Idade de menino, coração de gigante

Raquel Ramos - Hoje em Dia
21/09/2013 às 07:19.
Atualizado em 20/11/2021 às 12:37

Com apenas 16 anos, o estudante Rubens de Cássio Reis Marques fez uma proeza. Morador da zona rural de Careaçu, município do Sul de Minas com pouco mais de 6 mil habitantes, conseguiu mobilizar milhares de pessoas em prol de um nobre motivo: levantar fundos para o Centro Infantil Boldrini, de Campinas (SP). Unidade de saúde filantrópica especializada em tratamento de crianças e adolescentes com câncer ou doenças sanguíneas, a instituição atende cerca de 7 mil pacientes anualmente. Em 2012, o próprio Rubens fez parte desse número.    Depois de descobrir que um caroço na costela era um osteossarcoma – tumor maligno dos ossos –, ele recebeu no Boldrini o tratamento de que precisava, mas que os pais Márcio e Helenice Marques, um pequeno agricultor e uma professora, não podiam pagar.   De janeiro a outubro, viajou de três em três semanas a Campinas para as sessões de quimioterapia. Na cidade, ficava hospedado em uma casa de apoio parceira do centro de saúde. “Cheguei a receber aulas particulares no hospital porque o médico via que minha imunidade estava baixa e não me deixava voltar para o sítio”, lembra.    E foi entre as muitas viagens na ambulância da Prefeitura de Careaçu, acompanhado pelos pais, mas distante do aconchego do lar e dos amigos, que Rubens passou 2012. No fim daquele ano, recebeu a notícia da cura.   SEGUNDO TEMPO   Mesmo com o fim da quimioterapia, o garoto não deu a luta como encerrada. Com o coração agradecido pelo tratamento que recebeu, desejou, de alguma forma, devolver o gesto de bondade. “Durante o tempo em que estive lá, percebi que o hospital depende de muitas doações para continuar o trabalho. Quis fazer algo para contribuir”.   O plano era organizar um bingo que arrecadasse recursos para o Centro Infantil Boldrini. O que ele não esperava era que tanta gente “comprasse” a ideia. De amigos que acompanharam a história a moradores de cidades vizinhas que sequer o conheciam, várias pessoas se mobilizaram para ajudá-lo. Em abril, após dois dias de evento, exatos R$ 37.278,81 foram recolhidos e doados ao hospital. “Sensação de dever cumprido. São duas vitórias: o fim do tratamento e a chance de ajudar mais pessoas”, diz.   Dinheiro revertido em informação e conforto para pacientes e famílias   “Foi uma agradável surpresa. Rubens é apenas um adolescente, mas tem um olhar diferente. Ele carrega o espírito do desassossego, do inconformismo com a intensidade do sofrimento das pessoas. Essa preocupação nos sensibilizou”, afirma Silvia Brandelise, diretora do Centro Infantil Boldrini há 36 anos.   Embora muitas pessoas que receberam tratamento na unidade de saúde já tenham retornado para fazer trabalhos voluntários, essa foi a primeira vez que um paciente voltou com doações.   O dinheiro arrecadado foi utilizado para imprimir 30 mil livretos, divididos em 16 séries, com dicas e orientações para pacientes com câncer e parentes, um sonho antigo de Silvia. O lançamento será neste sábado (21), em uma festa no próprio hospital. “Nessa data (21 de setembro) comemoramos o dia do arco-íris. É uma data simbólica criada por nós para homenagear a vida. Só quem já passou pela corda bamba de um diagnóstico e tratamento consegue entender o que isso representa”.   Pacientes do hospital receberão os livros gratuitamente. A intenção é disponibilizar o PDF na internet para que ONGs e secretarias de saúde também aproveitem o material.

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