Garotos de programa transformam Barro Preto em ‘varejão do sexo’

Carlos Calaes - Do Hoje em Dia
24/09/2012 às 06:38.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:31
 (Luiz Costa/Hoje em Dia)

(Luiz Costa/Hoje em Dia)

Quando chega a noite, o movimento frenético de ruas e avenidas de Belo Horizonte começa a ser substituído por uma feira livre invadida por profissionais do sexo. Prostitutas, travestis e michês, que já têm locais demarcados pela cidade, começam a chegar para os programas.

À medida que o tempo passa, como numa alusão à história da Gata Borralheira, é iniciada uma batalha contra o tempo: o objetivo é conseguir um ou mais clientes até a meia-noite, uma vez que, após esse horário, os programas se tornam mais raros.

Na avenida Afonso Pena, principal via da capital, as prostitutas ocupam o lado direito, no sentido Centro/bairro. Do lado oposto, ficam os travestis. Mas é nos arredores do Fórum Lafayette, no Barro Preto, onde durante o dia juízes, promotores e servidores do Tribunal de Justiça de Minas Gerais decidem as demandas de milhares de pessoas, é que acontece uma transformação.

Oferta

No entorno da unidade judicial, instala-se uma espécie de “varejão do sexo”, onde garotos de programa se oferecem para potenciais clientes.
O desfile de carros luxuosos é intenso. De acordo com um michê, os clientes, em grande maioria, são homens, muitos deles casados, de variadas faixas sociais, inclusive executivos de importantes empresas. “Eles procuram uma aventura rápida”, relata o garoto de programa.

Os motéis e saunas do início da rua Tupis são os pontos de encontro mais comuns, porém, sexo também ocorre nos veículos estacionados em ruas escuras ou atrás de árvores. Quando não estão nos pontos de prostituição, michês perambulam pelo Barro Preto. “O cliente passa e faz basicamente duas perguntas: se somos ativos ou passivos e o valor do programa”, diz um deles.


Estratégia

Mas é nas esquinas que a ação se inicia. Geralmente, uma dupla, um ativo e outro passivo, se exibe. A estratégia de ficar em pares é uma forma de proteção contra atos de violência e de atender o gosto do “freguês”. A reportagem observou, várias vezes, michês assobiando para quem passava.
Os preços dos programas podem partir de R$ 30 – um encontro fortuito e rápido dentro do carro do cliente – a valores superiores, dependendo das intenções do contratante.

‘Tive que saltar de um carro em movimento’

Cartão-postal de BH, a lagoa da Pampulha, após as 23h, registra intensa movimentação. Em múltiplas esquinas da orla, rapazes com penteados arrojados e roupas modernas se escoram em muros e postes. A disputa não tem distinção. O cliente pode ser do sexo masculino, feminino ou mesmo um casal.

Em um dos pontos, a reportagem do Hoje em Dia conversou com um jovem de corpo franzino e fisionomia adolescente, mas que garantiu ter 18 anos. Segundo ele, a vida como garoto de programa começou aos 15.

O rapaz diz faturar até R$ 1.500 por mês. A maioria de seus clientes, afirma, são homens, casados, de variadas faixas etárias. “Tem um idoso de 80 anos que sequer consegue concluir o programa. Mesmo assim, eu saio com o velhinho. Ele é muito bonzinho”.

Questionado sobre a violência praticada por garotos de programa, o jovem afirma saber de alguns casos, mas aproveita para denunciar o desrespeito em relação aos profissionais do sexo. “Também somos vítimas. As agressões são diárias. Todo dia, tem um engraçadinho acionando o extintor de incêndio contra a gente. Muitos se recusam a pagar o valor que foi combinado. Eu mesmo já tive que saltar de um carro em movimento para não ser espancado”.

'Garçom'

Outro garoto de programa, de cabelo moicano ao estilo “Neymar”, mostra-se tímido, desconfiado. Há dois meses nas ruas, disse aos parentes ganhar a vida como garçom.

De acordo com o jovem, é possível tirar R$ 1.500 por mês, atendendo casais, mulheres e homens. “Mas sou ativo”, enfatiza. (F.Z./C.C.)

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