Falso médium retirou mais de R$ 640 mil de vítimas para 'purificar' dinheiro

Mariana Durães
27/12/2018 às 20:26.
Atualizado em 05/09/2021 às 15:46
 (Mariana Durães)

(Mariana Durães)

Truques de mágica como se fossem habilidades de um médium. Era assim que um estelionatário aplicava golpes em idosos e aposentados de Belo Horizonte, aproveitando a fragilidade emocional das vítimas para arrecadar grandes quantias. De acordo com a Polícia Civil, o homem, de 55 anos, abusava da fé alheia apresentando fotografias ao lado de líderes espirituais famosos. As imagens, porém, eram montagens.

Os investigadores acreditam que o suspeito, preso no último dia 19, agia há sete anos na capital. Até o momento, nove pessoas já denunciaram o falso curandeiro, que se apresentava como Antônio, Mestre Antônio e Mestre Alves.

Em menos de seis anos, ele teria obtido pelo menos R$ 647 mil. Dentre as vítimas, está um idoso de 84, que teria repassado R$ 324 mil, e um outro de 79, que entregou R$ 39 mil. Detalhes dos casos não foram revelados.

O impostor também conseguiu retirar R$ 284 mil de uma professora aposentada, de 71. Ela foi atraída na rua, por uma comparsa, em 29 de novembro. Levada até uma sala em um prédio na Praça 7, no Centro, onde o homem atendia, a mulher passou a contar os problemas de saúde pelos quais ela, o marido – um ex-funcionário do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) – e a filha passavam.

Purificação

Foi quando o suposto médium ofereceu o tratamento espiritual. O ritual era baseado em truques. Segundo a polícia, o homem tinha uma carteirinha da Associação dos Mágicos de São Paulo. Durante dez dias, a vítima se encontrou com o falso curandeiro. 

Em uma das sessões, o homem pediu a ela para levar água da torneira de casa, que foi despejada em uma bacia com produtos químicos. Depois, Mestre Antônio mergulhou uma folha branca em outro recipiente, que, ao ser retirada, tinha a imagem de um caixão. 

Com o pretexto de “purificar” o dinheiro, pediu a ela um extrato bancário e R$ 5 mil. Posteriormente, o valor foi devolvido em um envelope, mas a orientação era deixá-lo guardado por uma semana. Após repassar valores maiores, a idosa começou a desconfiar e acionou a polícia. “Ela estava envergonhada, por ter sido enganada. Só contou para a família após ele ser preso e o dinheiro devolvido”, conta o delegado Sérgio Belizário, do Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DIHPP).

O homem se preparava para fugir quando foi detido. Ele ainda ofereceu R$ 20 mil aos policiais, mas foi autuado por corrupção ativa. O falso curandeiro foi levado para um presídio na região Oeste de BH.

Rede

O falso médium também tinha um mandado de prisão em aberto desde 2016. O suspeito já era investigado pelo Departamento de Fraudes, da Polícia Civil, que dará prosseguimento às apurações das denúncias. Os agentes analisam a informação de que uma rede de pessoas trabalhava para ele.

A expectativa é a de que o número de mineiros lesados cresça. Em BH, pessoas que quiserem registrar queixas contra Mestre Antônio podem ir ao Departamento de Fraudes (avenida Francisco Sales, 780, no bairro Floresta). No restante do Estado, é possível procurar qualquer delegacia. Os depoimentos serão anexados ao inquérito. 

À polícia, o impostor teria confessado praticar os crimes há cerca de 20 anos. Natural de Goianinha, no Rio Grande do Norte, o estelionatário também já havia morado em São Paulo.

Atenção

No fim do ano, o delegado Sérgio Belizário recomenda atenção redobrada, uma vez que golpes são bem comuns nesta época. Segundo ele, os bandidos se aproveitam dos momentos de fragilidade e maior emoção, marcados pelo Natal e início de um novo ciclo.

“Em todas as religiões há pessoas boas e ruins. Se começarem a pedir dados bancários e quantias em dinheiro, não entregue. Caso já tenha acontecido, procure a polícia”, orienta Sérgio Belizário.

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