Grupo se reúne na rua dos Guaicurus e conhece história por trás dos estigmas

Lucas Eduardo Soares
lsoares@hojeemdia.com.br
25/11/2018 às 15:20.
Atualizado em 28/10/2021 às 02:20
 (Lucas Eduardo Soares)

(Lucas Eduardo Soares)

Guaicurus. Uma das vias mais antigas de Belo Horizonte abriga, desde o período em que a capital mineira emergia, em meados do século 20, múltiplas facetas. Naquela época, comércios atacadistas começavam a se instalar na nova metrópole e surgiam hotéis. A cidade convivia com extravagantes festas e conhecia peculiaridades que, atualmente, integram o cotidiano de milhares de trabalhadores. 

Com o intuito de mudar a opinião de quem ainda torce o nariz para o hipercentro, vendo a região de forma estigmatizada e cheia de preconceitos, um grupo se reuniu, na manhã deste domingo (25), o local. O encontro fez parte do festival "Somos Todos Black". Protegidas por guarda-chuvas vermelhos, que simbolizaram o movimento das prostitutas, cerca de dez pessoas desceram a rua dos Guaicurus e subiram as famosas escadas da região. 

Em uma das paradas, Flávio Dornas, herdeiro de um dos hotéis da via, mostrou fotos antigas da rua, contextualizando-o com o crescimento da capital mineira. O empresário também contou, brevemente, histórias de prédios, como o que serviu de hospedaria para Hilda Furacão. “Ela era taxi-girl, não fazia programa”, enfatizou. Dornas ainda citou outros ilustres personagens que viveram na região, como Cintura Fina, que, travestido, se apresentava ao anoitecer.

Curiosidade e respeito

Produtora cultural, Cristiane Pereira, de 41 anos, foi uma das que ficaram admiradas com o que encontrou nos dois hotéis visitados pelo grupo: Motel Concord, localizado na rua Curitiba, e Magnífico, na Guaicurus. "Conhecê-la (Guaicurus) é uma curiosidade para muitas pessoas, inclusive para mulheres que não são trabalhadoras do sexo, pois essa questão sempre foi estigmatizada para nós", colocou Cristiane. Lucas Eduardo Soares

Se pudesse resumir o passeio eu uma só palavra, Cristiane escolheria "resistência"

Conhecer e poder enxergar melhor, sem preconceitos, o que de fato ocorre em uma das ruas mais emblemáticas da capital mineira, é um dos objetivos do passeio guiado. Uma das tutoras do encontro, que mostrou ao grupo os principais pontos da via e hotéis mais antigos, foi Thaís Leão. Ela, que faz parte do coletivo Clã das Lobas – grupo que cobra melhores condições de vida para as prostitutas –, veio de São Paulo há poucos anos, mas se encantou pela cidade. 

trans. Ao todo, 3 mil pessoas trabalham no local. “Essa região é marginalizada da cidade. Não é o que todo mundo acha. Muitos pensam que, aqui, os roubos são mais frequentes, que a violência é maior, quando, na verdade, essas ocorrências podem acontecer na Praça 7, na avenida Afonso Pena”, pontua Thaís. Ela também diz que as pessoas "mistificam” demais a Guaicurus e pede mais consciente de todos. 

Vivendo no Brasil há poucos anos, o italiano Fabrizio Testi, de 35 anos, uniu, em um só passeio, a vontade de explorar a cidade e de compreender melhor o que acaba "escondido" na capital. “Passeio seguro, com o máximo de respeito tanto de quem está visitando quanto de quem está trabalhando, de quem vive aqui”, resumiu.

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