(LUCAS PRATES)
Viver na rua é um exercício contínuo de enfrentamento à violência, à fome, aos vícios e, sobretudo, às intempéries climáticas. Quem afirma são alguns dos mais de 4.500 moradores nessa situação em Belo Horizonte.
Para muitos, barracas, cobertores e caixas de papelão ainda são os únicos escudos improvisados contra a friagem. A cerca de uma semana para o início do inverno, a certeza de que as madrugadas serão difíceis nos próximos meses está estampada nos rostos desses cidadãos invisíveis pela correria da cidade.
De acordo com as previsões meteorológicas, neste ano, o inverno poderá castigar ainda mais a população exposta ao frio. A explicação é a despedida do fenômeno El Niño, que nos últimos dois anos trouxe para o inverno brasileiro temperaturas mais altas que o normal.
O meteorologista Heriberto dos Anjos, do Centro de Climatologia da PUC Minas, explica que, em 2015 e 2016, o inverno bateu recordes de calor no fim da estação, próximo à chegada da primavera.
“Agora, esperamos um inverno mais perto da normalidade. As massas de ar devem provocar quedas mais acentuadas de temperatura, portanto, em julho, agosto e setembro, podemos ter a média tradicional da cidade, que é de 13,1°C. Com os ventos, a sensação térmica pode chegar a níveis muito abaixo da média”, explica. Flávio Tavares / N/A
Sopinha voluntária ajuda a manter o corpo quente
Refúgio
O servente de pedreiro Robson dos Santos, de 23 anos, sabe bem o que é dormir sob o sereno nas madrugadas frias da capital mineira. Há quatro anos vivendo na rua, ele explica que a primeira saída para se proteger das quedas de temperatura é dormir em um dos abrigos da prefeitura. “Se esfriar demais, eu corro pra lá, mas nessas épocas periga não achar vaga”, pondera.
O ex-operário Reginaldo Vieira, que alega estar na rua por causa do vício no crack, afirma que, se não fossem as doações de cobertores, roupas e comida, muitos dos colegas já teriam morrido das doenças típicas das épocas de baixas temperaturas. “É muita covardia a gente ainda ter que passar por isso”, lamenta.Wesley Rodrigues / N/A
Barracas montadas no meio da rua são escudos contra a friagem
Atendimento
A PBH corre contra o tempo para atender à demanda crescente de pessoas em situação de rua. De acordo com a Secretaria Municipal de Políticas Sociais (SMPS), o processo de ampliação de vagas para acolhimento institucional já começou.
Visitas já foram realizadas a 11 imóveis públicos para avaliação. Nesse contexto, há possibilidade de criação de três novos abrigos nas regionais Leste, Noroeste e Venda Nova, oferecendo 120 novas vagas.
Além disso, já está em processo a ampliação imediata de 100 vagas de acolhimento institucional na regional Centro-Sul, possivelmente em um hotel, segundo informações da SMPS.
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