Grupo faz manifestação em BH contra morte de homem negro dentro de supermercado em Porto Alegre

Marina Proton*
mproton@hojeemdia.com.br
20/11/2020 às 16:57.
Atualizado em 27/10/2021 às 05:06
 (William Augusto/Divulgação)

(William Augusto/Divulgação)

Um grupo de manifestantes realiza na tarde desta sexta-feira (20), Dia da Consciência Negra, em Belo Horizonte, um protesto contra a morte de um homem negro, João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, espancado até a morte na noite dessa quinta (19) em uma unidade do supermercado Carrefour, em Porto Alegre.

O protesto, idealizado pela deputada estadual Andréia de Jesus, pela vereadora Iza Lourença, pelo Núcleo Rosa Egipcíaca (Negras, Negros, Indígenas) do Psol, além de outros movimentos da cidade, foi feito em frente ao Carrefour localizado entre a avenida Afonso Pena e a rua dos Guajajaras, no Centro da capital mineira. O supermercado fechou as portas durante o ato.

Logo após o movimento, o grupo, que levava cartazes e faixas com dizeres como "vidas negras importam", "justiça por João Alberto" e "sem justiça, sem paz", se deslocou pelo hipercentro da cidade até uma outra unidade da loja. No local de destino, os manifestantes entraram no supermercado aos gritos de “Carrefour racista”. Durante a manifestação, eles ecoaram gritos de “assassinos”, “parem de nos matar”, e questionaram sobre “Quantos mais têm que morrer para essa guerra acabar?”.

O protesto contou ainda com a presença do rapper Djonga, que fez registros em sua rede social no Instagram. 

Em nota, o Carrefour informou que todo o resultado das lojas no Brasil, desta sexta-feira, será revertido para projetos de combate ao racismo no país, e que o valor será destinado de acordo com orientações de entidades reconhecidas na área.

Confira o texto na íntegra:

Após a lamentável e brutal morte do senhor João Alberto Silveira Freitas na loja em Porto Alegre, no bairro Passo D’Areia, o Carrefour informa que: Definiu que todo o resultado de lojas Carrefour no Brasil nesta sexta-feira, 20 de novembro, será revertido para projetos de combate ao racismo no país. O valor será destinado de acordo com orientação de entidades reconhecidas na área. Essa quantia, obviamente, não reduz a perda irreparável de uma vida, mas é um esforço para ajudar a evitar que isso se repita; amanhã, 21/11, todas as lojas do Grupo em todo o Brasil abrirão duas horas mais tarde para que neste tempo possamos reforçar o cumprimento das normas de atuação exigidas pela empresa a seus funcionários e empresas terceirizadas de segurança;

Estamos buscando contato com a família do senhor João Alberto para dar o suporte necessário neste momento difícil; a loja do bairro Passo D’Areia será mantida fechada; todas essas ações complementam as decisões já anunciadas de rompimento de contrato com a empresa que responde pelos seguranças envolvidos no caso e de desligamento do funcionário que estava no comando da loja no momento do ocorrido.

Reiteramos que, para nós, nenhum tipo de violência e intolerância é admissível, e não aceitamos que situações como estas aconteçam. Estamos profundamente consternados com tudo que ocorreu e acompanharemos os desdobramentos do caso, oferecendo todo suporte para as autoridades locais.

O crime

De acordo com a Brigada Militar da cidade, na noite desta quinta-feira (19), a vítima foi agredida em uma unidade do supermercado Carrefour após ter discutido com a caixa do estabelecimento. Freitas teria ameaçado bater na funcionária, que chamou o segurança, levando o homem até o estacionamento, no andar inferior. 

Lá, um cliente, policial militar temporário, acompanhou o deslocamento, que acabou no espancamento. Segundo a polícia, a vítima teria dado um soco no policial, dando início às agressões. O segurança e o PM temporário foram presos, suspeitos de homicídio doloso.

Vídeos que mostram a agressão e a tentativa de socorristas de salvarem o homem circulam nas redes sociais desde a noite de ontem.

Morte é “crime bárbaro”

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, disse nesta sexta ser “escandalosa” a notícia do assassinato “bárbaro” de um homem negro em um supermercado de Porto Alegre, em pleno Dia da Consciência Negra.  “O Dia da Consciência Negra amanheceu com a escandalosa notícia do assassinato bárbaro de um homem negro espancado em um supermercado. O episódio só demonstra que a luta contra o racismo e contra a barbárie está longe de acabar. Racismo é crime!”, escreveu o ministro em sua conta oficial no Twitter.

Sem citar o crime, outros ministros do Supremo também se manifestaram por ocasião do Dia da Consciência Negra, entre os quais o presidente da Corte, Luiz Fux, e Luís Roberto Barroso, também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “O Brasil foi a sociedade escravocrata mais longa de todo o mundo e por isso devemos cotidianamente nos lembrarmos disso para termos a inclusão social como resgate histórico”, disse Fux pela manhã, durante o Congresso Nacional do Registro Civil.

Em sua conta oficial no Twitter, o ministro Luís Roberto Barroso lembrou o julgamento em que o TSE determinou distribuição proporcional de recursos de campanha entre candidatos brancos e negros. Ele escreveu que o país tem o “dever de reparar a chaga moral da escravidão”.

(*)Com informações da Agência Brasil

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