ele também relata que conhecia o empresário assassinado por ser seu vizinho. Segundo Totó, uma desavença com policiais militares em 2009 por causa de uma multa de trânsito é a causa da perseguição que alega sofrer. "Isso acabou com a minha vida e a vida da minha família, é uma perseguição que estão fazendo comigo", disse.
O delegado rebate: "Ele alega não ter participação nenhuma nestes homicidios. Inclusive, durante as ações, ele se encontrava no shopping. Mas, nós não temos dúvida de que ele é o mandante do crime, os executores são da quadrilha dele e o armamento é dele. Ele premeditou os crimes, e para conseguir um álibi, foi para o shopping enquanto o Jayme e o Adriano eram assassinados. Os homicídios, inclusive, foram com fuzis, porque os carros das vítimas eram blindados".
As investigações continuam para apurar a falsificação dos documentos de Totó, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e a origem do armamento, já que, ainda conforme o delegado, a suspeita é que as armas vieram de fora do país.