Ipê-branco pode ser usado para combater a gota

Patrícia Santos Dumont
12/10/2015 às 07:33.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:01
 (UFOP)

(UFOP)

Pesquisadores mineiros estão estudando as propriedades medicinais do ipê-branco, um dos tipos mais raros e de floração mais passageira da espécie, nativa do Cerrado brasileiro. O estudo, realizado na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), na região Central do Estado, avalia a aplicação dos extratos de folhas e da madeira da árvore no tratamento da gota.   Experimentos preliminares demonstraram a eficácia das substâncias presentes na planta tanto na redução das taxas de ácido úrico no sangue quanto na inflamação das articulações, principal manifestação da doença.   Prevalente em homens de 40 a 50 anos, a gota é, na maioria das vezes, resultado da hiperuricemia (acúmulo de ácido úrico) que leva a artrites, manifestadas sobretudo nos pés. Os tratamentos mais comuns incluem a combinação de medicamentos para regular as taxas da substância, produzida pelo próprio corpo, com drogas que tratam a inflamação.   Duplo benefício   Segundo a coordenadora do estudo, professora da Escola de Farmácia da Ufop, Dênia Antunes Saúde Guimarães, foi possível comprovar nos testes, realizados por enquanto em camundongos, que os extratos são benéficos nas duas frentes. Promovendo a inibição de uma enzima que transforma purina (presente em alimentos ricos em proteína como carnes vermelhas, frutos do mar e miúdos) em ácido úrico e extinguindo a inflamação das juntas.   “Fizemos um modelo mimetizando a gota, injetando na pata dos camundongos uma solução de ácido úrico e promovendo a inflamação, e depois tratamos com os extratos. Observamos tanto a redução dos níveis de ácido úrico no sangue quanto o fim da inflamação”,detalha.   O projeto, que faz parte de uma tese de doutorado, é apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e será defendido no ano que vem. Até que os experimentos de laboratório ganhem corpo e cheguem às farmácias em forma de medicamento fitoterápico, ainda há um longo caminho pela frente.   Toxicidade   A próxima fase da pesquisa inclui testes de toxicidade, estudos para avaliar se os extratos naturais provocam algum tipo de reação no organismo do paciente. Inicialmente, o remédio extraído do ipê-branco não demonstrou ser tóxico, mas, segundo Dênia, é necessário pesquisar a ação dos extratos em organismos vivos.

“Fizemos testes in vitro usando células sanguíneas e microcrustáceos, e vimos, previamente, que não há toxicidade para as células. Mas somente após testes in vivo é que poderemos atestar se a administração via oral afetará ou não algum órgão do corpo humano”, detalha.   Nos estudos de toxicidade em animais, órgãos como estômago, rins, fígado, intestino, coração e até o cérebro são avaliados após a administração do fitoterápico. Também são feitas análises sanguíneas para observar se há alteração.
Na prevenção, conhecer a causa da doença é essencial   Crises recorrentes de gota podem comprometer as articulações. O ideal é impedir que a dor, aguda e persistente por até uma semana, típica dos períodos de crise, se instale. A recomendação dos médicos é controlar os níveis de ácido úrico, evitando que a doença precise ser tratada.   Prevenir é relativamente simples. Alimentos ricos em purina, matéria-prima para a produção do ácido úrico, devem ser consumidos com moderação, sobretudo por quem já tem histórico de excesso da substância no corpo. Bebida alcoólica também precisa ser evitada.   “Conhecer a causa de uma doença facilita muito o tratamento. Se sabemos contra o que lutamos, nesse caso o ácido úrico, vamos tratar controlando os níveis no sangue”, afirma o reumatologista Geraldo da Rocha Castelar Pinheiro, coordenador da Comissão de Gota da Sociedade Brasileira de Reumatologia.   Segundo ele, crises frequentes, que desaparecem em até dez dias, podem deixar sequelas, já que, geralmente, afetam um mesmo tipo de articulação, as dos membros inferiores. “A medida em que a pessoa vai sendo acometida várias vezes e a mesma junta sobre um desgaste repetidamente, mesmo depois que a crise vai embora, aquela articulação não volta a funcionar tão bem”, alerta o especialista.   Nas mulheres pós-menopausa, as crises de gota aparecem com menor intensidade e, na maioria dos casos, atingem os membros superiores. Mulheres jovens raramente apresentam crises de gota, pois o estrogênio, hormônio feminino produzido durante a adolescência, estimula a excreção do ácido úrico pelos rins.

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