Famílias invadem área no Aglomerado da Serra e começam a construir nova favela em BH

Milson Veloso - Hoje em Dia
24/09/2013 às 12:38.
Atualizado em 20/11/2021 às 12:42

Janete da Silva, de 30 anos, divide o tempo entre os cuidados com a família - o marido e três filhos - e o trabalho como auxiliar de cozinha em um restaurante. A mulher sempre sonhou em ter uma casa própria e, há duas semanas, começou a ver esse plano virar realidade, mas de um jeito ilegal. O barraco de madeira que o companheiro, Davidson Alves, de 22 anos, está construindo em um terreno invadido no bairro Novo São Lucas, região Centro-Sul de BH, é uma oportunidade para sair do aluguel. Eles fazem parte de um grupo, com mais de 50 famílias, que começou a ocupar a área há cerca de 15 dias.
 
Os moradores vieram de vários lugares: bairro Pompéia, Santana do Cafezal, Vila Del Rey e outros pontos no Aglomerado da Serra, o maior conjunto de favelas da capital mineira, com aproximadamente 50 mil habitantes. Em alguns dias, a região, antes marcada pelo terreno abandonado na encosta de um morro, começou a ganhar novos contornos. O mato foi parcialmente queimado e os barracões surgiram, um a um. Se continuar no ritmo como está, em poucas semanas nascerá uma nova comunidade, pendurada nos barrancos.

 


Janete e Davidson estão construindo um barraco no terreno (Foto: Milson Veloso/Hoje em Dia)
 

De atestado para cuidarem do filho de seis meses, Janete e Davidson não se importam muito com o fato de o local onde estão preparando a nova moradia pertencer a outro proprietário. "Nós não temos condições de alugar um apartamento ou uma residência boa, mas também somos seres humanos", justificam a invasão. "Se tiver a casa própria, o restante a gente dá um jeito", acrescenta Davidson.
 
A construção dos barracos, a maioria coberta com lona, também é a opção que o garçom Robert Gonçalves, de 31 anos, tem para ter o próprio teto. Pai de dois filhos e casado com uma diarista, mãe de mais duas adolescentes, ele está esperançoso. "Quero ter a minha casa e sair do aluguel. Hoje, após pagar as contas fica dinheiro só para alimentar, quando sobra", diz.


Vizinhos incomodados
 
O probelma é que a ocupação também tem gerado preocupação em quem já mora no bairro. A construção de uma favela é vista pelos vizinhos de forma negativa. A moradora N.M., de 60 anos, que vive em um prédio próximo ao lote e prefere não se identificar, alega falta de ação do poder público para conter a invasão.
 
"Quem deveria tomar providência é a prefeitura", critica, usando a desvalorização do imóvel para fundamentar sua insatisfação. "Você tem uma favela na porta de sua casa, não sabe nem quem está morando aí", complementa.
 
Outro vizinho, R.R., de 79 anos, morador do bairro há mais de 30, cita a violência na rua Veraldo Lambertucci, endereço da ocupação, e prevê piora da situação com o crescimento desordenado. "A PBH não age. O problema nosso não é só uma questão de segurança...", argumenta, ao lembrar que o objetivo inicial era transformar o terreno em uma praça com um parque para a população local desfrutar.
 

Terra de ninguém

A região ocupada pelos invasores fica a poucos minutos do Centro de BH, logo após a avenida do Contorno, ao lado do Aglomerado da Serra. Os novos habitantes afirmam que o dono da área já morreu e ninguém toma conta do local há muito tempo.

Parte do lote, segundo eles, seria da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), que também estaria cuidando do terreno. Os moradores afirmam que representantes da administração municipal e da Polícia Militar estiveram por lá, mas nada foi feito.

Segundo a PM, a visita aconteceu porque os responsáveis pela terra registraram um boletim de ocorrência. Porém, para haver qualquer intervenção policial, eles deverão acionar a Justiça e pedir a reintegração de posse.

Procurada pela reportagem do portal Hoje em Dia, a PBH informou que se trata de um loteamento particular. Os proprietários foram notificados para que mantenham a área limpa e cercada. O problema da invasão, de acordo com a prefeitura, seria totalmente dos donos. "Cabe ao proprietário entrar com um mandado judicial para que seja feito o despejo, caso considere necessário", afirma a assessoria.

Confira na galeria abaixo imagens do fotógrafo Eugênio Moraes com a construção das novas moradias:



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