Falta de chuva deixa volume de rios cada vez mais crítico

Ricardo Rodrigues* - Hoje em Dia
29/08/2015 às 07:32.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:33
 (Leonardo Morais)

(Leonardo Morais)

Mais rigor no racionamento de água é a saída para enfrentar a pior seca em Minas nos últimos 80 anos. As vazões mostram situações críticas de importantes rios: restrição, alerta e atenção no São Francisco, alerta no Jequitinhonha, atenção e alerta no Doce e Grande e atenção no Paraíba do Sul.   Das 25 estações de monitoramento fluviométrico operadas pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), apenas cinco registram vazão normal. Em oito não há dados disponíveis.   Em Juiz de Fora, Pará de Minas e Viçosa, que tiveram dois verões seguidos com precipitação negativa, medidas de restrição do consumo vigoram desde 2014. “O quadro é muito crítico, porque todas as regiões estão com secas severas. Até o Sul de Minas tem problemas com a estiagem, que em 2013 e 2014 ocorreu em pleno período chuvoso”, explica o meteorologista Heriberto dos Anjos, do TempoClima.   O balanço hídrico desequilibrado penaliza sobretudo o Norte e Noroeste do Estado, onde estão 80% dos municípios em situação de emergência. No Polígono da Seca, formado pelos vales do São Francisco, Jequitinhonha e Mucuri, há reflexos graves na economia e na vida dos pequenos agricultores. “Criava vaca, cabrito e porco, mas acabei com tudo por falta d’água”, afirma José Antero Mendes, de 64 anos. Ele depende do carro-pipa para sobreviver na comunidade de Campo Velho, em Brasília de Minas.   Segundo o meteorologista, agosto é o pico máximo da estação seca, mas há previsão de chuva só em outubro. “A umidade do ar está em 25% na capital, em situação de atenção, e no Triângulo é de 10%, o que configura estado de emergência. Chuvas podem ocorrer em setembro, mas de pouca intensidade, o que não muda o quadro de escassez hídrica. A seca deve persistir até meados de outubro”, diz.   Reservatórios   Todos os reservatórios que abastecem BH e a região metropolitana estão com níveis abaixo dos registrados em igual período de 2014. O rio Paraopeba apresentou nesta sexta-feira (28) o pior nível deste ano: 29%.   No entanto, a Copasa descarta o racionamento. “A economia de 13,4% no consumo, a garantia de conclusão em dezembro da obra de captação do rio Paraopeba e o aumento da chuva em 55% neste ano, em relação a 2014, foram fundamentais para superar a possibilidade de desabastecimento”, informa a Estatal.   Racionamento é realidade na Zona da Mata e Vale do Rio Doce   O racionamento chegou a Lima Duarte, Tombos e outros municípios da Zona da Mata e Vale do Rio Doce. Prefeituras fazem manobras para enfrentar setembro, que deve ser o mês mais crítico, informa Tânia Duarte, presidente regional da Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento (Assemae).   Em Juiz de Fora (550 mil habitantes), a companhia de saneamento (Cesama) implantou o rodízio em outubro de 2014, de segunda à sexta-feira, das 8h às 18h. Em julho, a regra “endureceu”: agora vai até sábado, das 8h às 20h.   O município de Viçosa, que tem 77 mil moradores, declarou estado de alerta dia 8 de fevereiro deste ano, mas o racionamento de 12 horas por semana começou em 9 de outubro de 2014, por decreto do prefeito Ângelo Chequer.   Em Pará de Minas, no Centro-Oeste, desde 2014 a prefeitura mantém o racionamento de água nos bairros. A cidade tem 90 mil habitantes. “Solução de curto prazo, só a chuva”, afirma o prefeito Antônio Júlio de Faria (PMDB).   Adutora   Depois de retirar a concessão da Copasa, o município contratou outra empresa para instalar uma adutora de 28 quilômetros de extensão, que vai captar água no rio Paraopeba. “A empresa já fez 92% da obra, que até o fim de setembro deve estar pronta. A Copasa queria cinco anos para executá-la”, compara Antônio Júlio.   “Pouca chuva não será suficiente para recuperar os níveis dos reservatórios. Nas zonas rurais, a situação é mais grave, com impactos no abastecimento de alimentos. As prefeituras estão fazendo o dever de casa, com educação ambiental e racionamento preventivo, mas precisamos de chuva”, ressalta Tânia Duarte.   Captação comprometida preocupa autoridades e a população   A seca sem precedentes na Bacia Hidrográfica do Rio Doce (BHRD) vem preocupando autoridades e a população. “Temos um cenário de crise, com chuva abaixo da média histórica. Para mudar esse cenário, a discussão tem que ser com todos”, avalia a presidente da Câmara Técnica e Gestão de Eventos Críticos do Comitê da BHRD, Lucinha Teixeira.   De outubro a junho choveu apenas 60% (600 milímetros) da média histórica no Vale do Rio Doce, que é de mil milímetros. Na Bacia Hidrográfica do Suaçuí, o índice foi de 50%.   “Chuvas significativas só devem cair no final do ano. É preciso economizar água”, avisa Lucinha. No entanto, ela afirma que até o momento não há informação de cidades margeadas pelos rios Doce e Suaçuí sem água disponível para captação.   “Não recebemos essa informação, o que não significa que não exista (cidades sem água para captar). O que sabemos é que devido à diminuição da vazão tem ficado mais difícil captar em alguns pontos do rio Doce”, explica.   Governador Valadares é uma dessas cidades. Segundo o diretor-adjunto do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), Vilmar Rios, medidas preventivas e paliativas, como a realocação de bombas e construção de pequenas barragens com sacos de areia, vêm sendo adotadas para manter a captação de 800 a mil litros cúbicos por segundo.   Nesta semana houve mais uma reunião entre representantes de órgãos gestores de Minas Gerais e Espírito Santo. O debate foi convocado pela Agência Nacional de Águas (ANA). Além da seca, foram debatidos o funcionamento das hidrelétricas e a operação das empresas de saneamento.   Ponto a ponto   Restrição de uso Diminuição do volume diário do rio outorgado para captação de água para consumo humano.   Estado de alerta Antecede a restrição de uso. Se a vazão se repetir durante sete dias consecutivos em um valor que não ultrapasse o estado de atenção.   Estado de atenção Quando apresenta vazões inferiores a 200% do nível mais baixo medido nos últimos dez anos.   * Colaborou Ana Lúcia Gonçalves - Hoje em Dia

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