Grupo de pais organiza protesto em BH para pedir volta às aulas; médico diz que ainda não é hora

Renata Evangelista e Cinthya Oliveira
portal@hojeemdia.com.br
17/09/2020 às 16:55.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:34
 (Pixabay)

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A pressão de parte da população para que as aulas presenciais sejam retomadas está crescendo em Belo Horizonte. Mesmo diante das recomendações médicas, de que este não é o momento mais adequado, um grupo de pais de estudantes da capital organiza uma manifestação para o próximo domingo (20), para pedir o retorno às aulas de maneira presencial.

Desde março, devido à pandemia, o aprendizado nas instituições está suspenso em Minas. Por enquanto, conforme as secretarias municipal e estadual de Educação, não há previsão de retorno nas redes pública ou privada. A partir de segunda-feira (21), porém, alguns alunos do Colégio Militar deverão voltar às aulas presenciais em meio à pandemia, após autorização do Exército.

O protesto do fim de semana está previsto para ocorrer na Praça da Liberdade, região Centro-Sul de BH. Organizadora do ato, a gerente comercial Sheila Freire, de 37 anos, afirma não ver sentido na continuidade do isolamento para as crianças. Ela alega que foi comprovado que os mais novos não fazem parte do grupo de risco, desde que não apresentem doenças preexistentes.

"O risco maior é da criança levar o vírus para os adultos. Mas, os adultos já estão se expondo em outras atividades. Então, não é necessário isolar as crianças para proteger os adultos", declarou.

A manifestação está prevista para acontecer a partir das 10 horas. Os organizadores pedem a todos que tenham interesse em participar que usem máscara de proteção.

A Prefeitura de Belo Horizonte e o governo de Minas informaram que estão elaborando protocolos para retorno às aulas e não há previsão para que as escolas possam receber alunos de maneira presencial na capital ou no Estado. 

Não é a hora ainda

Para o infectologista Carlos Starling, membro do Comitê de Enfrentamento à Epidemia de Covid-19 da Prefeitura de Belo Horizonte, está longe o momento adequado para o retorno às aulas. Segundo ele, a equipe está tomando como base os critérios do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, que definiu o retorno às escolas quando a taxa for de 5 a 10 casos da doença a cada 100 mil habitantes.

“Temos hoje, em Belo Horizonte, 162 casos para cada 100 mil habitantes. E há regiões da cidade com uma incidência maior da doença. As pessoas, de forma irresponsável, querem fazer coisas em momentos inadequados”, afirmou o médico, lembrando que na Coreia do Sul o critério foi de retomada das aulas presenciais com uma taxa de 5 casos a cada 1 milhão de habitantes.

Segundo ele, a reabertura das escolas deve ser planejada com bastante calma e critérios, porque é um local potencialmente de aglomeração. “Especialmente onde há crianças o controle da transmissão é mais complexo, porque normalmente são muitos indivíduos num espaço reduzido e não é possível garantir que as crianças vão utilizar a máscara de maneira adequada. Devemos ter critérios ou perderemos todo o esforço feito até aqui”.

Professores

Coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), Denise Romano afirma que somente será possível falar em retorno às aulas no Estado quando houver uma garantia do poder público de que haverá segurança para toda comunidade escolar – estudantes, professores, funcionários e familiares.

Ela lembra que muitas escolas públicas não têm estrutura para atender os requisitos de prevenção à Covid-19, como sabão nos banheiros, salas de aula ventiladas e bebedouros adequados.

“Há um movimento de construção de opinião para um retorno das aulas absolutamente prematuro, mas não em segurança. Somente na rede estadual, são 3.600 escolas, são milhões de alunos. Não há qualquer apontamento de autoridade de saúde que mostre que é possível voltar sem riscos”, afirmou Denise, lembrando que não há um levantamento de dados sobre quantos professores, funcionários e auxiliares de limpeza têm comorbidade no Estado.

Ela lembrou ainda que, em Manaus, onde houve o primeiro retorno às aulas presenciais no país, em apenas 14 dias mais de 300 professores foram infectados pelo novo coronavírus. “Mesmo com um ensino híbrido, muitos trabalhadores foram infectados. Temos que seguir os critérios apresentados pela Fiocruz para o retorno às aulas e, neste momento, o Estado não atende a nenhum requisito”.

A reportagem também procurou pelo Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro-MG), que representa os educadores da rede particular. A entidade afirmou que existe uma Convenção Coletiva de Trabalho, em que foi feito um acordo para as aulas só serem retomadas quando houver autorização dos órgãos de saúde competentes.

Disse ainda que o sindicato tem dialogado com diversos setores e, nesta quinta-feira (17), a presidente do sindicato se reuniu com uma associação de pais.

Vale lembrar que o prefeito Alexandre Kalil já afirmou que o retorno às aulas, em Belo Horizonte, acontecerá ao mesmo tempo nas redes pública e privada, para não evidenciar ainda mais as diferenças socioeconômicas entre os estudantes. 

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