Fim de dois centros de triagem em Minas pode estimular o tráfico de animais

Lucas Eduardo Soares
15/05/2019 às 21:18.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:40
 (Frederico Haickal/Arquivo Hoje em Dia)

(Frederico Haickal/Arquivo Hoje em Dia)

A fiscalização dos crimes contra a fauna no Estado pode ficar prejudicada com o fechamento de dois dos três Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). As unidades de Montes Claros, no Norte, e Juiz de Fora, na Zona da Mata, já encerraram os trabalhos. A única a permanecer aberta é a da capital mineira. 

A redução é em função do corte de 25% nos contratos de tratadores terceirizados, responsáveis pelo acolhimento aos bichos. De acordo com o Ibama em Minas, a medida pode estimular o tráfico de animais nas regiões impactadas.

A associação de servidores do órgão (Asibama-MG) afirmou que, com a contenção, cerca de R$ 130 mil deixarão de ser repassados aos Cetas por ano. “Esses locais são o destino de todos animais silvestres apreendidos em cativeiros irregulares. Lá, eles são identificados, avaliados, tratados e reabilitados para, em seguida, serem devolvidos à natureza. Se não há para onde serem encaminhados, o ciclo da fiscalização é interrompido”, explicou a entidade.

Danos

Sem o atendimento no Norte de Minas e na Zona da Mata, o receio é de superlotação no centro instalado em Belo Horizonte. A necessidade de transferência de um bicho para a metrópole pode representar riscos, alerta o professor Marcelo Carvalho, do Departamento de Medicina Veterinária da UFMG.

Segundo ele, dependendo da espécie, o trajeto de longa distância pode provocar hipotermia no animal. “Ocorre quando há uma tensão de temperaturas”, explica. O docente avalia ainda a sobrecarga para os profissionais que atuam no Cetas da capital, que tem apenas três tratadores terceirizados e três veterinários.

A saúde pública também corre perigo, destacam especialistas. Aves e macacos, por exemplo, chamados de “sentinelas”, não mais serão assistidos pelos trabalhadores nas regiões afetadas pelo fechamento das unidades. “A febre amarela só foi detectada depois que primatas começaram a morrer. Esse tipo de alerta pode ficar mais lento e a situação pode complicar”, observa o professor Rodrigo Otávio Silveira, também da UFMG.

Respostas

O Ibama mineiro lamentou a situação e explicou que os animais dos centros fechados serão encaminhados para locais adequados, como criadouros legalizados e hospitais veterinários, ou para o Cetas de BH. Por ano, o local recebe cerca de 10 mil espécies.

O instituto também criticou o corte orçamentário. “Não podemos assumir uma responsabilidade com a vida de animais silvestres, pois o órgão não poderia dar-lhes os cuidados mínimos necessários para garantir a sobrevida digna”.

Em nota, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) disse um pedido para rever a medida foi apresentado ao Ministério de Meio Ambiente. A demanda teria sido atendida, “após justificativas a respeito da importância do funcionamento das unidades”. 

No entanto, o Hoje em Dia não obteve tal confirmação. A informação repassada foi a de que o Ibama nacional poderia falar sobre o caso, mas até o fechamento desta edição não houve retorno. A Polícia Militar de Meio Ambiente também não se manifestou.

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