Hora do gatuno: tempo de férias é momento oportuno para arrombadores entrarem em ação

Renata Galdino
rgaldino@hojeemdia.com.br
29/06/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:18
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Com a proximidade das férias, os números de arrombamentos de residências em Minas Gerais deixam moradores em alerta. De janeiro a maio deste ano, 39.983 imóveis foram alvos de ladrões no Estado – média de 264 por dia.

Em Belo Horizonte, 2.837 ocorrências no total. Em julho, atenção redobrada. Casa fechada, conforme especialistas, acaba sendo um prato-cheio para os bandidos, que miram as edificações mais vulneráveis.

Esse, inclusive, foi o chamariz para um homem que invadiu o apartamento da dentista A.S.D., de 33 anos, no bairro Sagrada Família, região Leste da capital.

“O sentimento é de revolta. Você trabalha muito, o dia inteiro, para chegar em casa e encontrar tudo revirado”M.C., 31 anos. Contadora, que Mora no bairro Sapucaias 3, teve a casa arrombada duas vezes somente neste ano

Sem proteção na varanda, o criminoso escalou até o terceiro andar após ver que a porta de vidro da sacada tinha uma fresta. “Apesar de ele ter levado apenas comida, foi um grande susto. Colocamos uma grade, mas minha irmã e eu ficamos aterrorizadas por muito tempo”.

A contadora M.C., de 31 anos, também sabe bem o que é ter o imóvel invadido por criminosos. Neste ano, foram duas ocorrências em menos de quatro meses.

Moradora do bairro Sapucaias 3, em Contagem, na região metropolitana, ela e o marido trabalham fora durante o dia e não fica ninguém no local. No primeiro crime, nem o horário intimidou o ladrão.

Pelas câmeras da vizinhança, um homem entrou na casa às 11h40 e saiu 15 minutos depois carregando dois televisores, microondas, notebook, dentre outros aparelhos. “Uma das TVs nós compramos no fim do ano e estamos pagando as prestações até hoje. O prejuízo superou R$ 12 mil”, revela.

Nem mesmo a instalação de um sistema de segurança após o episódio impediu que a casa de M.C. fosse novamente arrombada, em 14 de junho. “Suspeitamos que o bandido tenha usado um bloqueador para que o alarme não disparasse. O pior é que mais de 60% dos moradores que conheço aqui já foram vítimas de arrombadores”, observa.

“Levaram os presentes que ganhamos de casamento. Chateia saber que uma pessoa entrou na sua casa, invadiu a sua intimidade”T.M., 31 anos. Fisioterapeuta teve a casa arrombada no bairro Sapucaias 3; o crime foi registrado apenas dois meses depois de ele ter se casado e ido morar no local

Desafios

As autoridades apontam a própria legislação como um dos maiores desafios para a redução desse tipo de crime, que prevê de um a quatro anos de prisão se não houver agravantes. Porém, há a possibilidade de cumprimento de penas alternativas, como tornozeleira eletrônica ou regime semiaberto, caso o condenado seja réu primário.

“Em Belo Horizonte, policiais prenderam um homem duas vezes em um dia praticando o mesmo crime. A lei que trata sobre o furto acaba sendo benevolente, favorece que o criminoso retorne às ruas e continue atuando”, avalia o major Flávio Santiago, chefe da Sala de Imprensa da Polícia Militar (PM).

A reincidência é comum. “Por não ser um crime tão grave no sistema penal, essas pessoas têm várias passagens por furto”, aponta o delegado Flávio Grossi, da Polícia Civil. 

Ele afirma que o arrombador busca facilidades, não desejando empregar a violência durante o ato criminoso. Por isso, tende a ser maior em janeiro, julho e dezembro, quando as pessoas viajam de férias e as casas ficam vazias. 

Perfil

Nas investigações, Grossi já percebeu dois tipos de arrombadores atuando na cidade: os especializados, chamados de “profissionais”, que têm técnicas para a prática do crime, e os “momentâneos”, levados pelo vício nas drogas. 

“Esse segundo grupo são os oportunistas, que cometem o crime quando veem facilidade. O que furtam trocam por uma pedra de crack, por exemplo”, explica o delegado.

Redes aproximam polícia e moradores e ajudam a impedir a prática dos crimes

Para coibir arrombamentos de imóveis nas férias, uma das dicas é se aproximar de vizinhos para que eles possam ser os “olheiros” enquanto o morador estiver fora. Nesses casos, especialistas consideram o projeto da Rede de Vizinhos Protegidos, desenvolvido pela PM, eficaz.

Que o diga a administradora Adrienne Moore, da Associação Pró-Interesses do Bairro Bandeirantes, na Pampulha, em BH. Segundo ela, o grupo mantido pelos moradores nas redes sociais já evitou crimes na região.

Na semana passada, inclusive, dois adolescentes foram apreendidos ao invadirem uma casa em reforma. “Alguém da rede acionou a PM pelo WhatsApp, que chegou em minutos e impediu o roubo. Considero um sucesso a parceria que estabelecemos com a polícia”, afirma Adrienne.

A moradora diz que dicas de segurança para evitar os arrombamentos são reforçadas pelos militares em vésperas de feriados e férias. “Participamos ativamente e não deixamos a responsabilidade somente nas costas da PM”.

Tecnologia

Comandante da 17ª Companhia da PM, major Fábio Almeida diz que 44 redes de proteção estão implantadas na região, que abrange 14 bairros, inclusive o Bandeirantes. Elas se dividem entre as de vizinhos, comerciantes, escolas e bares e restaurantes.

“A iniciativa vislumbra a proximidade do policial e a comunidade. A interação é diária, e o uso das ferramentas tecnológicas facilitam. Quando um morador percebe alguém em atitude suspeita, logo aciona o militar da rede e, muitas vezes, impede a prática do crime”, comenta Almeida.

Essa também é a aposta do 18º Batalhão da PM, responsável pelo policiamento no bairro Sapucaias 3, em Contagem. Em nota, a unidade informou que, além da viatura que faz o patrulhamento diário na região, existem as redes de vizinhos que se reúnem mensalmente para discutir as questões de segurança pública.

Discrição

A união de esforços, conforme o especialista em segurança pública Leopoldo de Vasconcelos, é fundamental.

“É preciso se aproximar deles como se fossem uma só família. Qualquer movimento estranho, alguém aciona a PM. Daí vem a rede de vizinhos, que é de suma importância, seja física e também pelas redes sociais”, avalia.

Mas se por um lado a tecnologia facilita, ela também pode ser ajudar o bandido. Segundo Vasconcelos, criminosos se valem de postagens nas redes sociais para saber se o morador está em casa.

“É importante não ficar postando fotos das viagens durante as férias. Curta o passeio, tire muitas fotos e deixe para publicá-las assim que voltar do descanso”.Editoria de Arte / N/A

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