Influência dos genes paternos é mais forte que a dos maternos

Patrícia Santos Dumont - Hoje em Dia
23/03/2015 às 08:17.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:26
 (Rodrigo Duarte)

(Rodrigo Duarte)

Nove longos meses de uma espera ansiosa para conhecer o rostinho da cria e, surpresa: nasce “a cara” do pai! Quem ainda não passou por situação assim pode se preparar psicologicamente para enfrentar um possível conflito emocional. As chances de os filhos se parecerem genética e, por consequência, fisicamente, com o genitor são maiores do que as de “puxarem” à mãe.

O motivo, apontam pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade da Carolina do Norte (UNC), nos Estados Unidos, é que, apesar de herdarmos a mesma carga genética de um e do outro, a influência que sofremos de genes mutantes vindos do pai é maior do que a exercida pelos maternos.

Não bastasse guardar semelhanças de natureza biológica, a genética herdada do pai, mais expressiva, manifestaria-se também na aparência física, sugere o estudo. “O que foi visto, de fato, é que a maior expressão dos genes que vêm do pai pode ter uma série de implicações. Além das mutações patogênicas, que levariam a doenças, refletiria, ainda, nas características físicas”, interpretou a especialista em genética molecular humana Juliana Mazzeu, da Universidade de Brasília (UnB).

Semelhantes

Fazendo jus à pesquisa, o fotógrafo Rodrigo Duarte, de 43 anos, fez o herdeiro Lucas, de 6 anos, à sua imagem e semelhança. “Todo mundo diz, e basta ver as fotos, para perceber como somos mesmo muito parecidos. Uma vez mostrei a ele uma foto minha quando eu tinha cinco anos, e, para minha surpresa, meu filho disse que era ele mesmo. A mãe brinca que foi barriga de aluguel”, conta.

Coordenador do trabalho, o pesquisador Fernando Pardo-Manuel de Villena, alerta que os resultados são eficazes, ainda, para estudar doenças como as cardíacas, o diabetes tipo 2, a esquizofrenia e até alguns tipos de câncer. “É uma descoberta excepcional, que abre portas para uma área inteiramente nova de exploração em genética. Mutações ruins têm diferentes consequências em doenças, dependendo de como foram herdadas e como se manifestam”, afirma Villena.

Levantamento

Os testes, cujos resultados foram publicados na revista Nature Genetics (uma das publicações científicas de maior impacto mundial), foram realizados em camundongos híbridos. Em 80% dos animais foi detectado um desequilíbrio em favor da figura paterna.

“Sabemos, agora, que os mamíferos expressam maior variância genética do pai. Então, imagine que em certos casos, a mutação seja ruim. Se herdada da mãe, o gene não seria tão expresso como seria se fosse herdado do pai. Assim, a mesma mutação ruim teria consequências importantes em caso de doença se a herança genética vier do pai”, detalha Villena.

Coordenador do Serviço de Genética Médica do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Marcos Aguiar ressalta, porém, que a quantidade de genes herdados de pai e mãe continua sendo a mesma, independentemente da forma como se manifestam no organismo do filho, sobretudo em caso de mutações. “Todo ser humano herda a mesma quantidade de cromossomos de pai e mãe, um total de 23 pares. E cada cromossomo carrega um número muito grande de genes. O pai contribui com 20 a 25 mil genes”.
 

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