(Arquivo Pessoal / Reprodução)
Policiais civis de Belo Horizonte estão em Padre Paraíso, no Vale do Jequitinhonha, auxiliando nas investigações sobre assassinato do jornalista Evany José Metzker, de 67 anos. A determinação partiu do governador Fernando Pimentel (PT) e atende a pedido feito pelo presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG), Kerison Lopes, na manhã de ontem (19).
A equipe do Departamento de Investigação de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) que está em Padre Paraíso é coordenada pelo delegado Emerson Morais. São quatro investigadores e uma escrivã que vão dar sequência à investigação que já tem, pelo menos, dois depoimentos colhidos em cartório nessa terça-feira (19/5) pela equipe da Delegacia de Padre Paraíso, assim como outros levantamentos obtidos no local a partir de diligências preliminares e das primeiras impressões da perícia criminal.
De acordo com a assessoria do governo, Fernando Pimentel determinou ao chefe da Polícia Civil, delegado Wanderson Gomes, apuração rigorosa no caso e também solicitou ao secretário de Defesa Social, Bernardo Santana, que todos os esforços da área de Segurança Pública do Estado sejam no sentido de assegurar total esclarecimento sobre a motivação do crime, identificação e prisão dos culpados.
Para o presidente do Sindicato dos Jornalistas, a providência garantirá agilidade e neutralidade nas apurações. “As estatísticas mostram que assassinatos de jornalistas quase sempre tem relação com o poder local”, justifica. E como exemplo cita os assassinatos do repórter Rodrigo Neto e do fotógrafo Wagney Carvalho, ocorridos em 2013, em Ipatinga, no Vale do Aço, mortes só esclarecidas depois que o DHPP e uma força-tarefa assumiram o caso. Entre os envolvidos nestas duas mortes estava um policial civil, já condenado a 12 anos de prisão.
O corpo do jornalista foi encontrado segunda-feira (18) na zona rural. Estava decapitado e com as mãos amarradas. Segundo a delegada de Padre Paraíso, Fabrícia Nunes, as investigações seguem por duas linhas: crime passional ou ligado às matérias que o blogueiro fazia na região. Segundo a mulher do jornalista, a professora Ilma Chaves Silva, de 51 anos, Metzker investigava uma quadrilha envolvida com a prostituição de adolescentes e denunciava ações de políticos corruptos da região.
Crime
O corpo foi encontrado em uma região de difícil acesso e com grandes erosões, na comunidade rural Pioneiras. As mãos estavam amarradas, sem calças e com uma camiseta do blog Coruja do Vale. Ao lado estavam vários documentos de Metzker, entre eles a Identidade, cartões de crédito, folhas de cheque e uma carteira funcional do jornal impresso Atuação, agora o virtual Coruja do Vale.
Como estava com a aliança e um relógio supostamente de ouro, a PM descartou que tenha sido vítima de um latrocínio (matar para roubar). O Corpo de Bombeiros chegou a ser acionado para ajudar nas buscas pela cabeça, mas antes que chegasse à cidade ela foi encontrada pelos investigadores e militares a 100 metros do corpo. O crânio estava quebrado, sem os olhos e pele.
De acordo com informações do Instituto Médico Legal (IML) de Teófilo Otoni, a data provável da morte é 14 de maio e por causa do adiantado estado de putrefação não foi possível apurar a causa, como também saber se o jornalista foi decapitado vivo. Uma pesquisa suplementar (reação vital) será feita pelo laboratório da PC em Belo Horizonte. A previsão é que o resultado saia em 45 dias.
Rodrigo Neto
O jornalista Rodrigo Neto Faria foi morto com três tiros, na madrugada de 8 de março de 2013, no bairro Canaã, em Ipatinga. Pouco mais de um mês depois, no dia 14 de abril, o fotógrafo Walgney Assis de Carvalho também foi morto a tiros, em um pesque e pague da cidade de Coronel Fabriciano.
As investigações feitas por uma força-tarefa com policiais de Belo Horizonte resultaram no indiciamento de Alessandro Neves Augusto, conhecido como “Pitote”, pelas duas mortes. A PCl apurou que no assassinato de Rodrigo Neto, ele agiu com a ajuda do ex-policial civil Lúcio Lírio Leal, que foi condenado a 12 anos de reclusão, em agosto de 2014. Pitote vai a julgamento dia 19 de junho deste ano.
Neto foi morto por denunciar crimes impunes no Vale do Aço e o fotógrafo porque saberia quem o matou. As investigações desses casos resultaram em nove inquéritos que apuraram a autoria do assassinato de 14 pessoas, tendo os crimes ocorridos entre 2007 e 2013, em Ipatinga e municípios vizinhos. E no indiciamento de 16 pessoas por homicídio, incluindo entre elas seis policiais civis e três militares.
Outras três pessoas foram presas em flagrante por porte ilegal de arma de fogo. Apesar disso mandante e motivação ainda não foram esclarecidos. De acordo com informações da Polícia Civil em Belo Horizonte, existe um inquérito complementar em andamento, mas ele corre em segredo de justiça.