Falta de medicamentos nas prateleiras do Estado prejudica doentes

Gabriela Sales - Hoje em Dia
04/06/2015 às 07:32.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:20
 (Cristiano Machado)

(Cristiano Machado)

Há oito meses, quem precisa de medicamentos para tratamento e controle de doenças de alta complexidade no Estado vive um drama. Os remédios oferecidos pelo programa Farmácia de Minas estariam em falta desde setembro do ano passado, de acordo com os pacientes.

A atual gestão da Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou que, entre janeiro e abril deste ano, dos 450 itens disponibilizados, 165 estavam em falta nas prateleiras. O órgão, porém, não forneceu dados sobre o problema nos meses anteriores a 2015, já que o comando estava com o governo passado.

A SES afirmou que reduziu o déficit para 64 itens indisponíveis. “Desde o início do ano estamos realizando uma força-tarefa para atender à população e buscar alternativas para a solução desse problema”, explicou o superintendente de assistência farmacêutica da secretaria, Homero Cláudio Rocha Souza Filho. Para o presidente do Conselho Estadual de Saúde, Ederson Alves da Silva, existe um problema de gestão que atrapalha o acesso aos produtos. “Há um erro grave que começa desde a aquisição até o destino final, que é o paciente. Estamos pagando pela má administração”, comentou.

Na pele

Portadora de epilepsia, uma aposentada de 42 anos, que pediu anonimato, passa por uma verdadeira peregrinação quando o assunto é a aquisição do medicamento. “Desde o início do ano eu não consigo o Clobazam, que evita as crises”.

Ela conta que, a cada negativa, um novo carimbo na receita médica é dado, mas sem previsão de chegada. “Recorro a familiares e amigos e vendo doces para completar o dinheiro”.

O mesmo drama é compartilhado pela funcionária pública Adiléia de Assis Souza, de 45 anos. Com doença reumática, ela precisa de uma combinação de remédios. “Sem a regularidade da medicação, perco a locomoção. Uma semana sem o coquetel resulta em dores intermináveis”. O custo alto do remédio – R$ 370 por mês –, que é manipulado, também é um complicador.

Longo prazo

Outro entrave é o tempo de espera que o paciente enfrenta para ter o pedido autorizado. Em média, a análise de cada caso é de 60 a 90 dias. Período longo para quem precisa iniciar um tratamento imediato.

“Há dois meses estou em tratamento de pele e não há previsão para a liberação do medicamento”, conta a professora Eugênia Dias, de 51 anos.

Regionalizar a distribuição pode ser uma saída

Para o presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), deputado Arlen Santiago (PTB), a falta de regularidade de medicamentos expõe os pacientes ao risco. “É uma situação grave, compromete todo o tratamento. A preocupação é garantir o acesso e não deixar a situação se agravar ainda mais”.

Nessa quarta (3), possíveis soluções para o problema foram discutidas em audiência pública na ALMG. “Estamos estudando mecanismos para garantir o abastecimento em todo o Estado. Além da forma de entrega, há uma análise na aquisição e a regionalização dessa distribuição”, explica o superintendente de assistência farmacêutica da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Homero Cláudio Rocha Souza Filho.

Sem estabilidade

Para a presidente do Grupo Encontrar, organização de apoio a pacientes com artrite reumatóide, Priscila Torres da Silva, a ineficiência do processo de distribuição dos medicamentos acaba desestabilizando o controle das doenças crônicas.

“É um processo irreversível e que compromete a qualidade de vida do paciente. A má gestão pública compromete todo o sistema de tratamento que pode levar até a incapacidade ou morte do paciente”.

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