Falha na fiscalização fomenta transporte ilegal em Confins

Renata Galdino - Hoje em Dia
15/03/2014 às 07:58.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:38
 (Eugênio Moraes)

(Eugênio Moraes)

Cooperativas ilegais de táxi agem de forma organizada no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Em uma estrutura que envolve agenciadores, olheiros e motoristas que utilizam carros particulares, conhecidos como “piolhos”, o grupo recorre à tecnologia para avisar comparsas sobre a presença de fiscais e blitze e sobre a movimentação de passageiros no terminal.

A situação é recorrente, mas em ano de Copa do Mundo, a impressão é a de que ainda está longe de ser resolvida. Nas três horas em que a reportagem do Hoje em Dia permaneceu no aeroporto, na última sexta-feira (14), pelo menos um agenciador, bem vestido e aparentando ter 40 anos, agiu livremente em frente ao portão de desembarque doméstico. Enquanto o homem abordava potenciais clientes, um colega levava quem aceitava o serviço ilícito até o carro estacionado. No local, uma terceira pessoa, o motorista, aguardava o passageiro.

Em um táxi legalizado, são cobrados, em média, R$ 110 em uma corrida do aeroporto até o Sion, zona Sul de Belo Horizonte. No transporte irregular, o preço cai para R$ 90. Esse foi o orçamento oferecido pelo agenciador à reportagem, que se passou por cliente.

O homem disse que tinha levado um passageiro até o aeroporto e que tentava outro para “arrumar um troquinho” na volta. Pensando que estava prestes a fechar um serviço, ele entregou um cartão com o nome de uma empresa que faz transporte executivo em veículos de luxo e com alto padrão de atendimento.

“É o que estão oferecendo, um serviço mais especializado, mas o passageiro não sabe o risco que corre”, alerta o diretor de fiscalização do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), João Afonso Baeta.

Ele garante que, apesar de a reportagem não ter visto fiscais no período em que esteve no aeroporto, os agentes adotaram a estratégia de abordar passageiros e “piolhos” no estacionamento do terminal, quando o grupo já está no carro, ou no Centro de Belo Horizonte. Para isso, três equipes do DER ficam de prontidão na capital, em contato direto com colegas que avisam a saída do clandestino.

Nos dois primeiros meses deste ano, o órgão promoveu 250 abordagens de veículos suspeitos de transporte clandestino na região de Confins. Desse total, 25 foram apreendidos e os motoristas, detidos. Eles assinaram um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e foram liberados.

‘Piolhos’ lançam mão da tecnologia para se perpetuar no aeroporto

O uso de aplicativos que permitem a comunicação em tempo real, como o WhatsApp, a legislação branda e a ausência de fiscalização fomentam a atuação de táxis clandestinos no Aeroporto de Confins. A constatação é de uma autoridade policial que pediu anonimato. “O ‘piolho’ é detido em flagrante, mas assina um Termo Circunstanciado de Ocorrência. Está praticamente livre e volta a agir”, diz.

O comandante do pelotão da Polícia Militar no terminal, tenente Ricardo Azevedo, por sua vez, garante que há trabalho de inteligência em conjunto com a Polícia Civil. Segundo ele, imagens de câmeras da Infraero também ajudam no monitoramento e na abordagem fora do perímetro do aeroporto. “A ideia é coibir e apreender o veículo”, afirma.

Para ele, o próprio passageiro precisa ter a iniciativa de não aceitar o serviço de um clandestino. “Se existe oferta é porque há demanda. O usuário tem sua parcela de culpa”, avalia o policial.

Entre os taxistas regulares, sentimento de revolta e impotência. Atualmente, 508 profissionais são credenciados a prestar serviço no terminal. “Estamos reféns dos ‘piolhos’. Eles agem descaradamente e não vemos ninguém nos defender”, desabafa S.R., que atua há três anos em Confins, vinculado ao táxi metropolitano (autorizados a circular na região metropolitana).

Segundo ele, os gastos para manter o serviço legalizado é de cerca de R$ 20 mil. “Só de seguro contra acidentes, por exemplo, o DER exige um mínimo de R$ 5 mil. “Dá vontade de largar tudo e trabalhar como os ilegais, pois eles ganham mais e não pagam tributos”, diz um taxista de Belo Horizonte. “Perdemos um rendimento bom, mas os ‘piolhos’ estão lá, sem que ninguém faça nada”.
 

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